A pele que habito

A pele que habito

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

DIÁLOGO?

 

De acordo com a Wikipédia, a nova autoridade absoluta em conhecimento para a maioria da população, a definição de diálogo é essa:

 

Diálogo (em grego antigoδιάλογος diálogos[1]) é a conversação entre duas ou mais pessoas. Muitos acreditam erroneamente que "di" significaria "dois", e portanto a palavra se limitaria à conversa entre duas pessoas. No entanto, a palavra, que vem do grego, é formada pelo prefixo dia-, que significa "por intermédio de", e por logos, que significa "palavra". Ou seja, "por meio da palavra", designando "conversa" ou "conversação".[2] Embora se desenvolva a partir de pontos de vista diferentes, o verdadeiro diálogo supõe um clima de boa vontade e compreensão recíproca.[3] Como um gênero, os diálogos mais antigos remontam no Oriente Médio e Ásia ao ano de 1433 no Japão, disputas sumérias preservadas em cópias a partir do final do terceiro milênio a.C.[4]

 

Definição mais superficial, só se a gente perguntar para uma criança de 6 anos. Inclusive, se ela for inteligente, pode se sair com ideias mais úteis.

Essa palavra ‘conversação’ me remete a um filme antigo, dirigido por Francis Ford Copolla antes de eu nascer, que protagonizado por Gene Hackman, narra a história de uma espécie de detetive, contratado para espionar as conversas de um casal de amantes, lidando com um conflito ético em torno das consequências desse seu trabalho e com culpas passadas. O enredo do filme, feito no auge da Guerra Fria, se insere na lógica conspiratória que, na atualidade, novamente toma o horizonte do mundo, indicando que nada mais é o que parece, que as lutas de poder na verdade são sempre mais ocultas e mais misteriosas do que percebem as pessoas comuns, a desinformação definindo as relações, as sucessões no poder e pervertendo verdades fundamentais como a liberdade, a democracia, a justiça e até a condição humana. Vale a pena assistir ou re-assistir, já que nunca me pareceu tão atual.

Os jogos de poder que vemos todos os dias diante dos nossos olhos, recheados de intrigas e mentiras, de narrativas ilusórias ou mal interpretadas que têm a explícita intenção de nos distrair, a utilização espúria de uma mídia, na maior parte vendida, e a hipocrisia daqueles que pregam o diálogo (sempre unilateral, entre seus próprios pares, com a intenção nunca de gerar discussões verdadeiras, mas de retroalimentar essa ou aquela trama ideológica), unidos a uma população, na maioria muito ignorante (por opção, já que a preguiça e o vício em entretenimento vazio impera na vida de muitos, ou por condição, já que nada tem sido feito em prol de uma redução séria da desigualdade social e de uma distribuição justa de oportunidades), vêm construindo uma onda de caos social, político e existencial cuja consequência óbvia será a morte de todos os maiores e melhores ideais humanos e a instalação de algum tipo de governo autoritário, que seja de uma orientação mais à esquerda ou mais à direita, será o marco definitivo do extermínio da liberdade individual e do conceito que temos de indivíduo e de sujeito.

E ao incauto advirto: Não há, no Brasil, diferença prática entre radicais de esquerda e de direita. Aliás, não há diferença prática entre radicais de coisa alguma. O mote primeiro na vida de um radical é o desprezo e o desrespeito absoluto pela escolha do outro, quando difere da sua. Quando eu desprezo e desrespeito a escolha do outro, porque é diferente da minha, quando eu corto relações reais com ele, a ponto de não mais vê-lo como um outro ser humano, segue-se a um assassinato simbólico que, em muitos dos casos, acaba virando assassinato real. Haja visto os milhões de pessoas mortas na História por conta de divergências ideológicas.

Num contexto como este, onde ninguém é capaz de confiar em ninguém, onde ninguém se mostra confiável, onde cada palavra é arma de denúncia ou de puro convencimento, como compreender e exercer a ideia de diálogo? Como ter coragem para dizer o que se pensa e acredita? A quem levar nossas dúvidas?

Falemos agora do nosso microcosmo pessoal, trazendo o tema para a experiência prática de cada um, para nossas vidas pequenas e nosso rol de relações diretas:

Nunca antes tivemos pessoas menos aptas a ouvir e mais ansiosas por falar. Nunca antes tivemos mais mestres (sem conteúdo, mas sem crítica quanto a isso) e menos discípulos. Nunca antes tivemos mais pressa e caminhamos tão pouco. Nunca antes conhecemos tanta gente e fomos conhecidos por quase ninguém (de verdade).

Quanto amigos você já perdeu por dizer o que você realmente pensava e sentia?

Quantas pessoas você ‘cancelou’ por dizerem o que realmente pensavam ou diziam?

Quantas conversas vazias de significado, mas cheias de clichés ideológicos você já teve ou presenciou?

Você ainda sabe opinar sobre alguma coisa sem ler ‘manuais’ antes?

De quanto de sua identidade você teve que abrir mão para se inserir no chamado ‘coletivo’? Essa espécie de entidade soberana que tem definido desde o estilo do seu cabelo até quem você pode amar, em alguns casos até o gênero (ou falta de gênero) você deve assumir para não ser excluído.

Aliás, quanto de exclusão você teve que adotar na sua vida em prol da inclusão?

Quanto dinheiro você admite que se roube do país em prol de ‘causas sociais’?

Quanto de floresta você admite que se queime em prol do ‘crescimento econômico’?

Quanto de desumanização você admite em prol da luta por ‘direitos humanos’?

Quanto de Cultura e de Arte você admite destruir em prol dos ditos ‘valores A ou B’?

Quanto de conhecimento acadêmico ou de talento artístico você admite desqualificar em prol da defesa deste ou daquele Zé Mané do partido escolhido?

Quanto da sua família você admite perder em prol da defesa da opinião do fulano, ciclano ou beltrano que não te botou no mundo, não te criou e nem sabe que você existe?

Quanto de si mesmo você admite matar em prol do seu ‘coletivo’, ‘irmandade’, ‘turma’, ‘arraial’ou seja lá que nome você prefira dar?

Já fui muito criticada pela minha fé cristã.

Recebo reprimendas tanto dos de fora, que não aceitam minha escolha e questionam até minha inteligência por causa dela, jamais admitindo que muitas vezes a falta de inteligência pode ser deles, por não conhecerem nada sobre cristianismo, exceto o que suas cartilhas ideológicas os ensinaram. Recebo reprimendas também de alguns de dentro que muitas vezes me consideram aberta demais justamente ao diálogo e ao convívio com pessoas de outras opiniões.

O grande fato, porém, é que no cristianismo você só tem um Senhor, um Ser Soberano, perfeito e realmente superior a você em tudo, infalível, de suprema sabedoria e cujo maior propósito é seguir te aperfeiçoando a ponto de criar em você uma imagem perfeita dEle mesmo – Amor puro, Verdade plena, Justiça perfeita, Conhecimento infinito. Alguém cuja mensagem é de perdão e de aceitação absolutas, de comunhão plena com meu ser individual e que deseja de mim a melhor versão de Danielli possível, se relacionando com o sujeito que existe em mim, não o negando. Essa relação de espiritualidade me torna mais apta ao diálogo com outras pessoas, não menos, exatamente porque diante da perfeição dEle me vejo tão imperfeita e tão ignorante quanto qualquer um de meus conterrâneos, de modo que me torno capaz, verdadeiramente, de ouvi-los, de considerar suas necessidades e anseios, de realmente me envolver com elas.

Obviamente, como tudo nesse mundo, o cristianismo também tem se tornado bala de canhão, meio para fins espúrios, tela de alienação, caminho para a perdição, inclusive para a alma (vide escândalos de pedofilia, flordelis, catedral do Divino, as Cruzadas, as lutas entre católicos e protestantes e tantas aberrações pela História...). Isso sempre acontece quando a luta pelo poder, a doutrinação ideológica e a corrupção humana (muitas vezes camuflados em discursos convincentes) se sobrepõe à experiência individual (e no caso, espiritual) real. Tenho visto inúmeros amigos meus cristãos se perdendo ao querer transformar o Reino de Deus num reino desse mundo, matando e morrendo por valores ditos cristãos e sendo presas fáceis de qualquer um que erga uma bandeira ‘cristã’, caindo em todo tipo de falácias que só visam criar celeiros de eleitores, cegados para as práticas espúrias (e cada vez mais explícitas) dos políticos...Em tempo, já vi ‘esquerdista’ e ‘direitista’ em missa e em culto, pedindo votos e jurando apoio à igrejas ( apoio que geralmente se traduz em pastor/líder de bolso cheio e banco novo no templo). #ficaadica

 

Diálogo significa ouvir e falar, falar e ouvir, ouvir e falar, falar e ouvir.

Ouvir com paciência, atenção e prudência. Ouvir com um compromisso real de compreender o ponto de vista do outro e, inclusive, refletir no quanto ele tem razão. Ser capaz de admitir a fragilidade de seus próprios argumentos, lembrando que nenhuma opinião é destituída de fragilidades, por isso o diálogo é importante, porque juntos sempre somos mais fortes e podemos construir ideias mais plenas e eficazes.

Falar com propriedade daquilo que realmente se sabe, estudar antes de opinar seriamente, ler tudo o que se sabe sobre aquele assunto, levar a sério sua própria palavra, respeitar a si mesmo colocando-se com convicção sobre coisas sobre as quais realmente se refletiu. Não banalize suas opiniões. Você é o que você pensa!

Diálogo é exercício de respeito e exige muita PACIÊNCIA!

Nesse mundo de aceleração, nade contra a corrente, siga devagar, respeite seu ritmo. A pressa nos faz cometer erros, fazer as coisas malfeitas, ter atitudes precipitadas, fazer escolhas ruins e defender opiniões pouco estruturadas. A rapidez nos obriga a comprar causas que não são nossas, a pressão nos coloca em lugares difíceis de sair. Nunca aceite uma única versão das histórias, dos fatos, das coisas – aprenda a ler tudo sobre tudo.

Acima de tudo, cure seus traumas psicológicos, sua carência afetiva e seu complexo de inferioridade antes de se entregar a relacionamentos, a causas, a seitas, a ideias. Essas coisas definem mais suas crenças e lutas do que você imagina.

 

Lute, resista, espere!

Não se perca!

 

 “...tudo pede um pouco mais de calma...” Lenine