A pele que habito

A pele que habito

sábado, 14 de maio de 2011

Sylvia Plath e a Voz feminina

De tudo o que vivi em minha experiência no mestrado, o que nunca mais esquecerei porque encontrou eco direto em meu coração como tratando-se de uma verdade absoluta, resume-se a uma frase, dita com a expressão certa, com o tempo exato, no contexto adequado:

- Ser mulher é mais difícil em TUDO...

Ninguém até hoje conseguiu ilustrar com tanta verdade toda a complexidade, sanidade e loucura do nosso dito sexo frágil do que Sylvia Plath em seus diários. Já li seus poemas, alguns me são caros, ainda não li seu romance, embora tenha a pretensão de lê-lo em breve, mas são seus diários: sua vida íntima, seus sentimentos, sua intensidade, seus pensamentos e preocupações, sua personalidade ao mesmo tempo brilhante e sombria, seu amor imenso por Ted, suas dúvidas, crises e dias comuns que ocupam minha cabeceira e boa parte de meu tempo dedicado a literatura já faz muito tempo. É impossível não se identificar com Sylvia, ela era mulher por excelência, bela e feia, sexy e puritana, firme e insegura, talentosa e incapaz, estéril e fértil, sensata e louca, alegre e triste, madura e infantil, genial e imbecil, carente e cuidadora, generosa e ciumenta, compreensiva e irracional, profunda e fútil e por isso tudo, FEMININA em todas as suas contradições.

Fico triste em saber que morreu tão jovem (30 anos), vítima de uma depressão tamanha que também acabou ceifando seu filho mais velho, também depressivo, também suicida. Também sofro ao saber de um amor tão grande encerrado em meio à dor de uma traição e do abandono. Gostaria de tê-la ainda por aí, escrevendo e sofrendo as ansiedades eternas dos escritores com relação ao que e como dizer e enriquecendo minha alma com a dela.

Uma das coisas mais lindas da vida é seu processo natural de amadurecimento, que bom quando usamos nosso livre arbítrio para vivenciá-lo ao invés de resistir a ele, que rico quando aprendemos a apreciar cada uma de nossas fases com seus prazeres e percalços, alcançando um EQUILÍBRIO que é próprio daquele que aprende com a experiência, então não mais desperdiçamos energia com causas vazias e compreendemos que a maior causa é a individual, cada um de nós é seu próprio enigma. Sylvia me ensina isso ao descrever suas emoções frente a cada acontecimento corriqueiro de sua vida, ela seguia buscando as pistas de seu caminho interno, sinais de seu próprio significado no mundo, encarava cada experiência como um poço de possibilidades, de histórias para contar, de lições para aprender. Poderia seguir falando dela muito mais, mas prefiro que ela fale por si mesma, segue abaixo alguns dos trechos (meus favoritos) de seus diários que transcrevo...Seguido do trailer do filme Sylvia, para quem não conhece.

“Qual é a minha voz? Feminina, ai de mim, porém implacável. Dura, por favor, sem outra moral fora a crença de que amadurecer é bom. A fé também é algo bom. Sou muito puritana, no fundo.”

“Quando alguém ama, possui um estoque interminável de amor.”

“..sou forte, embora esporadicamente imatura e frágil. Mas sou forte, um ser pensante, apesar de tudo.”

“Meditar: semear sonhos. É o bastante viver a vida, ir levando de qualquer jeito, sem sonhá-la dupla, que é pior ainda.”

“...e, portanto empreendo minha jornada pelos caminhos da vulnerabilidade novamente, e do que eu defino como amor...”

“...enquanto combater é uma causa para os homens, para as mulheres combater é para homens.”

“Preciso de um companheiro forte: não quero esmagar e dominar alguém acidentalmente, feito um rolo compressor...Preciso encontrar um parceiro potencialmente forte e poderoso, capaz de se equiparar a minha personalidade vibrante: sexual e intelectualmente. É preciso admirá-lo, mesmo em pé de igualdade.”

“A gente primeiro sara, depois trabalha...”

“Eu posso fazer mais amor, quanto mais amor eu faço.”

“...para escrever é preciso viver, certo? Preciso ser capaz de observar a vida de modo inteligente e intuitivo, e a experiência de vida é algo que nunca terei no ambiente acadêmico idealizado da pós-graduação.”

“Talvez quando nos apanhamos querendo tudo, isso ocorra porque estamos perto de não querer nada. Há dois pólos opostos em não desejar nada: Quando há plenitude, riqueza e tantos mundos interiores que o mundo externo não é necessário para nos alegrar, pois o prazer emana do âmago do ser. Quando se morre e apodrece por dentro e não há nada no mundo; nenhum alimento ou sol, nenhuma mulher ou mente mágica alheia consegue alcançar o cerne carcomido de seu planeta alma devastado.”

“...e eu insone, sonhando durante as breves cinco horas de madrugada, travesseiro de porco-espinho, contando carneiros e ouvindo seu canto no lençol inútil.”

“..lecionar é um sorridente vampiro funcionário público que bebe seu sangue e chupa seu cérebro sem nem dizer obrigado.”

“Eu sou eu, e a chuva é linda caindo sobre as chaminés.”

“Ao ver suco de laranja e café até o suicida embrionário se anima visivelmente.”

“Se não consegue pensar nada externo a você, não é capaz de escrever.”

“Mas a vida é longa. E é a longo prazo que se equilibra a chama breve do interesse e da paixão. O longo filão prosaico do pão nosso de cada dia.”

“Homem feliz, em seu mundo, longe do mundo.”

“Viver, fofocar, trasnformar mundos em palavras. Eu posso fazer isso, se suar o bastante.”

“Uma mulher que nunca escuta, uma mulher horrível, com a forma de um prójetil duro, rombudo, antipático feito um sapo seco...”

“Um homem é um todo, não se pode realmente dividi-lo em partes herméticas.”

“Sou ansiosa, colérica, segura de meu dom, esperando apenas treiná-lo e dominá-lo.”

“...Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.”