A pele que habito

A pele que habito

sábado, 6 de março de 2010

Sexos Frágeis

Existe uma réplica da Pietá na Igreja Matriz de Caxias do Sul (Serra Gaúcha), cidadezinha aliás, muito aprazível na qual já sonhei morar um dia por causa do clima (muito frio e seco, adoro!) e por causa dos italianos que moram lá...rs..Essa igreja tem muitas coisas bonitas, além da escultura tem toda a via crucis retratada em 12 ou 13 quadros, não lembro mais, do artista Aldo Locatelli. Recordo que ao ver a estátua branca, em tamanho original, mostrando Jesus morto nos braços de Maria, o que mais me impressionou foi vê-la carregando um homem quase do seu tamanho, ou talvez maior do que ela, como se fosse um bebê.

Se o maior de todos os homens repousou fragilizado nos braços de uma mulher, que diremos de nós, pobres mortais?

Sábado passado assumi para mim mesma, depois de muita teimosia, que meu GIGANTESCO pai (não em forma física, porque ele é do meu tamanho e eu não sou nenhuma grandeza...rs...mas em presença de espírito) agora precisa que o acolhamos nos braços e cuidemos dele. Confesso que no início tive muito medo, me senti desamparada no mundo, indefesa mesmo, o que a filhinha do papai fará sem ele? Depois me dei conta de que, graças a ter sido a filhinha de um homem como ele, sou plenamente capaz de cuidar de mim mesma, ajudar minha mãe e cuidar dele enquanto precisar.

Engraçado que passamos a vida desejando um príncipe encantado, forte e vigoroso com sua espada em riste (em todos os sentidos), mas no fim, do que precisamos mesmo é de um ser humano, alguém que possa compreender nossas fragilidades e compartilhar conosco as suas. Todos nos iludimos desejando um sr. ou sra. Perfeição, mas no fim só precisamos mesmo é de outra pessoa. Conta-se de uma imagem de Jesus Cristo crucificado, acho que numa igreja da Espanha se não me engano, que mostrava todo o flagelo de seu sacrifício, abaixo dela começaram a colocar doentes que sofriam da peste negra e muitos melhoravam ao olhar a imagem porque se identificavam com o sofrimento de Cristo e sentiam-se compreendidos, este consolo melhorava seu sistema imunológico e seu humor, trazendo melhoras no quadro clínico. Aprendi isso na faculdade, em Psicossomática!

Ontem estava assistindo o filme “A Partida”, muito indicado por alguns dos amigos que mais amo no mundo, filme lindo sobre vários aspectos, simples, sincero, muito humano... Daí tem essa cena onde depois de uma experiência muito difícil o personagem principal se agarra à esposa, cheirando e pegando nela como se quisesse respirá-la, absorvê-la, trazendo para dentro de si tudo que ela tinha de cura, de conforto, de purificação, de vida. Fiquei emocionada! Fazia tempo que não via alguém expressar assim o quanto precisava de outra pessoa...Hoje em dia somos treinados a nos defender dos outros, dos nossos sentimentos, daquilo que as pessoas que amamos representam para nós, e se agimos de outra forma, dizendo e demonstrando o que sentimos, somos vistos como malucos, como exagerados, como imaturos, como fracos!

Um conhecido esses dias disse que nunca devemos mostrar a alguém o quanto gostamos dele(a) porque senão nunca conseguiremos que essa pessoa retribua o que sentimos na mesma proporção. Fiquei pensando em várias coisas:

1) Quando criamos essa idéia quantitativa para os sentimentos? Como podemos pesar ou medir o que sentimos e o que os outros sentem?
2) Por que nos últimos tempos, quando sentimos que uma relação não vai bem ou que estamos perdendo quem amamos, ao invés de investir na relação, conversar, tentar rever atitudes ruins, tentar reconquistar a pessoa e tudo mais, optamos pelo caminho da neurose, enfiando outras pessoas no meio, fazendo ciúmes, criando estratagemas infames, destruindo toda a pureza que existe no amor?
3) Quando ficamos tão vazios e inseguros conosco mesmos a ponto de achar que precisamos ser outra coisa para ter quem amamos? Aliás, de que adianta ter alguém conosco se teremos que viver fingindo ser outra pessoa para manter o relacionamento? Quem se sente amado verdadeiramente assim?


Só existe uma coisa capaz de manter uma relação de amor funcionando e se resume a uma só palavra: GRAÇA!

Amar é acolher, aceitar e compreender!
Amar é perdoar!
Amar é ser leal e fiel!
Amar é acreditar no processo de crescimento das pessoas e poder esperar com paciência que certas coisas cheguem aos lugares certos!
Amar é poder pegar no colo e receber no colo quando for necessário!
Amar é estar presente e ficar do lado quando as fragilidades forem maiores que as forças!

Somos todos frágeis, todos cheios de defeitos, todos carentes, todos imerecedores...Mas a GRAÇA nos torna capaz de perdoar e acreditar nos pequenos e grandes milagres que o amor opera em nossas vidas e nas vidas das outras pessoas.

Tanto o Cristianismo quando a Psicologia dizem que o amor é fundamental para a cura da alma e do corpo e para a manutenção da vida, até os animais amam, quem não acredita venha conhecer minhas gatas (em especial a Lana que quando estou em casa não sai do meu lado nenhum um só segundo, e olha que ela adora ficar no jardim comendo as flores...rs..), está mais do que na hora de assumirmos nossas fragilidades, parar de ter medo delas e começar a dizer para as pessoas o quanto elas importam para nós, porque talvez um dia não tenhamos mais a oportunidade de dizer. Por incrível que pareça, e embora eu seja tímida, nunca deixei de dizer para as pessoas o quanto eu as amava, algumas vezes fui mal tratada, ignorada e mal compreendida, mas mesmo assim, nunca me arrependi, amor é um presente que devemos dar, se as pessoas estão prontas para receber é uma outra questão, mas no tempo certo a semente germina e faz o bem, não importa muito como, isso Deus é quem cuida!