A pele que habito

A pele que habito

sábado, 14 de novembro de 2009

Ventos de mudança...

Começou bem devagar, uma brisa leve beijando o rosto e sussurrando em meus ouvidos umas coisinhas à toa, idéias boas, mas meio absurdas e sem muita possibilidade. Aos poucos foi encorpando, virou vento fresco em tarde quente, fazendo as coisas ficarem mais agradáveis, mais fáceis, mais possíveis e tudo que andava tedioso, estagnado, desesperançado passou a se colorir outra vez. Agora as coisas estão indo mais depressa, o vento vai virando tempestade, já sinto as coisas se movendo de lugar, não conseguem mais resistir à força dele, ventania de mudança, de transformação, logo estarei brincando de Dorothy no olho do furacão. A cada dia fico menos apreensiva e mais ansiosa por ver tudo tomar outra forma, de outro jeito, seguindo um outro caminho, o meu caminho!


Levei fama de não saber lidar com estabilidade, e na verdade durante um bom período estive sempre de malas prontas, meio cigana na estrada, sem parada fixa, sem lugar para repousar a cabeça. Nessa jornada aprendi que existe o tempo e o lugar certo para se plantar sementes, para criar raízes e ver florescer, no lugar/tempo errado nada é gerado, pura perda de tempo, ensaios do que seremos um dia. Não fico mais preocupada com essas coisas! Existem momentos em que demoramos muito para decidir, para atuar, para entrar pela porta que devemos entrar, mas quando finalmente entramos é por ter certeza absoluta de que é ali que queremos estar, não por falta de opção, não porque outras coisas não deram certo ou porque temos medo de não encontrar nunca o que buscamos, mas porque sabemos que é AQUELE o nosso caminho. Não acredito em prêmios de consolação ou em resignação, sou transparente demais e idealista demais para isso!

Sempre gostei da figura do vento, seja no real, seja em metáforas, o vento transformador do Espírito que é irresistível e sopra aonde quer, o sopro da vida nas narinas do homem que faz do pó alma vivente, o vento que leva tudo embora como na música melancólica do Renato Russo, o vento que traz você pra mim como na do JQuest...O vento dos espartilhos e do Rhett Butler (um dos meus favoritos nessa minha pequena obsessão por filmes da Guerra de Secessão...rs...) e até os furacões do “Twister” com suas correrias e trilha do Van Halen. Vento, ventania...


Se eu pensar bem, acho que virei psicoterapeuta aos 3 anos de idade, quando a sombra da morte resolveu visitar nossa casa e levou meu irmãozinho, depois minha irmãzinha e toda a vontade de viver da minha mãe. Foi um período rico de amor e pobre de alegria, haviam muitos silêncios e muitas ausências e foi quando aprendi a ler  as emoções alheias, a esconder as minhas e tentar fazer as coisas ficarem o melhor possível, foi também quando decidi cuidar de mim mesma! Podia ter seguido um outro rumo, podia ter escolhido uma profissão totalmente diferente, levar uma vida longe de um contato íntimo com o sofrimento das pessoas, mas a verdade é que nossa história por vezes nos traz dons, dons são para serem usados, e como nada é por acaso nessa nossa viagem, sou o que sou e não quero ser outra coisa...rs..Naturalmente, não fui em quem curou minha mãe, foi Deus, o tempo, o amor do meu pai, minhas irmãs que nasceram, mas me lembro dela ficar um tempão penteando meus cabelos meio absorta, ou me abraçando apertado demais antes de dormir, tantos vazios entre a gente, tantas coisas que não foram ditas e perguntas que não foram respondidas, tantos sentimentos estranhos, mas também tanto carinho...Minha mãe é uma das mulheres mais fortes que conheço e uma das mais frágeis também, e como é bom reconhecer e acolher as fragilidades de quem amamos, porque assim, podemos reconhecer e aceitar também as nossas!