A pele que habito

A pele que habito

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Mestre e Margarida, Yeats, Hotel Ruanda e uma mistureba...

“...Ela, aliás, afirmou posteriormente que não foi nada disso, que, claro, havia tempos que nos amávamos, mesmo sem nos conhecermos, sem nos vermos, que ela vivia com outra pessoa...e eu então...com aquela, como é mesmo...Conversávamos como se tivéssemos nos despedido no dia anterior, como se nos conhecêssemos havia muitos anos.” – O Mestre e Margarida (Mikhail Bulgákov)


“Venha comigo, leitor! Quem lhe disse que não existe no mundo o verdadeiro, o fiel, o eterno amor? Pois que cortem a língua desse mentiroso infame!” - O Mestre e Margarida (Mikhail Bulgákov)


Fico sempre me surpreendendo positivamente ao ler e ouvir histórias assim, me recuso a relativizar o amor ( e falo aqui de todos os tipos de amor), a empobrecê-lo, diluí-lo em neuroses e desesperança, talvez por isso acabe sozinha nesse nosso mundo de superficialidades, mas nem me importo, seguramente prefiro isso à mediocridade! Eu sinto lá bem dentro de mim um amor muito grande, pleno, intenso e vigoroso, de uma pureza e inocência de criança e de toda beleza e maturidade de uma mulher adulta, ele está lá, guardado como um perfume raríssimo, esperando que seu destino se revele.

Naquilo que escolho chamar de “Era do Raso” como explicar essa minha necessidade de profundidade? Sofro muito pelo que vejo ao meu redor, pelos desperdícios, por toda energia gasta em tolices, pelo tempo precioso gasto em nulidade....Daí lembrei de um trecho de W.B.Yeats que sempre lia por aí, sem nunca na verdade absorver por completo:

“Aos melhores falta convicção e os piores estão repletos de intensidade passional”.

Por que tudo que é infame, pobre, vazio, tosco, idiota ocupa tanto espaço? Por que gastamos tanta energia defendo idéias inúteis, mantendo relações inúteis, vivendo coisas inúteis? Afinal, como diria o C. S. Lewis, tudo que não é eterno é eternamente inútil.

Tantos de nós têm a dimensão exata do que realmente importa na vida, mas somos tão fracos em defender essas coisas, tão envergonhados, tão constrangidos, sussurramos nossos ideais como se fosse segredo de alcova, para não ofender ninguém, para não sermos considerados algum tipo de fundamentalista ignorante, alguém que não tolera, que não compreende, que exagera, que foge da realidade...mas de qual realidade falamos? A de que envelhecemos dia após dia? Que cada segundo passado é um segundo perdido? Há tanto a ser feito, tanto a ser dito, tanto a ser vivido, tanto a ser aproveitado...Todos os dias estamos diante da escolha: Que tipo de vida estamos vivendo? Estamos vivendo em consciência ou em displicência?

Para os crédulos, já digo: - Os tímidos não herdarão o reino de Deus!

O que quero dizer com tudo isso? Virei alguma maluca moralista defensora de ideais inatingíveis (lembrando que ideal é um norte, não vamos atingir aqui, ele serve para nos guiar ao crescimento)?

Não. Apenas perdi a vergonha de defender os valores que realmente trazem saúde e benefícios a uma sociedade caída, porque estamos aqui para ser luz, não importa o quanto de trevas nos cerquem, não importa que final está reservado para esse mundo.... E digo isso não por me julgar alguma santa ou qualquer coisa parecida, mas exatamente porque sei o quanto preciso de Graça, apenas da Graça, preciso tanto dela quanto todo resto deste mundo, e se temos recebido Graça temos que compartilha-la, até porque são os misericordiosos quem herdarão a terra.

Passei algumas semanas em contato com a natureza, primeiro perto do mar, depois perto da montanha. Tanta beleza nos inebria, nos cura, nos renova, nos transforma, é pura terapia! Vi tanto da Glória de Deus em cada folha, em cada flor, em cada borboleta...Vi tanto da Glória de Deus nos olhares carinhosos das minhas gatinhas de estimação...Vi tanto da Glória de Deus na brisa fresca e pura do fim de tarde de frente para o mar...E aí fico me perguntando: - Nós que preservamos e admiramos tanto nossas obras primas e nossos artistas, como podemos ser tão displicentes com a natureza, obra de arte das mãos de Deus? Devíamos ser os primeiros a preservá-la, não por pensar no futuro do planeta (coisa meio megalomaníaca para quem mal organiza o armário), mas tão somente por respeito, por gratidão, por amor, por reconhecer que a natureza proclama a Glória do poder de Deus. Qualquer cristão que discordar disso, vá ler as Escrituras, ok? Lá diz que toda natureza aguarda a redenção pela Graça de Deus... Estou tão cheia desse monte de gente com discurso pronto e vida cristã nenhuma, na boa, uma bando de fariseus que fica repetindo regras e vivendo igual ou pior a quem não acredita em nada...

Em tempo:
Assisti Hotel Ruanda pela primeira vez semana passada, sabia da história pelo que havia lido, pelo que minha mãe me contou na época (eu era um menina avoada em 96), pelo que os missionários da África traziam, mas nunca tinha realmente me deparado com a coisa em si. O que senti? Vergonha e medo. Vergonha: de ser humano, de ser ocidental, de ser branca, um monte de vergonhas injustificadas, porque afinal existem seres humanos do bem, orientais também fazem maldades, nem todos os brancos da Terra são covardes, interesseiros e egoístas...Mas senti tanta vergonha que não conseguia conter o choro! Medo por ser um ser humano frágil e poder ser assassinada por um facão, por ser uma mulher pequena e indefesa que pode ser estuprada por um louco, medo pelos meus sobrinhos, pela minha família, pelos meus amigos (os de perto e os de longe), medo porque em algum outro país eu poderia ser morta apedrejada por ter cabelo curto, por usar shorts e biquíni, por ensinar homens, por ser cristã, por não ser capaz de abaixar a cabeça diante de absurdos, enfim...Pela primeira vez na vida agradeci por ser brasileira e viver em um lugar onde ainda posso ser eu mesma sem correr risco de vida declarado! Chorei muito porque sempre amei a África, chorei por um povo que há milênios vive em miséria e pelo qual nunca fiz nada de útil... A pergunta é: - O que os cristãos estavam fazendo quando 500 mil pessoas morreram a facadas naquela noite? Provavelmente discutindo se é lícito ou não fumar e beber, bater palmas ou não no culto, se padre deve ou não casar, se protestante vai para o céu, se católico vai para o céu, de divorciado pode casar outra vez, enfim, todo tipo de coisa eternamente inútil.

Comecei esse texto falando da profundidade do amor e encerro falando da superficialidade do que chamamos de fé. Desculpa, gente, mas fé sem obras é morta! Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor ( e se você não entende bem o que é amor, leia 1 Coríntios 13 que é muito mais do que música do Renato Russo, ou então leia os Evangelhos)! Não me venha falar de Cristianismo se o máximo que você consegue chegar dentro dele é discutir qual a melhor forma de governo. Repito: - O que não é eterno, é eternamente inútil!

Sabe o que é eterna? A alma humana, essa é eterna, para a perdição e para a maldição. É com ela que devemos nos preocupar, sempre a começar de nós!

Sei que retomo meio panfletária, mas muita coisa ainda virá por aí...Não percam as próximas postagens dessa psicóloga por formação, cristã inconformada recém nascida há décadas, mulher com mais de 30 que ainda não encontrou o amor da vida, leitora adicta, cinéfila inveterada, musicista caloura, ecologista por fé, defensora da causa das crianças e dos adolescentes, defensora da causa da mulher em lugares onde ainda existem abusos, rebelde por natureza e esperançosa pela graça...rs...