A pele que habito

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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A Garota Menos-Valia

Uma vez que as leis do consumo desenfreado andam regendo também nossa vida afetiva, fui inspirada a procurar e acabei encontrando na economia marxista, um conceito perfeitamente adequado para ilustrar um comportamento feminino cada vez mais observado na escolha e manutenção dos parceiros amorosos. Vale citar que embora muito mais raros, existem casos de homens apresentando características semelhantes, apenas com algumas variações...
(Sorry, Max Weber, mas em se tratando de economia amorosa o Marx fez bem mais sentido...rsrs...!!!)

• Primeiro, uma psicopada de teoria:

De acordo com Marx toda a fonte de valor é o trabalho.

Para compreendermos trabalho, usaremos a definição do Dicionário do Pensamento Social do Século XX: O trabalho é o esforço humano dotado de um propósito e envolve a transformação da natureza através do dispêndio de capacidades físicas e mentais.

Sendo assim “...se uma pessoa achar por acaso numa caverna um pedaço de ouro, ele não terá tanto valor, porque não tem trabalho algum agregado nele. Inversamente, se um sujeito passar 30 anos cavando um buraco, será um buraco incrivelmente caro, porque tem muito trabalho agregado.”

Se pensarmos que o objetivo de conquistar, construir e manter uma relação exige uma total determinação e enorme investimento de tempo e energia (física e mental), bem como disponibilidade constante para a transformação e o desenvolvimento de nossa natureza psíquica, podemos perceber o enorme TRABALHO que envolve um relacionamento.

(– Pois eh, meus caros, não é para fracos!!!... rsrs...)

Voltando para os economistas, ouvimos muito sobre a tal da MAIS VALIA, basicamente a realidade de que os trabalhadores produzem tudo, mas só recebem parte do que produzem. A MAIS VALIA seria o trabalho não pago do proprietário, idéia muitíssimo divulgada e vivenciada por todo o chamado proletariado.

Vamos nos ater aqui ao conceito oposto, ao quase inédito fenômeno da MENOS VALIA. Imaginemos que os empresários em um determinado país sejam idiotas o suficiente para fazerem apenas investimentos errados, e que gerem prejuízo, porém os trabalhadores continuassem recebendo o salário integral, mesmo que o empregador incorra em prejuízo. Estaríamos assistindo ao inacreditável fato de trabalhadores recebendo mais do que produziram.

Não sou nenhuma administradora, mas imagino que a Menos-Valia não seja das coisas mais geniais do mundo dos negócios, a menos que o burguês tencione se tornar em bem pouco tempo, algum tipo de filantropo falido (..rsrs..).

Esquecendo a política de classes e nos focando nas dinâmicas das relações podemos afirmar que não raro, a Menos-Valia anda movendo nosso moinho. Quem nunca se pegou investindo todas as fichas numa relação para lá de sem benefícios? Que garota (o) nunca fez todo o trabalho sozinha (o), e ainda pagou o salário de seu proletário integral e com comissão?? (é rir para não chorar)

A questão óbvia é: Por que fazemos isso? Por que insistimos em fechar os olhos para nossas necessidades, direitos e anseios? Por que aceitamos perder tudo, nos magoar, muitas vezes pagando o alto preço do nosso tempo (e meninas aprendam: TEMPO PARA UMA MULHER É MAIS CARO QUE PARA UM HOMEM, especialmente se pretendemos ser mães, isso não é algo negociável, isso é a lei da natureza) investindo em relações obviamente e completamente falidas? Por que escolhemos para amar (e na lógica atual amor é moeda) alguém que não nos amará como precisamos? Não é muito inteligente em qualquer época, mas não faz o menor sentido se levamos em conta a filosofia de nossos tempos (consumismo, egoísmo, individualismo), faz?

Dissecando:

Em geral garotas Menos-Valia “contratam” trabalhadores imaturos, egoístas, insensíveis, infiéis, inseguros, ferrados na vida e narcisistas, pessoas que por alguma limitação afetiva e/ou cognitiva não conseguem se conectar com as necessidades de outra pessoa, nem tão pouco com as próprias. São meninos superficiais ou pseudo-complexos, de ânimo dobre, sempre mudando de interesse e opinião, irresponsáveis, infantis, muitos com sérias dificuldades em manter-se num trabalho, muitas vezes mentirosos contumazes, com valores geralmente opostos aos delas e total indisponibilidade emocional - quadro de horrores que promete uma constante montanha-russa emocional, ambivalência, ciúmes, medo de abandono, rebaixamento da autoestima, insegurança, perda de referenciais e toda a salada mista que uma relação sadomasoquista merece. Já conheci garotas Menos-Valia que literalmente só tinham o namorado com elas quando estes estavam desempregados e precisavam de alguém para pagar as baladas e motéis, e sim, garotas Menos-Valia costumam ser bem sucedidas profissionalmente.

Algo dentro dessas meninas anseia por esse tipo de tratamento, elas não são tolas, sabem exatamente onde estão se metendo, a escolha não é aleatória, algumas inclusive tendo toda uma coleção de namorados “losers” em sua jornada afetiva. Essas meninas, conforme tenho observado, geralmente são: bonitas, inteligentes, bem sucedidas, amáveis e companheiras maravilhosas, muitas tendo inclusive muitos fãs bacanas interessados, mas elas optam pelo “trabalhador incompetente”, investem tudo nele, são constantemente prejudicadas, subestimadas, desamparadas, destratadas, exploradas, muitas vezes enganadas, muitas vezes até espancadas, toda hora tendo que começar do zero, dando literalmente tiros no próprio pé...Lembrando que existe todo um gradiente de “Garotas Menos-Valia”, podendo ir desde aquela que namora o clássico meninão que nunca amadurece, nunca a assume e nunca se compromete com ela (conheci uma que namorou 15 anos um cara destes, só para ser abandonada quando ele finalmente decidiu se casar com uma fulana mais nova e mais rica em apenas 3 meses de relacionamento) até as que sofrem abusos físicos propriamente ditos.

Obviamente, relações amorosas deveriam existir para que nossas vidas fossem melhores, todos concordam que o amor deve ser algo positivo, que contribua para uma melhoria em nossa vida, nos casos citados fica claro o prejuízo que tais relacionamentos acarretarão a curto, médio e longo prazo. Presumindo que as garotas Menos-Valia não tenham problemas de ordem cognitiva, parece claro que este comportamento se baseia em neurose.

Numa definição rasa as neuroses são quadros patológicos de origem psíquica, quadros muitas vezes ligados a situações externas na vida do indivíduo, os quais provocam transtornos na área mental, física e/ou da personalidade. De acordo com a visão psicanalítica, as neuroses são fruto de tentativas ineficazes de lidar com conflitos e traumas inconscientes. O que distingue a neurose da normalidade é assim a intensidade do comportamento e a incapacidade do doente de resolver os conflitos internos e externos de maneira satisfatória .

Embora responsável sempre por considerável sofrimento, toda neurose tem um ganho para o psiquismo, um foco de prazer, algo que vicia a dinâmica mental impedindo o sujeito de libertar-se de um tipo de comportamento que o prejudica de forma clara. Passei a procurar qual seria o tal ganho da garota Menos-Valia, que tipo de satisfação interna a mantinha escrava de uma situação tão humilhante e insatisfatória.

Quando pensamos nessas garotas temos pena, achamos que elas AMAM DEMAIS e foi aí que descobri o segredo dessas relações, não é AMOR que prende uma garota Menos-Valia ao seu rapaz que não vale nada, é o PODER (e isso vale igualmente para os meninos que só namoram tranqueiras, piriguetes e vagabundas...Eu chamo de “Síndrome de Oséias” - profeta bíblico que Deus chamou para casar com uma prostituta para ilustrar a relação dele mesmo com o rebelde povo judeu da época...e abaixe a bola garoto Menos-Valia, você não é profeta, não passa de um cara emocionalmente complicado...rsrs...).
Quanto mais cheio de defeitos um namorado for, mais virtuosa parecerá a mulher que o tolera (o mesmo valendo para o sexo oposto), ela o levanta quando está caído, o tolera quando ninguém mais tolera, cuida dele quando ninguém mais cuida, o ama quando ninguém mais ama. Ela é toda amor, é a própria Pietá encarnada e isso faz com que ela se sinta ótima, forte, guerreira, cheia de qualidades, uma verdadeira supermulher e essa sensação é por demais agradável, é viciante! Quanto pior for o namorado, melhor ela será em comparação...

Toda garota Menos-Valia sente um prazer indizível com seu papel messiânico! Ela vai pegar aquele traste e dar um jeito nele, nenhuma outra garota conseguiu, mas ela vai conseguir. Para isso ela sofre, doa, aceita injúrias calada, ama, perdoa, esquece, recomeça, sustenta, atura as piores injúrias e tudo isso por quê? Porque no fim das contas ela será reconhecida, talvez nem pelo fulano, que na melhor das hipóteses casa com ela e continua o mesmo traste fingindo que se endireitou, mas por todas as pessoas sensíveis com quem ela convive, por ela mesma, por outras garotas Menos-Valia. (Quem não acreditar em mim leia o livros MULHERES QUE AMAM DEMAIS, ou visite as reuniões delas...Vocês terão uma enorme surpresa!)
Dia desses estava dando um giro pela TV e parei no Multishow para ver uns clipes, para variar aqueles com garotas semi-nuas rebolando e caras com cara de chefe do tráfico cantando, já ia mudando de canal quando a letra da música me chamou a atenção, o resumo da ópera era o seguinte: o cara não cuidava dela, não dava presentes, não era fiel, não aparecia quando ela precisava dele, mas ele a prendia pelo fabuloso sexo que ele lhe dava...rsrs...Comecei a rir porque, doce ilusão, mal sabia ele que não passava do “mino” de uma garota Menos-Valia!!!

No fundo é uma neurose daquelas, originada por uma vida toda de relações de amores ambivalentes, sabe aquelas menininhas lindas e doces, cujo papai mescla dias de amor incondicional com episódios de grosseria e desatenção? Sempre tendo que adaptar-se aos pólos opostos dos outros, ela criou todo um mecanismo de sobrevivência que é difícil de abrir mão, ela não sabe lidar com relacionamentos estáveis, eles parecem sem graça, descorados, destemperados: Nossa, o namorado liga todo dia com saudade? Ela não precisa se preocupar com outras garotas? Ele deseja um compromisso verdadeiro e não vê isso como uma ameaça para sua liberdade? Ele trabalha? Aparece quando combina? Ele se preocupa genuinamente se ela adoece? Ele se interessa pelo que ela pensa e diz? Ele sabe o que ela gosta de comer? Ele lembra dos aniversários? É carinhoso? É gentil? Dorme abraçado? Não precisa ficar vendo peitudas siliconadas para ter vontade de transar com ela? Adora tê-la por perto, mesmo que seja só pela companhia? Assim não dá, ela não sabe depender de alguém, não sabe viver com a guarda abaixada, não aprendeu a se entregar e lidar com a paz...Isso não tem PAIXÃO! É muito tranquilo, ela precisa dos picos de humor, precisa da indecisão, precisa do desafio constante, das brigas sem fim, da autoestima rebaixada, da dúvida, da decepção, do desencanto. Como viver uma relação saudável com alguém do bem?

Ela precisa do doentio, do pepino torto para poder endireitar, do cara pouco confiável, das feridas constantes que deixam cicatrizes eternas, do medo, do louco. Ela não sabe amar, ela não aprendeu, ela sabe apenas tirar braço de ferro, ela sabe só dominar ou ser dominada, só sabe lutar, só sabe se defender. Quando a gente tem muito medo pode escolher viver ameaçada, sabendo que dali não se pode esperar outra coisa além do mal já conhecido, parece mais seguro do que confiar, arriscar ser feliz e se dar mal sem aviso.

A garota Menos-Valia NÃO SABE SER FELIZ!

A boa notícia é que isso tem cura, podemos começar MUDANDO RADICALMENTE O PADRÃO DE ESCOLHA AMOROSA: Se sentiu atraída por uma tranqueira? Já caia fora, você sabe que ele é tranqueira, sempre soube quando escolhia uma tranqueira, então dê no pé e nem olhe para trás.

O próximo passo está em ABRIR MÃO DA FALSA IDÉIA DA SUPERMULHER: Enterre a madre Tereza - Você não é e não tem que ser perfeita! Você tem muitas qualidades, mas também muitas limitações e precisa de alguém que cuide sim de você, cuide na mesma proporção que você pode cuidar dele.

NÃO ACEITE MENOS DO QUE VOCÊ OFERECE: Naturalmente somos diferentes uns dos outros e cada um trará sua própria contribuição para um relacionamento, mas tem que ser proporcionalmente equivalente ou um dos lados vai ser sempre lesado e isso não dá certo.

VOCÊ MERECE SER E MERECE TER UMA PESSOA INTEIRA, alguém que deseja estar com você e permanecer com você. Erros acontecem, pessoas são feitas de limitações e fraquezas, os melhores casais passam por dificuldades, mas só nos sentimos felizes e esperançosos em um relacionamento em que a intenção íntima e verdadeira de ambas as partes é que o relacionamento dê certo e seja saudável, assim ambos se esforçam pelo bem do casal e a possibilidade de dar errado é infinitamente menor do que aqueles que já entram na relação apavorados e querendo sair.

HOMENS de verdade, homens do bem, homens afetivamente viáveis, homens de caráter e amorosos existem. Conheço vários, alguns estão na minha família, outros são maridos de amigas ou meus amigos de longa data, outros são meninos que estão crescendo e se tornando homens bons, outros ainda são homens que tomaram novos rumos em suas vidas porque perceberam que podiam ser mais e dar mais, enfim, de qualquer maneira vale a pena esperar por um deles, mesmo que seja a vida inteira...Eu sou uma esperançosa eterna no amor verdadeiro, já passei pelas minhas fases negras, mas agora estou pronta para ser feliz de novo, tomara que não precise esperar até os 60 anos...rsrs....

É MELHOR SIM, ESTAR SÓ DO QUE MAL ACOMPANHADA, sozinha você pode encontrar pela vida um cara legal, mal acompanhada além de estar presa a um relacionamento ruim, ainda vai queimar o filme por estar se relacionando com um mala...rsrs...

E A MELHOR FORMA DE SER VALORIZADA (O) É DANDO-SE O DEVIDO VALOR...

Não fique complexada (o), na real todo mundo já passou pelo menos uma vez pela fase Menos-Valia, o importante é não ficar nessa para sempre, né?


Dica Final: NINGUÉM MUDA POR OUTRA PESSOA, NÓS MUDAMOS APENAS POR NÓS MESMOS, PORQUE ENTENDEMOS QUE OUTRO JEITO DE VIVER SERÁ MELHOR PARA NÓS... Na verdade, se somos pessoas conscientes do valor da vida, estamos em constante mudança, aprendemos com nossos erros, descobrimos coisas novas, arriscamos, tentamos, mudamos, crescemos e evoluímos! Aprendemos muito com outras pessoas, especialmente com nossos parceiros de amor e de vida, uma relação saudável é uma troca constante, muitos casais acabam se tornando até parecidos com o passar do tempo, mas isso é feito de igual para igual, de forma espontânea e sem prejuízo do outro, agora se é exigido que eu me transforme em outra pessoa para ser amada (o) então isso não é amor, ou não é só amor, é uma relação de poder e onde existe disputa de poder não há comunhão verdadeira. Como já foi dito antes em outros lugares, ninguém sabe quem manda mais na santa Trindade, são 3 pessoas distintas em natureza e função que coexistem em uma, com absoluta igualdade e a definição deste ser a quem chamamos de Deus é amor (e como em time que está ganhando não se mexe...rsrsrs...)!!!!