A pele que habito

A pele que habito

terça-feira, 27 de abril de 2010

Sedução

“Ninguém a outro ama, senão que ama o que de si há nele, ou é suposto.”
Fernando Pessoa


Esses dias, conversando com um grande amiga, acabamos nesse assunto da sedução, de que isso é possível, de que existem formas de se fazer, e tudo mais. Meu primeiro impulso foi o de concordar, sim, existem milhares de maneiras de se levar alguém a fazer o que queremos, ainda mais se formos perspicazes, inteligentes, minimamente atraentes e um pouco carismáticos. No fim, a vítima está ali, aos seus pés, encantado com o quê? Uma miragem que criamos para atrair? Meio que preso numa armadilha montada passo a passo, uma armadilha muito boa, às vezes, mas ainda assim pouco espontânea e muito ardilosa.

Fernando Pessoa diz que para amar alguém precisamos reconhecer o que de nós existe no outro, outros autores também defendem uma idéia parecida, Jung diz que nos unimos a alguém que pode dar voz a uma parte de nós mesmos que não conseguimos expressar. Desse modo, a sedução pode despertar grandes paixões, mas não o amor verdadeiro, pois esse vem do reconhecimento real do outro como semelhante, e se o outro não é verdadeiro conosco, é produto de um projeto de sedução, não haverá tal reconhecimento.

Naturalmente não falo aqui das pequenas e grandes coisas que fazemos para tornar nossos amores mais felizes, falo das pequenas e grandes manipulações que utilizamos no sentido de obrigar alguém que muitas vezes nunca se viu em nós ou conosco a tornar-se cativo de um sentimento baseado em mentiras e, porque não dizer, puro interesse. Se desejamos o amor verdadeiro, devemos ser verdadeiros, vender produtos pode ser muito útil no mundo dos negócios, mas é uma roubada no mundo das relações.

Sobre a questão do apaixonar-se chegamos à conclusão de que isso é coisa de adolescente, uma coisa muito louca, algo que nos cega para quem o outro é, para quem nós somos e destrói qualquer possibilidade de um relacionamento verdadeiro com alguém real. Sentimento baseado em mentiras que nos contam e que contamos para nós mesmos! Podemos sim nos apaixonar 100 vezes por quem amamos, mas dificilmente aprendemos a amar as pessoas por quem nos apaixonamos, sentimento baseado em fantasia não se concretiza no mundo das pessoas reais, com defeitos reais e limitações reais.

sábado, 17 de abril de 2010

CHERI...ESCRITO ASSIM MESMO...

“ E nossa vida escassa
Corre tão depressa
Que, quando se começa.
É acabada...”
Luís de Camões

Acho que todo mundo, ao menos uma vez na vida, em menor ou maior escala, se apaixona por alguém muito mais velho e/ou muito mais jovem.

Para o mais velho, além da vaidade saciada pelo desejo de alguém mais novo ( alguém com carnes firmes, corpo rijo, pele lisa ) e que muitas vezes poderia ter quem quisesse em sua própria faixa etária, fica ainda a ilusão temporária de se poder vencer o inexorável do tempo.

Para o mais jovem, além da tentativa inócua de se descobrir o futuro no outro (tentando apreender por osmose aquilo que só se aprende vivendo na prática), ainda a doce tentação de não precisar crescer nunca, de seguir dependente da experiência e da plenitude de quem já viveu tudo o que ele ainda precisar viver e construir.

Sempre um encontro fulminante, recheado de fantasias que a psicanálise ainda chama de edípicas, encontro que em geral traz a tragicidade do efêmero e do irrealizável emocionalmente.

Em CHERI, filme estrelado pela sempre linda, mesmo envelhecendo sem plásticas, Michelle Pfeiffer, o truque cruel desses amores transgeracionais fica bem ilustrado. O final é bastante previsível, recheado em fragilidades, impossíveis e tragédias.

Fica também acentuada no filme a eterna pergunta que nos assombra: Afinal teremos mesmo apenas um amor na vida? E se temos sabemos reconhecê-lo? E quando reconhecemos como agimos diante dele? E quando é impossível?

Seguindo em minha atitude resignada de nunca desistir, talvez na minha lápide meus amigos escrevam: - Nunca desistiu de procurar seu amor...rs...E talvez eu o encontre não concentrado em um único homem, mas fragmentado em todos esses meus queridos e queridas com quem compartilho de perto e de longe quem sou...Ou talvez eu finalmente encontre o tal homem, Deus sabe!

Na verdade, bom mesmo é construir o amor, o sonho serve para nos inspirar, o desejo nos impulsiona a prosseguir, mas é em cada pequeno tijolo assentado dia após dia que realmente nos encontramos com o outro. E esse esforço exige duplas mais parelhas, parcerias equivalentes, mais afinadas, mais capazes de compartilhar, de cooperar, de se conectar...Para tal, meus caros, alguns arranjos são imprescindíveis e perdoem minha visão meio vitoriana (Jane, Jane, vc sempre tem resposta pra tudo...rs...), mas esses arranjos também incluem questões de faixa etária, o limite cada um sabe qual é pra si.

Se viver nesse mundo é estar numa guerra épica (e é!), não serão os belos e impetuosos Pátroclos que me seduzirão, ainda que seja muito confortador admira-los...rs...Nem tampouco os sábios e vividos Príamos, ainda que ame conversar com eles, receber suas atenções, admirar seu charme e aprender! Na real, estou na fase dos Hectors, dos Ulisses, dos Aquiles da vida, estou no tempo de amar guerreiros experientes, mas ainda vigorosos...rs..Não vou desperdiçar minha plenitude nem caçando em vão a eterna juventude, nem me algemando na doce, mas castradora dependência...Quero construir junto o castelo, quero ir junto para a batalha como fez minha corajosa Deborah, como fez a rainha Ester, como fez Abigail e tantas que sabiam quem eram e não abririam mão disso. Não quero nem menino, nem velho...quero um homem! Porque também não sou menina, nem velha, sou uma mulher...E tudo fez Deus formoso em seu devido tempo!

sábado, 3 de abril de 2010

Sexta Santa, Domingo de Páscoa e as coisas em que creio...

O chamado Cristo entrou em minha vida muito, muito cedo...ainda bebê de meses ouvia os cânticos e as preces ao meu redor! Depois passei a entender as histórias do livro preto, algumas estranhas e cheias de guerras, outras amáveis e cheias do amor de um Deus que até hoje não ouso tentar compreender por inteiro, isso por pura impossibilidade, dada sua imensa complexidade e mistério.

Na adolescência me debati diante de todas as regras e dogmas impostas por um dos ramos do dito cristianismo, já um pouco mais velha e seduzida pela personalidade de um homem único, corajoso, um tanto subversivo para sua época e com tantas convicções geniais, acabei por ir atrás do que C. S. Lewis (um grande e livre pensador, também seduzido pela alegria de descobrir esse homem) chamou de "Cristianismo Puro e Simples", encontrei o que minha sede pelo sagrado procurava, um grande Leão, também um homem simples, um grande Sábio que amava as crianças e redimia as mulheres do desprezo de uma sociedade injusta onde o mais fraco era sempre esmagado, desprezado e impedido de se expressar, de ser...Encontrei um Deus que experimentou tudo o que o ser humano vivencia, tudo de bom, tudo de ruim, foi provado, tentado, desprezado, traído, assassinado, também foi amado, homenageado, admirado, seguido, apoiado, e imortalizado, pelo poder de Deus, pela vitória do seu sacrifício, por esse insondável e divino amor que nos constrange!

Essa semana me perguntaram como justo eu sendo tão "inteligente" podia precisar acreditar num ser superior que me acolhe, perdoa e me ama como sou, porque simplesmente não podia aceitar que só existe esse mundo, que nascemos, morremos e vivemos sozinhos? Respondi que se já nascemos com a necessidade de sermos amados, cuidados e acolhidos e se a própria Psicologia diz que isso é saudável, não havia nada de tão estranho em querer um Deus me amando e me acolhendo exatamente como sou e que se isso me dá suporte, força e sentido na vida, me tornando uma pessoa melhor, não pode ser tão absurdo assim!

Sim, eu creio em Deus Pai Todo Poderoso e Criador do Céu e da Terra (pouco importando se Ele fez isso em 7 dias ou em 7 eras...rs...), creio em Deus Filho, meu Amado Jesus Cristo que se encarnou, nasceu da virgem Maria (pouco importando se ela continuou ou não virgem depois disso), andou por esse mundo pregando sobre o Reino de Deus, curando e fazendo milagres por 33 anos e morreu, morte de cruz, sendo inocente, sofreu para reconciliar o homem com Deus eternamente e ressuscitou no terceiro dia, vencendo a morte, o diabo e o pecado eternamente também, creio em Deus Espírito Santo, meu Consolador querido que intercede por mim com seus gemidos inexprimíveis porque não sei orar como convém e que também completa a obra de Deus em minha vida, me fazendo ser a cada dia uma pessoa melhor e mais parecida com Jesus.

Ser cristã é uma das coisas que me define como pessoa nesta Terra, é uma das coisas das quais mais me orgulho aqui, lembrando que não nego todos os erros eclesiásticos seja de católicos, de protestantes, de ortodoxos, de evangélicos e de qualquer um que se chame cristão...A igreja é feita de pecadores, mas Jesus é perfeito e é nEle que eu creio, hoje, sempre...Amém...