A pele que habito

A pele que habito

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Noite Santa

O silêncio desta noite santa
Abre as portas de acesso às almas,
Revela o que há de melhor em cada ser humano,
Dá espaço e força de querer e poder ajudar.

A anunciação das boas novas.
Palavras, embriões a gerar pensamentos,
Visões de bem-querer, de um mundo melhor,
Incentivos para uma realidade mais justa.

O céu abraça a terra.
O mundo se cobre de paz.
Recebe, reconhece a verdade suprema:
A existência do amanhã, do eterno renascimento.

O nascimento do Salvador.
O começo de um novo dia,
O nascimento de uma vida nova,
A aurora da luz eterna.

Que ecoem as palavras,
Que soem os sinos pequenos e grandes,
Acordando os corações,
Divulgando o nascimento da esperança!

Venham e vejam,
Crianças, adultos, jovens e idosos,
Venham de longe, de norte a sul,
Sigam o caminho da estrela a indicar.

Sintam o amor e a força.
Da fragilidade da criança recém-nascida,
Surgiu o conceito de dar sem nada exigir,
Nasceu o símbolo da força do amor.

Volta em um ciclo eterno.
Retorna a mágica luz da sinceridade,
Do bem-querer, do perdão,
Ressurge a reafirmação da própria vida.

Nesta noite silenciosa e calma,
Ecoam, elevam-se ao céu
Cantos, melodias, palavras, versos antigos,
Pensamentos eternos como a humanidade.

Livis Dzelve

sábado, 13 de novembro de 2010

Budismo e Eclesiastes

Em primeiro lugar é bom esclarecer que não deixei de ser cristã, pelo contrário, ando mais cristã do que nunca, mas do cristianismo puro e simples, sem placas, denominações, políticas ou interesses escusos. Sou cristã do ensinamento de Jesus Cristo que se resume a: Amar (e buscar) a Deus acima de todas as coisas e amar o próximo como a mim mesma (esse mandamento parece simples mas envolve um sem fim de complexidades).

Não sou uma pessoa religiosa, não no sentido vivido e pregado pelos religiosos, não estou muito preocupada com o que virá depois da morte, nem com as regras de conduta estabelecidas em cada credo ou mesmo com as formas de culto ostentadas por cada um. Por outro lado desde bem pequena tenho dentro de mim essa anseio pelo transcendente, essa vontade de atravessar o rio e descobrir o que existe do outro lado, de falar com Deus e ouvir Seus mistérios, de estar com Ele, senti-Lo, amá-Lo e servi-Lo. Sei que quando fechar os olhos aqui, vai ser nos braços dEle que vou abri-los de novo, lá estarei livre das limitações desse corpo, dessa vida, da mortalidade e então vou realizar esse desejo que me inspira todos os dias nessa vida.

Sendo assim, nessa busca infinita pelo sagrado, fui estudar outras religiões para entender o que existe nelas que tem coerência com o que sinto, com o que aprendi com as idéias de Jesus e tudo que possa contribuir para um maior entendimento do que eu sou e de qual o meu papel neste mundo.

Como vivo sonhando com a Índia e com a China, dei um pulo nas religiões orientais. Do Hinduísmo fica a impressão de um sem número de boas histórias, a relação mais complicada do mundo entre homens e deuses (mais de um milhão), muita cor, muitos ritos coloridos e perfumados, muito injustiça divina naquela história das castas e a descoberta de que para os Hindus a reencarnação é uma espécie de inferno – o que é muito coerente com meu sentimento de não desejar reencarnar nunca...rs..

Já no budismo, coisas boas surgiram, e quero compartilhar.

Sidharta nunca quis ser Deus de coisa alguma, ele foi um príncipe super protegido, criado num mar de favores, luxo e prazer (tipo a Paris Hilton, que quando criança achava que todo mundo morava em mansões) e quando adulto, ao deparar-se com a miséria do mundo, em vez de virar “socialite-drogada-prostituída”, decidiu voltar-se para o sagrado e buscar nele respostas para seus dilemas. Tornou-se um asceta absoluto, com todas as regras, jejuns e sacrifícios possíveis no sentido de livrar-se do que poderia atrapalhá-lo de encontrar o divino.

Após muita reflexão e dedicação, deu-se conta de que o caminho para Deus, não é o extremo, mas o equilíbrio, o caminho do meio, o caminho da moderação. Somos humanos, logo não precisamos abrir mão da humanidade para estarmos próximos do sagrado, por outro lado, não podemos nos desumanizar, abrindo mão da razão, do entendimento, da lógica e da responsabilidade.

Como leitora assídua do Eclesiastes,( meu livro favorito na Bíblia depois do evangelho de João), não posso deixar de pensar nas semelhanças entre a filosofia budista e a eclesiástica.

Buda nos coloca algumas questões básicas: A existência do sofrimento (todas as coisas são impermanentes e desejamos que sejam eternas, por isso sofremos), e o Eclesiastes diz que Deus colocou a eternidade no coração do homem, logo sofremos por termos que viver com a instabilidade do mundo mortal. Para os budistas o sofrimento é causado pelo desejo. Desejo este, muitas vezes, expressado como um engano agarrado a um certo sentimento de existência, a individualidade, ou mesmo voltado para coisas ou fenômenos que consideramos causadores da felicidade e da infelicidade (imaginem o sofrimento da humanidade numa geração dominada pelos desejos de consumo exacerbado como vivemos hoje em dia). o sofrimento acaba quando termina o desejo. Isso é conseguido através da eliminação da ilusão (em sânscrito Maya), assim alcançamos um estado de libertação e de iluminação, esse estado é conquistado através da busca pelo Caminho do Meio, ou seja, do caminho do equilíbrio e da moderação.

Interessante que também em todo livro de Eclesiastes a mensagem é muito parecida, ele diz ao jovem para ir adiante, viver sua vida e gozar dos prazeres dessa terra, sem esquecer por outro lado que de tudo prestaremos conta, e para o pregador essa prestação de contas é muito mais no estilo “aqui se faz, aqui se paga” do que na eternidade, porque sofremos já aqui pelas conseqüências de nossas escolhas. Da mesma forma, Eclesiastes fala do vazio existencial e da busca frenética e inútil pela realização dos nossos desejos e nos aconselha a estabelecer um padrão mais alto para nossa existência, um sentido mais nobre, um significado real.

Ou seja, pessoal, ainda tenho muito o que estudar sobre o assunto, mas de tudo o que já pude compreender em meus 34 anos de cristianismo e leituras diversas todo o oriente milenar (seja ele judaico, cristão ou budista), com sua múltipla experiência em assuntos do sagrado e da vida em si, nos inspira a que tenhamos uma vida equilibrada e feliz. E, sendo assim, sigo acreditando que essa vida equilibrada e feliz se baseia em: fé em Deus, amor pelos semelhantes, busca pelo conhecimento e simplicidade.

Um símbolo disso tudo muito difundido pelos budistas é a Flor de Lótus, uma espécie de Vitória Régia oriental, cujas sementes germinam na lama e precisam atravessar toda a água para florescer na superície. Este processo de desenvolvimento e superação ilustra nossa jornada rumo ao divino, ao desenvolvimento espiritual que nos faz pessoas melhores, mais evoluídas, mais próximas da perfeição. Isso no cristianismo é chamado de processo de santificação e começa no momento em que você decide começar a buscar verdadeiramente a Deus em sua vida. Adorei a flor de lótus, decidi tatuá-la, escolhi a cor azul pois simboliza o desenvolvimento espiritual através da busca do conhecimento, este que sempre foi meu meio favorito de encontrar com Deus!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sobre a rainha e o acaso...

Essa semana eu assisti a dois filmes que inesperadamente mexeram muito comigo, talvez porque eu esteja mais consciente do meu papel no mundo e como ambos trazem à tona a crise de valores de nossos dias de forma muito clara e honesta, foi inevitável me identificar com algumas coisas.

O primeiro foi no cinema, estava com minha prima e depois de assistir o “Tropa de Elite 2” (e viva o Coronel Nascimento...rs..), precisávamos de uma coisinha mais light pra voltar para casa e conseguir dormir, então entramos para ver “Juntos por acaso”. Tinha tudo para ser mais uma comédia romântica daquelas que a gente vê tomando sorvete, não fosse pelo fato de ser muito atual e trazer para a tela conflitos muito comuns nos dias de hoje, difícil mesmo não se identificar... Dois solteirões charmosos, ela: uma garota bonita e atraente, elegante e inteligente, centrada na vida, responsável e bem-sucedida, um pouco desiludida, mas ainda sonhando em encontrar um cara maduro e a fim de construir uma família. Ele: um bonitão “boa-gente”, embora imaturo e egoísta, tentando prorrogar a juventude até os 60, conhecendo uma mulher por noite e evitando qualquer responsabilidade que não seja seu próprio bem-estar. Ambos são apresentados pelos 2 melhores amigos e as diferenças inconciliáveis são óbvias desde o primeiro encontro, porém são pegos de surpresa pela vida tendo que criar a filhinha do casal de amigos e nessa missão acabam aprendendo muito sobre si mesmos, sobre o que realmente desejavam da vida, sobre a complexidade das relações com outras pessoas, sobre ser adulto, sobre ter um sentido na vida, sobre VALORES, HONRA, DIGNIDADE, ALTRUÍSMO, AMIZADE E AMOR.

O segundo filme foi na TV, “A Rainha” nos conta sobre a família real inglesa durante a semana da morte da princesa Diana. Confesso que nunca tinha pensado muito nesse assunto e só decidi assistir ao filme por pura insônia, dor de cabeça demais pra ler e falta de opções melhores no cardápio televisivo, também porque o desempenho da atriz principal havia sido muito elogiado e fiquei curiosa. Bom, me surpreendi com minha própria reação ao filme, passei a ser fã da Rainha Elizabeth, compreendi muito melhor minha própria noção de dever e responsabilidade e parei de me achar estranha por acreditar que na vida precisamos levar em consideração o efeito de nossas atitudes na vida das outras pessoas. Incrível como o silêncio realmente é um comportamento e não a ausência de! Isso fica muito óbvio em todo o filme, pois ao optar pela preservação de sua família e pelo direito de guardar seus sentimentos para si, e achando que com isso se mantinha digna perante a fleuma inglesa, Elizabeth quase derruba a sua monarquia milenar diante de uma nação inteira histérica e totalmente equivocada pela famosa imprensa britânica escrota e manipuladora.

Muito bonita a cena em que o primeiro ministro Tony Blair defende a postura da rainha perante seus próprios funcionários se recusando a aproveitar o momento de fragilidade dela em proveito próprio. Gosto particularmente do fato dela acreditar ter um dever diante de Deus e de seu povo. Se todos nós tivéssemos essa fé de que não nascemos aqui por acaso e de que todos nós temos um dever diante de Deus e das pessoas que nos rodeiam, mesmo que essas pessoas sejam apenas nossa família plebéia (...rs...) o mundo seria um lugar melhor! Posso ser taxada de ingênua, conservadora, tradicionalista, ritualística, ou o que for...E devo ser mesmo tudo isso! Mas prefiro viver acreditando em coisas como VALORES, HONRA, DIGNIDADE, ALTRUÍSMO, AMIZADE E AMOR do que passar uma vida inteira correndo atrás do vento, num vazio existencial, fazendo piada de coisas sérias e muitas vezes até impedindo outras pessoas de crescerem em si mesmas por ser má influência sobre elas.

Talvez se tivéssemos uma rainha Elizabeth aqui, por mais estranhos e esnobes que nos pareçam os hábitos da realeza, não precisaríamos ficar discutindo imbecilidades em nossas campanhas eleitorais. E que me desculpe o Príncipe Charles, se ele tivesse metade da dignidade e da força de sua mãe, não teria destruído a vida de Diana traindo seu casamento tão descaradamente com a mulher mais deselegante da Terra e ambos poderiam ter feito um belo trabalho pelo mundo! Mas parece que nem a realeza escapa do egoísmo e das inconseqüências de uma braguilha que não fecha...rs..

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

C. G. Jung

Ser 'normal' é o ideal dos que não têm êxito, de todos os que se encontram abaixo do nível geral de adaptação



Quando pensamos, fazêmo-lo com o fim de julgar ou chegar a uma conclusão; quando sentimos, é para atribuir um valor pessoal a qualquer coisa que fazemos



O ego é dotado de um poder, de uma força criativa, conquista tardia da humanidade, a que chamamos vontade



Os sonhos são as manifestações não falsificadas da actividade criativa inconsciente



Uns sapatos que ficam bem numa pessoa são pequenos para uma outra; não existe uma receita para a vida que sirva para todos



Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta



Tudo o que nos irrita nos outros pode levar-nos a um entendimento de nós mesmos



Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder prevalece, há falta de amor. Um é a sombra do outro.


Erros são no final das contas, fundamentos da verdade.


O encontro de duas personalidades assemelha-se ao contato de duas substâncias químicas: se alguma reação ocorre, ambos sofrem uma transformação.



Os indivíduos não chegam a uma total autocompreensão enquanto não aceitam seus sentimentos religiosos.


Toda forma de vício é ruim, não importa que seja droga, álcool ou idealismo.



Tudo depende de como olhamos para as coisas, e não de como elas são em si mesmas.



O homem não passa de uma gota d´água... Mas uma gota muito presunçosa.



Eu não tenho necessidade de acreditar em Deus. Eu o conheço!



Enquanto não se atinge o extremo, nada resulta em contrário.


Todos nós nascemos originais e morremos cópias.


O pecado capital da fé reside no fato de preceder a vivência.


A sensação, para ser pura e viva, não deve trazer consigo nenhum julgamento, nem ser influenciada ou dirigida, ela deve ser irracional.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Como Jane Austen pode mudar sua vida e Austen por ela mesma...

Alain de Botton escreveu um livro sobre Proust para mudar todas as vidas. Bom negócio. Nos últimos tempos, tenho pensado em Jane Austen para mudar a minha. Corrijo. Tenho pensado em mim, no meu bolso e nas histórias de Miss Jane para mudar as vossas. Assim é que é.

Acontece quando um amigo (melhor: uma amiga) entra aqui em casa com lágrimas nos olhos. Problemas sentimentais, por favor, não façam caso. Fatalmente, tenho sempre dois objetos sobre a mesa: uma caixa de lenços de papel e, claro, uma cópia de "Orgulho e Preconceito", o livro que Jane Austen publicou em 1813. Entrego o livro e, com palavras paternais, aconselho: Lê "Orgulho e Preconceito" e encontrarás a luz, meu amor.

Eles lêem e depois regressam, com a alma levantada, mais felizes que Mr. Scrooge ao descobrir que está vivo e é Natal. Inevitável. Jane Austen entendia mais sobre a natureza humana do que quilos e quilos de tratados filosóficos sobre a matéria.

Mas, primeiro, as apresentações: leitores, essa é Jane Austen, donzela inocente que nasceu virgem e morreu virgem. Jane, esses são os leitores (ligeira vênia). A biografia não oferece aventuras. Poderíamos acrescentar que morou com a família até ao fim. Que publicou os seus romances anonimamente, porque não era de bom tom uma mulher se entregar aos prazeres da literatura. E que suas obras, apesar de sucesso moderado, têm conhecido nos últimos anos um sucesso estrondoso e as mais díspares interpretações políticas, literárias, filosóficas, até econômicas. Já li textos sobre a importância das finanças na obra de Jane Austen. Sobre o vestuário. Sobre a decoração de interiores. Sobre os usos da ironia no discurso direto. Para não falar de filmes - mais de vinte - que os seus livros --apenas seis-- suscitaram nos últimos tempos. O último "Orgulho e Preconceito" foi recentemente filmado no Reino Unido, com Keira Knightley (suspiros, suspiros) no papel principal. Vai aos Globos de Ouro. Provavelmente, aos Oscars também.

A loucura é total. Jane Austen mal sabia que, depois da morte, em 1817, o mundo acabaria por descobri-la e, sem maldade, usá-la e abusá-la tão completamente. Justo. Considero Jane Austen uma das maiores escritoras de sempre. Incluo os machos na corrida. Sem Austen, seria impensável encontrar Saki, Beerbohm ou Wodehouse. Miss Jane é mãe de todos.

E "Orgulho e Preconceito"? "Orgulho e Preconceito" tem eficácia garantida para males de amor. Vocês conhecem a história: Elizabeth, filha dos Bennet, classe média com riqueza nos negócios (quel horreur!), conhece Darcy, aristocrata pedante. Ela não gosta da soberba dele. Ele começa por desprezar a condição dela --social, física-- no primeiro baile onde se encontram. Com o tempo, tudo se altera. Darcy apaixona-se por Elizabeth. Elizabeth resiste, alimentada ainda pelas primeiras impressões sobre Darcy. Darcy declara-se a Elizabeth, sem baixar a guarda do preconceito social. Elizabeth não perdoa o preconceito de Darcy e, ferida no orgulho, recusa os avanços. Darcy lambe as feridas e afasta-se. Mas tudo está bem quando termina bem: Darcy e Elizabeth, depois das primeiras tempestades, estão condenados ao amor conjugal. Aplausos. The end.

As consciências feministas, ou progressistas, sempre amaram a atitude de Elizabeth: nariz alto, opiniões fortes, capaz de vergar Darcy e o seu preconceito aristocrático. "Orgulho e Preconceito" seria, neste sentido, um livro anticonservador por excelência, ao contrário de "Razão e Sensibilidade", onde a hierarquia social tem a palavra decisiva. Elizabeth não é boneca de luxo, disposta a suportar os mandos e desmandos do macho. Ela exige respeito. Pior: numa família com dificuldades financeiras, Elizabeth comete o supremo ultraje --impensável no seu tempo-- de recusar propostas de casamento que salvariam a sua condição e a conta bancária de toda a família. A mãe de Elizabeth, deliciosamente histérica, atravessa o romance com achaques nervosos, prostrada no sofá. Se "Orgulho e Preconceito" fosse um romance pós-moderno, a pobre mãezinha passaria metade do tempo suspirando: Esta filha vai levar a família toda para a sarjeta!

Elizabeth não cede e triunfa. A família também. E os leitores progressistas?

Esses, não. Os leitores progressistas tendem a ler "Orgulho e Preconceito" como se existissem na trama duas personagens distintas, vindas de mundos distintos, com vícios e virtudes também distintos. Darcy contra Elizabeth, até ao dia em que o amor é mais forte. Erro. Jane Austen não era roteirista em Hollywood. E os leitores progressistas saberiam desse erro se soubessem também que o título original de "Orgulho e Preconceito" não era "Orgulho e Preconceito". Era, tão simplesmente, "Primeiras Impressões".

Nem mais. Se existe um tema central no romance, não é Elizabeth, não é Darcy. E não é, escuso de dizer, o dinheiro, a ironia dos diálogos ou a decoração de interiores. "Orgulho e Preconceito" é uma meditação brilhante sobre a forma como as primeiras impressões, as idéias apressadas que construímos sobre os outros, acabam, muitas vezes, por destruir as relações humanas.

De igual forma, "Orgulho e Preconceito" não é, como centenas e centenas de histórias analfabetas, uma história de amor à primeira vista. É, como escreveu Marilyn Butler, professora em Cambridge e a mais importante crítica de Austen, uma história de ódio à primeira vista. E a lição, a lição final, é que amor à primeira vista ou ódio à primeira vista são uma e a mesma coisa: formas preguiçosas de classificar os outros e de nos enganarmos a nós. Elizabeth despreza a arrogância de Darcy sem perceber que essa arrogância, às vezes, é uma forma de defesa: o amor assusta mais do que todos os fantasmas que habitam o coração humano. Darcy despreza Elizabeth porque Elizabeth é uma ameaça ao seu conforto social e até sentimental. Elizabeth e Darcy não são personagens distintos. Eles são, no seu orgulho e preconceito, personagens rigorosamente iguais.

Jane Austen acertou. Duplamente. Como literatura e como aviso. O amor não sobrevive aos ritmos da nossa modernidade. O amor exige tempo e conhecimento. Exige, no fundo, o tempo e o conhecimento que a vida moderna de hoje não permite e, mais, não tolera: se podemos satisfazer todas as nossas necessidades materiais com uma ida ao shopping do bairro, exigimos dos outros igual eficácia. Os seres humanos são apenas produtos que usamos (ou recusamos) de acordo com as mais básicas conveniências. Procuramos continuamente e desesperamos continuamente porque confundimos o efêmero com o permanente, o material com o espiritual. A nossa frustração em encontrar o "amor verdadeiro" é apenas um clichê que esconde o essencial: o amor não é um produto que se compra para combinar com os móveis da sala. É uma arte que se cultiva. Profundamente. Demoradamente.

Por isso, leitores desesperados e sonhadores arrependidos, leiam Jane Austen e limpem as vossas lágrimas! Primeiras impressões todos temos e perdemos. Mas o amor só é verdadeiro quando acontece à segunda vista.

João Pereira Coutinho, 31, é colunista da Folha. Reuniu seus artigos para o Brasil no livro "Avenida Paulista" (Ed. Quasi), publicado em Portugal, onde vive. Escreve quinzenalmente, às segundas-feiras, para a Folha Online.

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de Orgulho e Preconceito:

“Jane: [...] Grande parte das vezes é a nossa própria vaidade que nos ilude. Para as mulheres, a admiração que elas crêem no objeto significa mais do que aquilo de fato se trata.

Elizabeth: E são os homens que se encarregam de as convencer.

Jane: Se é propositalmente que o fazem, não têm desculpa; mas não creio que no mundo haja tanta duplicidade, como a maioria das pessoas pretende fazer acreditar.

Elizabeth: Estou longe de atribuir à duplicidade alguma faceta do comportamento de Mr. Bingley; mas o que certo é que, mesmo sem se planejar fazer o mal ou tornar os outros infelizes, podem-se criar situação de equívoco e sofrimento. Refiro-me à inconsistência, à falta de atenção para com os sentimentos dos outros e à falta de poder de resolução.”

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“I must keep to my own style and go on in my own way. And though I may never succeed again in that, I am convinced that I should totally fail in any other.”


“Muitas vezes perdemos a possibilidade de felicidade de tanto nos prepararmos para recebê-la. Por que então não agarra-la toda de uma vez?”


“ A vaidade e o orgulho são coisas diferentes, embora as palavras sejam freqüentemente usadas como sinônimos. Uma pessoa pode ser orgulhosa sem ser vaidosa. O orgulho relaciona-se mais com a opinião que temos de nós mesmos, e a vaidade, como o que desejaríamos que os outros pensassem de nós.”


“A imaginação de uma senhora é muito rápida, pula da admiração para o amor, e do amor para o matrimônio em um segundo.”

“Nunca houve dois corações mais abertos, nem gostos mais semelhantes, ou sentimentos mais em sintonia!”

“Metade do mundo não consegue compreender os prazeres da outra metade.”

“Às vezes a última pessoa na face da terra com quem você deseja estar junto, é a única pessoa que você não pode viver sem.”

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Gotas...

“...todas as coisas primitivas e até mesmo o homem antes de se tornar canalha são de uma beleza tocante, pois nos statis nascendi (na fase do nascimento) qualquer coisa em seu gênero representa o que há de mais precioso, de intimamente desejado e de profundamente terno, na visão do amor e da bondade infinitos do Criador.”
Karl Gustav Jung


“De que são feitos os dias? – De pequenos desejos, vagarosas saudades e silenciosas lembranças.”
Cecília Meireles


“Ante a fraqueza da palavra humana – o que há de mais divino o olhar traduz.”
Machado de Assis


“Porque enfim, tudo passa; não sabe o tempo ter firmeza em nada.”
Luís de Camões


“A fé cresce num subsolo de anseios, e alguma coisa primeva nos seres humanos clama contra o reino da morte.”
Philip Yancey


“Matar Jesus foi como tentar destruir um dente-de-leão assoprando nele.”
Walter Wink


“Tu te elevaste diante de nossos olhos, e nós voltamos entristecidos, apenas para encontrar-te em nossos corações.”
Santo Agostinho


“Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica só. Mas se morrer, produz muito fruto.”
Jesus


“É muito sério viver numa sociedade constituída por possíveis deuses e deusas, lembrar que a mais desinteressante e estúpida das pessoas com quem você fala pode, um dia, vir a ser alguém que, se a víssemos agora, nos sentiríamos fortemente impelidos a adorar; ou (quem sabe?) a personificação do horror e da corrupção só vistos em pesadelos. Passamos o dia inteiro ajudando-nos uns aos outros a, de certo modo, encontrar um destes destinos.”
C. S. Lewis


“Se Deus não existe, então tudo é permissível.”
Dostoievski


“Somos uma obra contemplativa, primeiro meditamos sobre Jesus, depois saímos e o procuramos disfarçado.”
Madre Teresa de Calcutá


“Através de toda minha busca por Jesus tem havido um tema de confronto: minha necessidade de limpar camadas de sujeira e de poeira aplicadas pela PRÓPRIA IGREJA. Em meu caso, a imagem de Jesus foi obscurecida pelo racismo, pela intolerância e pelo legalismo tacanho das igrejas fundamentalistas do Sul. O católico russo ou europeu enfrenta um processo de restauração muito diferente. ‘Pois não apenas poeira, mas também ouro em demasia pode cobrir a verdadeira figura’, escreveu o alemão Hans Küng acerca de sua própria busca. Muitos, muitos mesmo, abandonam a busca totalmente ; repelidos pela igreja, nunca chegam a Jesus.”
Philip Yancey

“O sentido e o espírito de Cristo estão presentes em nós e os podemos perceber mesmo sem os milagres. Estes últimos apelam para a inteligência daqueles que são incapazes de captar o sentido em si mesmo. Constituem meros sucedâneos de uma realidade do espírito que não foi compreendida. Mas com isso não pretendemos negar que a presença vital deste espírito seja, às vezes, acompanhada de fenômenos físicos extraordinários; apenas queremos acentuar que estes últimos não podem substituir, e muito menos produzir, o único e essencial conhecimento do espírito.”
Carl Gustav Jung

domingo, 22 de agosto de 2010

1 João 4.18

" No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo..."

E que coisa incrível é buscar respostas em algo tão misterioso quanto uma Bíblia, para todos que duvidam do transcendente só tenho uma coisa a dizer: a vida transcende!

Sabe o que quero? Paz!

Sabe do que preciso? Sossego para continuar adiante, crescendo, produzindo, construindo!

Sabe onde vou encontrar isso? Nas coisas simples. Nas palavras sinceras. Em tudo que a luz ilumina.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Colando Clarice...

"Estava permanentemente ocupada em querer e não querer ser o que eu era, não me decidia por qual de mim, toda é que nao podia ser; ter nascido era cheio de erros a corrigir. Só tinha tempo de crescer. O que eu fazia para todos os lados, com uma falta de graça que mais parecia o resultado de um erro de cálculo. Na minha pressa eu crescia sem saber pra onde."


"Tudo tem que ser...
Tudo tem que ser bem de leve para eu não me assustar e não assustar os
que amo.
Pedem-me pouco, pedem-me quase nada.
O terrível é que eu tenho muito para dar
e tenho que engolir esse muito e ainda
por cima dizer com delicadeza : obrigada
por receberem de mim um pouquinho de mim!"


"Por não estarem distraídos
Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a
garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca
entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta
sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam
e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede
deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a
sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o
brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles
admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se
transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande
dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não
via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto
ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais
erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham
prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de
súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar
um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se
estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a
carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou
os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."

(Frases e Pensamentos de Clarice Lispector)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

A igreja e o sexo

“ A prova de nossa obediência aos ensinamentos de Cristo é a conscientização de nosso fracasso em alcançar um ideal perfeito. O grau em que nos aproximamos dessa perfeição não pode ser visto; tudo o que podemos ver é a extensão do nosso afastamento. “ Leon Tolstoi


“ A qualidade da misericórdia não está deformada.
Cai como a mansa chuva do céu...
E o poder da terra vai então mostrar-se como o de Deus.
Quando a misericórdia tempera a justiça. “
Shakespeare, O mercador de Veneza



Já faz tempo vivo nesse estágio intermediário muito esquisito, na igreja (ou nas rodas mais fundamentalistas da igreja) sou vista e taxada como rebelde, radical, pica-fumo, questionadora demais, carnal demais, mundana demais...Por outro lado, no mundo dos não-cristãos, sou puritana, santinha, anjo na terra, alguém impecável, não contaminada, alguém que não pode se envolver com coisas desse mundo, alguém que não compreenderia o que rola com as outras pessoas!

Sinceramente, não há muito que se fazer a respeito porque nunca vou concordar com o falso moralismo eclesiástico nem com as inconseqüências da vida sem Deus, sendo assim, sigo tentando não me conformar, mas ao menos me adaptar para ter uma vida um pouco menos ardida, ser um pouco menos inconveniente em ambos os lados da coisa, já que transito pelos dois e acabo não pertencendo a nenhum, sou da igreja sim, mas da invisível, sou desse mundo sim, mas de um mundo que ainda está sendo construído, um outro mundo...um mundo melhor!

Semana passada, em uma das minhas cada vez mais raras visitas à escola dominical, me pego ouvindo pela milionésima vez que é necessário marcar um dia com os jovens para se falar sobre sexo antes do casamento. Confesso que meu estômago embrulhou, até quando vamos perder tempo com as neuroses de pais que não conseguem viver sem especular sobre a vida sexual de seus filhos? Alguém tem dúvidas de que num mundo perfeito todo mundo encontraria a alma gêmea aos 15 anos, se casaria com ela e seria feliz para sempre até os 120 anos? Sem frustrações, sem corações partidos, sem gravidez indesejada, sem dificuldades referentes ao desejo, orgasmo, ejaculação precoce, adultérios e tudo mais que pode envolver uma relação homem-mulher? Por Deus do Céu, o ideal sempre é algo a ser buscado, mas raramente é alcançado nesse mundo caído... Por que essa obsessão na vida sexual das pessoas? Não seria melhor gastarmos tempo em trabalhar o caráter de nossos adolescentes? Afinal, sexo antes do casamento é tão pecado quanto comer demais na janta, por que então não investimos em reeducação alimentar? rs

Naturalmente (e quem me conhece mais de perto sabe disso) condeno completamente a banalização do sexo, especialmente a pornografia (esse foco de abuso da imagem do corpo, em especial do corpo feminino, que transforma a relação sexual em uma grande mentira recheada de peitos de plástico, gemidos fingidos, situações impossíveis e de todo tipo de mau gosto relacionado ao ato) e as relações casuais (consentidas ou não, na maioria dos casos alguém sempre faz alguém de bobo e isso é muito ruim...), mas não entendo o que de tão absurdamente crucial pode advir de duas pessoas adultas que se amam e pensam mesmo em se comprometer decidirem se envolver a esse ponto.

Quem já teve alguma experiência com igrejas sabe que são instalados verdadeiros tribunais para averiguar tais casos, em algumas denominações moças que engravidam sequer podem casar-se na igreja, muitos casais têm uma experiência de exposição tão grande que nunca mais conseguem ter uma vida sexual sadia e prazerosa, mesmo depois de casados (isso é fato, caso comum nos consultórios de terapeutas de casais que atendem a esse público), a pergunta fica: - Por que tanta ênfase nisso?

Ando muito, muito farta de dedos em riste e poucas mãos acolhedoras, onde andará a misericórdia?

Nunca fui mesmo de me omitir! Já que a aula era de fórum aberto e eu a única psicóloga presente, foi solicitada minha opinião a respeito. Como sempre fui muito sincera, falei da minha preocupação com as doenças emocionais advindas desse tipo de ensinamento (na verdade o problema em si não é nem o ensinamento, mas sim a maneira como as coisas são conduzidas), falei também que em minha opinião educação sexual como todos os outros aspectos referentes a usos e costumes pessoais são assuntos para serem tratados em família e com pessoas de confiança e não numa assembléia de mais de 200 pessoas que mal conhecemos e que não tem o direito nem o dever de julgar a vida das outras pessoas, falei também que não conseguia compreender a razão pela qual esse tipo de assunto acaba tendo muito mais importância dentro da igreja do que as coisas básicas como nosso relacionamento com Deus, por exemplo. Notoriamente minha resposta deixou mais perguntas no ar, algumas pessoas me parabenizaram, outras apenas balançaram a cabeça negativamente como a dizer: - Essa não tem jeito mesmo...rs....

Ando muito farta de algumas coisas, entre elas esse tipo de perda de tempo com fofocas e especulação da vida alheia (sim porque esse tipo de assunto não passa de curiosidade mórbida e uma maneira dos santarrões de plantão se vingarem dos que estão fazendo o que eles gostariam de estar fazendo)! Tenho em mim essa nítida percepção de que se algumas coisas fossem administradas com mais amor e com menos punição teríamos muito maiores resultados.

Alguns adolescentes se envolvem precocemente com sexo (também com drogas) por carência afetiva (famílias sem amor e comunicação suficientes), por necessidade de auto-afirmação (os garotos que o digam, começam a sofrer pressão para perder a virgindade cada vez mais cedo hoje em dia, além de não estarem preparados emocionalmente, alguns não estão prontos nem fisicamente...), por insatisfação e falta de sentido na vida (adolescentes e jovens precisam de sonhos, desafios, ideais para alcançar ou cairão no vazio existencial que é uma grande armadilha) e por mera curiosidade. Por que não investir em informação responsável? Por que não investir na saúde e desenvolvimento das famílias para que elas possam gerar filhos mais maduros e mais felizes? Por que não investir na educação formal de nossas crianças para que existam mais prazeres na vida do que uma trepada? Criamos um bando de cabeças ocas e depois queremos colocar-lhes cabrestos...Mundo injusto esse, onde colocaremos nossa libido se não existe nada dentro de nós?

A igreja se ocupa de tentar limitar o acesso ao sexo desde a idade média, acesso esse que temos ao alcance das mãos, em nosso próprio corpo desde que nascemos, se ao invés disso fosse investido mais tempo e dedicação ao nosso acesso à alma o sexo jamais ocuparia mais lugar do que lhe é devido, ou seja, uma parte das nossas vidas e não ela toda!

domingo, 18 de julho de 2010

Band-Aids

Afinal, como se cura um coração partido?

Bom, isso depende, tem várias maneiras, caso o coração seja o seu, minha receita pessoal é: chorar tudo o que se tem pra chorar, evitar situações de stress por algum tempo, tomar muito chá e chocolate quente, ficar perto de amigos do peito, cortar o cabelo, comprar roupas novas (sem estourar o cartão de crédito...rs...), fazer aulas de dança (eu recomendo flamenco), usar muito hidratante com seu perfume predileto, ter bichos de estimação, falar com Deus todos os dias e sempre que desejar, ouvir muita música, ver bons filmes e ler de novo seus livros prediletos, trabalhar muito, estudar muito...Enfim, VIVER, quando você menos esperar (uns demoram mais que outros) seu coraçãozinho despedaçado estará pronto para amar de novo, aproveite seu tempo sozinho para se apaixonar por você mesmo, afinal, você é a única pessoa com quem será obrigado a conviver até o final do seus dias e, se for cristão como eu, pra sempre...rs...Ah, e um conselho dos mais sábios: Escolha melhor da próxima vez!

Se o coração for de outra pessoa, e especialmente se essa pessoa foi muito machucada, a primeira estratégia é: Seja paciente e muito generoso (a) e não tenha medo do tamanho de sua dor, afinal, se não foi você quem a causou não é contra você a mágoa dessa pessoa e se foi você, peça perdão! Não existe nada nesse mundo que não possa ser perdoado se o arrependimento é sincero. Cuide dessa pessoa com MUITO carinho, faça-a acreditar que é amável, que é alguém com quem se importar, pode mimar à vontade, afinal, um coração partido dói muito. Esteja presente, seja sincero e abrace muito toda vez que for necessário, faça chazinhos e chocolate quente, capuccino também, mas só depois que a pessoa melhorar um pouco. Fale baixinho, faça carinho, deixe que o coração vá cicatrizando aos poucos! Deixe a mão por perto para quando ele (a) quiser pegar e nunca, nunca, nunca seja mal ou grosseiro, um coração partido é muito sensível e não estará preparado para novas feridas. Sobretudo, lidar com um coração partido exige muita responsabilidade, afinal, repetir a dose é mais ou menos como um raio cair duas vezes no mesmo lugar: um absurdo!

Lembre-se que julgar menos e amar mais é a fórmula mágica de qualquer relacionamento amoroso e também que homens e mulheres são e sempre serão diferentes, o que um chama de descontrole o outro chama de ser verdadeiro, o que um chama de covardia o outro chama de prudência e assim vai...Um monte de maus entendidos! Quer ser plenamente compreendido? Vire gay...rs...Caso isso não seja uma opção apreenda as diferenças como pontos de aprendizagem, de aceitação e de complementação, assim as coisas seguirão evoluindo! NUNCA ESPERE SER PLENAMENTE COMPREENDIDO, isso é uma falsa expectativa e, portanto, uma armadilha!

Infelizmente vivemos na geração dos corações partidos e temos tão poucas pessoas preparadas para cuidar desses ferimentos. Qual de nós não tem cicatrizes no bom e velho cuore? Sobre curadores feridos vale ler a história de um centauro chamado Quíron, mas essa fica para uma outra hora...

Se por um lado, todos trazemos marcas, por outro todos sonhamos com uma relação normal, feliz, leve, boa e saudável...Um amor tranqüilo! Aqueles como os de antigamente em que todo sábado a mocinha esperava linda e cheirosa seu príncipe encantado, que nunca foi perfeito, mas que se esforçava mais para parecer encantador! Hoje em dia tudo é tão moderno, cru, apressado, plástico e cômodo, e é tudo tão pobre! Será que as pessoas chegam a deixar marcas na gente?

Lembro de detalhes da minha história com cada cara por quem me apaixonei nessa vida: Um deles beijava meu cabelo quando eu encostava a cabeça em seu ombro no cinema e me tocava músicas bregas em seu violão velho, o outro segurava um gatinho no colo no dia em que o conheci e perguntou se eu não queria levar dois gatos pra casa, esse adorava minha cintura e confesso que minha cintura adorava as mãos dele....Outro me escrevia cartas lindas embora morasse longe e nunca pudesse me ver, ainda outro ajeitava minha blusa com esmero quando a gente se amassava demais e eu achava isso tão protetor da parte dele...rs...Teve um cujos cabelinhos voavam quando corria pelo campo de futebol, esse também me cantava Van Halen e prometeu que nunca ia parar de me amar, mas parou...Outro guardava lugar para mim na bancada do laboratório de ciências e me deu o primeiro beijo e um monte de outras primeiras coisas, houve aquele outro que um dia me abraçou tão forte como se eu fosse morrer e me fez sentir em casa por 5 segundos, ele também me irritava como poucos até hoje conseguiram (rs) e eu gostava tanto dele, tanto...Teve ainda esse outro que ficava feliz toda vez que eu chegava, ria das minhas piadas com sua risada cheia e me fazia sentir importante, mesmo quando eu não era...Teve esse outro que beijava meu pulso devagarzinho enquanto eu falava demais, até que eu parasse de falar e deixasse ele me beijar.

Poderia falar de cada um deles por horas a fio, e ainda assim não seria justa, porque cada um à sua própria maneira e em determinado momento foi único e especial. Nenhum era perfeito, alguns quebraram meu coração das piores formas, mas ainda assim, são dignos de serem lembrados pelo tempo bom que dividiram comigo, pelas coisas que trocamos, pelo que aprendemos um com o outro. Desejo a todos eles a melhor das vidas!

Ainda sigo esperando o homem que vai chegar e ficar (e vai ter que ser com H, ainda mais agora que sou flamenca...rs...), esse certamente vai curar todas as partes despedaçadas do meu coração com o melhor dos Band-Aids: a sua companhia...Já antecipo que eu serei a mais manhosa das pacientes, afinal, depois de esperar tanto, devo ter alguma compensação, não? rs

E caso ele não apareça nunca, fazer o quê? Vou seguir vivendo e fazendo um monte de coisas legais, com um monte de pessoas legais, afinal, sem demagogia e apesar de todos os apezares desse mundo cão em que vivemos, a vida é um Dom, então devemos aproveitá-la!

Sobre curar corações partidos, para quem nunca viu, vá ver: “Tudo acontece em Elisabeth Town”

sábado, 10 de julho de 2010

Alegrias e castanholas...

Bom, para uma obsessiva como eu tudo que me interessa acaba virando uma paixão daquelas e depois de quatro aulas de Flamenco, não podia ser diferente com isso. Só fico pensando em sapatos reforçados, saias longas, castanholas e talvez, por mais moderno que esteja meu corte atual, em deixar o cabelo crescer...

Graças à influência da minha amiga bailarina (linda, linda e que nunca mais deve parar com a dança, seja ela qual for) fui aprender a dançar, justo eu que nunca passei da quadrilha de festa junina...rs...Confesso que a cada aula me dou mais conta do quanto perdi tempo por não ter feito isso antes, mas a alegria de saber que tenho tanto a aprender virou a maior das motivações e nem ligo para minha falta de jeito de iniciante, me basta ver minha professora dançando com aquelas mãos que hipnotizam e ter a intuição de que um dia vou conseguir dançar como ela, ou pelo menos, dançar bem.

Flamenco é sem dúvida umas danças mais belas e impactantes que já vi (não que eu seja alguma autoridade no assunto...rs...), mas acho que só se compara mesmo ao balé clássico em elegância e expressão.

Acho delicioso ver tantas mulheres diferentes em aparência, jeito e idade estarem ali para prestar homenagens a uma cultura já que essa dança expressa toda uma história de povos perseguidos e desprezados (especialmente ciganos, judeus e mouros) por trás dela. Fico pensando que todas nós, pelos motivos mais diversos, estamos ali buscando algo e provavelmente para explorar e desenvolver alguns aspectos da nossa própria feminilidade, utilizando para isso o arquétipo dessa mulher flamenca que é muito forte e determinada, sensual sim, mas também muito arredia e que só se rende para um homem de verdade, um homem que a mereça, um homem que não tenha medo dela, sim porque ela é mesmo um pouco assustadora ..rs...Como diriam os psicanalistas, uma mulher um tanto fálica, mulher de atitude, que se coloca e não tem medo de ser quem é!

Sobre todos os aspectos é uma dança que fala de emoções:

“Quem assiste a um baile flamenco, sente que os movimentos dos corpos dos bailarinos comunicam um sentimento forte, fruto de uma revolta e de um grande inconformismo, cheio de altos e baixos emocionais. É mesmo impossível não perceber que nos taconeos ou sapateados a dança flamenca marca o compasso do coração humano, que ora salta de alegria e outras horas, arde de dor e tristeza. Dança de movimento vibrante, o grande êxtase do flamenco é mostrar o vigor e a vitalidade dos movimentos de mãos, braços e sapateados que traduzem paixão, alegria e melancolia transformadas em força e amor pela vida, justificando a resistência a todas as formas de perseguições.”

Sendo assim é pura terapia, eu recomendo! Não somos seres fragmentados, nosso emocional é intrínseco ao nosso físico, nosso físico abriga nosso emocional e é seu meio de expressão direta, sendo assim podemos nos curar tanto de dentro para fora, quanto de fora para dentro. A opção pela melhor forma de tratamento vai depender apenas do problema em questão, da fase da vida, do estilo pessoal, enfim... Outro dia mesmo acabamos uma aula com uma das alunas chorando por causa da música. Em nossos encontros temos de tudo, especialmente muito riso...Esse que é um dos maiores remédios para a alma humana!

Adoro as saias longas que nos deixam femininas e elegantes, gosto dos xales coloridos tão folclóricos, adoro o ecoar dos taque-taques dos sapatos e das castanholas, adoro a dramaticidade das guitarras e a expressão do rosto de todas durante as aulas, adoro o fato de ser uma dança que traz uma sensualidade sem vulgaridade e também de ter tido coragem de fazer isso por mim nessa fase da minha vida em que tenho tanto para descobrir sobre mim mesma...Parece que no fim, não serei nem tão italiana, nem tão libanesa, muito menos brasileira, estou é por escolher a mandona e divertida espanhola, essa mulher intensa, muito emotiva, muito resistente, talvez um pouco exagerada, mas certamente nunca monótona...rs...

Como disse para minha amiga: Flamenco é assunto para muitos anos, mas eu chego lá!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Como meninos...

Tenho visto homens grandes (em ambos os aspectos), chorando por não conseguir sair da arapuca que criaram para si mesmos: os ardis da autoafirmação.

AFINAL O QUE FAZ DE UM HOMEM, UM HOMEM? O número e a beleza de mulheres que ele seduz? O dinheiro que ele ganhou e acumulou no banco? A força física que ele pode dispor para intimidar seus inimigos? A força intelectual que ele pode utilizar para manipular as pessoas ao seu redor?

Nessas horas sempre me lembro de um pastorzinho que matou um gigante e virou rei chamado Davi, o único homem chamado por Deus como “o homem segundo o seu coração”... Era Davi algum santo? Não, foi adúltero e assassino, abusou do poder para seus próprios interesses e por vezes era de uma teimosia absurda...Piada divina? Não, acontece que Davi era íntegro diante de Deus, íntegro no sentido de apresentar-se diante dEle inteiro, de coração quebrantado e sincero, peito aberto, sem máscaras – Olha, sou falho, um errado, um pecador, mas quero acertar! Quando agradecia a Deus, seu fervor era tamanho que saía dançando semi-nu no meio das pessoas sem medo do ridículo, era Ele e Deus...Davi era VERDADEIRO! E isso é o que conta para Deus: a nossa verdade pessoal diante dele, um arrependimento real, um desejo autêntico de ser bom, um envolvimento espontâneo e AUTÊNTICO.

Todos nós somos falhos e falíveis, todos passíveis de erro, todos em pleno processo de desenvolvimento espiritual e emocional, Deus inventou o arrependimento e o perdão para isso. E quanto mais a gente usufrui disso, mais humanos nos tornamos, mas conscientes das nossas limitações, mais pacientes com as limitações alheias, mais cheios de esperanças de que cada um pode se tornar um pouco mais gente a cada dia e com maior capacidade de amar. O amor, essa força que move o mundo e que por vezes, por causa das limitações da vida ao nosso redor, nos é dado em migalhas...Que Deus nos ensine a multiplicá-lo, mesmo que tenhamos recebido pouco! Para a Psicologia, longe de ser algo imediato, perdão é um processo que começa com uma decisão, depois com o elaborar da raiva, seguido de um let go paulatino, que vai nos fortalecendo e nos liberando para a saúde mental.

Muitos se entristecem porque se veêm diante de um dilema em que uma hora ou outra todos acabamos caindo, a decisão do tipo de pessoa que seremos, o que semearemos para colher no futuro, que lições aprendemos dos erros passados, aquela hora da bifurcação em que sabemos que se tomarmos um certo caminho perderemos coisas do outro, mas a escolha se torna mais inevitável a cada passo...Não podemos viver mil vidas, só temos uma e queremos que ela valha a pena! MAS QUAL É A VIDA QUE VALE A PENA? Isso cada um deve responder por si mesmo.

Eu particularmente não vejo sentido em uma vida de mentiras e ardis, gosto e preciso de simplicidade, de leveza, de verdade, de sentimentos profundos e sinceros, de liberdade para expressar o que sou e o que penso sem desrespeitar os outros, de estabilidade (aquela possível, porque as circunstâncias da vida são como um mar revolto e nós um barquinho, né?), de equilíbrio e de algumas certezas dentro de todas as incertezas que nos cercam. Acima de tudo, gosto de espaço para ser quem sou e gosto de confiança: em mim mesma, em Deus e nas pessoas!

Ouvi no sábado que é lindo o fato de eu ser uma menina dentro de uma mulher, e eu que já cheguei a achar que isso era algum “defeito de fábrica”...rs...Fiquei feliz e mais tranqüila comigo mesma depois disso, porque eu sinto que no futuro continuarei sendo uma menina e uma mulher dentro de uma senhora de idade, e na verdade não tem nada mais gostoso do que rir e brincar como criança, do que ficar vermelha quando um cara interessante diz que você é linda, do que amar as pessoas de forma plena e inocente sem pensar muito, enfim, é bom demais ter uma menina dentro de mim sempre, e é bom demais saber que isso não me impede de me relacionar como todo mundo e de ser feliz.

AFINAL, O QUE É SER UMA MULHER? A Simone Beauvoir diz que mulher não se nasce, se torna, de modo que terei a vida inteira para responder a essa pergunta...rs...Eu adoro ser mulher, esse mistério infinito.

Incrível como tenho sido colocada ao lado de pessoas nesse lugar da vida, só nesse final de semana foram 2, um homem e uma mulher, duas situações diferentes, mesma leitura: Você precisa decidir quem você é e seguir em frente nessa escolha!

Bom guardarmos dentro de nós as coisas boas de ser meninos, a alegria, a liberdade, a espontaneidade, a esperança, a fé, o amor...Outras coisas temos que deixar para trás: o ânimo dobre, os medos infundados que viram covardia, a irresponsabilidade, o egoísmo, a impulsividade vinda da falta de reflexão, essas coisas são ruins e fazem a gente ficar sempre presos em labirintos, nunca chegando a lugar algum, na real são AUTOBOICOTES que vivemos colocando sobre nós mesmos, uma droga!!!

Sobre esperança, vale a pena assistir “A Vida Secreta das Abelhas”, pode demorar, mas sempre encontraremos o nosso lugar, lá onde receberemos o que precisamos, lembrando que não precisamos de perfeição, mas sim de amor, amor verdadeiro!

domingo, 27 de junho de 2010

Ogros (as) e/ou Príncipes (esas)

A pergunta é: Quando começamos a notar a diferença? Sim porque quando estamos apaixonadas tudo fica um tanto quanto nebuloso...Perdoamos as grosserias na esperança de que as gentilezas venham, e elas sempre vem, no início num montante bastante razoável, com o passar do tempo se tornam raras e, em certo ponto, em certos casos, nulas.

Por que tornamos a hostilidade nosso modo de vida? Por que magoamos as pessoas mais importantes das nossas vidas? Por que cobrimos tudo com exigências absurdas e perpetuamos nossas frustrações com expectativas irreais? Por que não podemos simplesmente existir ao lado das pessoas, respeitá-las, tratá-las bem, sermos graciosos? É tão simples ser bom e tão difícil ser cruel e ardiloso e ainda assim, optamos pela segunda versão de nós mesmos sempre.

Essa semana vi um homem experiente e inteligente ferir os sentimentos de uma menininha de 6 anos linda e inocente, por nada...Ele desconsiderou sua feminilidade, sua delicadeza de botão de flor, sem nenhum motivo, nenhum mesmo! Ela apenas sorriu e inclinou a cabecinha para o lado, muito constrangida, sem graça, sem resposta, saiu caminhando e foi para o quarto, ficou quietinha lá, sofrendo em silêncio como viu tantas vezes outras mulheres da sua família fazendo, ela amava aquele cara, muitas vezes ele lhe dava atenção, ela simplesmente não sabia o que pensar daquela situação...A pergunta é: Por quê??? O que de interessante e útil existe na estupidez? O que de produtivo pode surgir da grosseria gratuita? Podemos chamar de amor o que nos destrói ou é mera neurose perpetuada de geração a geração???

O que temos de bom para ensinar para uma criança? O que vamos deixar para as próximas gerações? Sei lá, fiquei muito triste com essa história, muito mesmo...

ODEIO: Grosseria gratuita, gritaria, estupidez, ofensas desnecessárias, hostilidade (explícita ou implícita), brigas inúteis, maus tratos, discussões vazias, agressividade sem razão de ser, desrespeito, todo tipo de agressão idiota, feita por nada, revelando nossa natureza de besta do campo e que destrói a liberdade e o direito do outro de existir e de ser quem ele é. ODEIO MESMO!!!!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Fantasmas e egoísmo

Depois de assistir Toy Story 3 no cinema com minha sobrinha de 10 anos, que assim como eu chorou quando o Woody se despede do Andy..rs..Fui para casa e, sem sono, acabei assistindo esse filme bobinho chamado “Minhas Adoráveis ex-namoradas”, um DVD pirata que ela me emprestou junto com o “Lua Nova” porque : - Tia, você tem que ver o Lua Nova, senão como vai acompanhar o Eclipse comigo na semana que vem??? Ossos do ofício...rs...

O tal das ex-namoradas conta a história de um cara que se apaixona na adolescência e acaba perdendo a bela para um destes pegadores de plantão por pura falta de iniciativa, sofre horrores e com a ajuda de um tio canalhão vira o terror da mulherada, um pesadelo de misoginia e coração de pedra, capaz de destruir até o casamento do irmão caçula que o ama de verdade.

O dito recebe a visita de fantasmas do seu passado (paródia meio tosca do Scrooge, lembram? Aquele dos natais passados) que mostram a ele que, afinal, um dia ele foi um ser humano...rs...O final é bonitinho e muito previsível, ele pede perdão para a mocinha que ele ama e para o irmão, faz a cunhada reconsiderar e tudo fica bem.

E tudo isso vem bem a calhar para ilustrar a teoria de um amigo meu do mestrado a respeito do chamado “ciclo de canalhice”, ele diz que funciona assim: uma garota boazinha se apaixona por um canalhão, ele a faz de gato e sapato, ela fica de coração partido e decide nunca mais passar por isso, daí pega um pobre garoto do bem, acaba com a vida dele e ele decide que nunca mais vai amar ninguém, e o ciclo se perpetua.O egoísmo virando técnica de sobrevivência na selva dos relacionamentos e todo mundo sozinho, vazio e infeliz, mas todo mundo se sentindo seguro...

Well, sendo bastante racional, uma sociedade baseada apenas na satisfação do indivíduo não tem muito futuro, a cada dia vemos tudo se tornando puro consumo, o hedonismo é a maior das armadilhas porque na real, se tudo é prazer, nada é prazer. Os egoístas de plantão que me desculpem, mas por trás do seu enorme EU, só existe medo e covardia! Será que todos acabaremos como bebês gigantes, mimados e eternamente carentes? Será que não somos mais capazes de caminhar em nosso desenvolvimento emocional e descobrir que existe o outro e que esse outro é parte fundamental de quem somos?

E me digam aí, qual é a de ter que pegar o maior número de mulheres possível? Ouvi ontem de uma atriz (linda e famosa) na TV que no casamento monogâmico você tem a real oportunidade de se aprofundar muito mais em suas experiências sexuais, porque a intimidade te proporciona um real conhecimento do seu corpo e do corpo do outro e que transar com um a cada noite é como estar sempre comendo só as bordas da tigela. Logo, continuamos no medo e na covardia, não queremos envolvimento real (nem mesmo sexual), apenas a bordinha, seguimos infelizes e vazios, anestesiando essa dor com álcool, drogas, sexo fácil, TV, muita comida ou tudo isso junto, qualquer coisa que não nos faça lembrar que existe vida lá fora do castelo que construímos. Somos bonecos emocionais, mas estamos seguros...

Por que não temos coragem de ir além da página 5 da vida? Alguns culpam os erros dos pais, outros da sociedade e no que tange às crianças eu até concordo, mas somos adultos agora, temos o poder e a liberdade de escolher as coisas. Por que continuamos a viver assim? Por que permanecemos escravos do medo? Dia após dia a vida vai se escoando, e ficamos a mercê do tempo e da sorte, nos enrolando propositadamente em relações ruins e confusas, perpetuando as sombras, com preguiça de lutar pelo que vale a pena sem notar o poder de destruição que essa suposta vida fácil tem sobre nós, engraçado como a liberdade vem sendo corrompida em cadeias, mas cadeias encapadas de pelúcia cor-de-rosa...

Aos que como eu continuam nadando contra a maré, a boa notícia é que nossas fileiras estão se engrossando, cada dia mais gente vem despertando e no fim, com a graça de Deus, valores perdidos serão recuperados, e toda essa experiência de andar na contra-mão há de nos enriquecer e nos preservar para que no futuro, se coisas ruins acontecerem, a gente não precise radicalizar e inventar uma era hippie que começou com belos ideais e depois descambou para uma alucinação coletiva (e que resultou em uma geração inteira de crianças eternas perdidas e sem sentido na vida), mas possamos perceber a tempo o quê e como deve ser mudado, sempre para o bem de todos.

E no fim, o maior dos dons segue sempre sendo o Amor...Ele será sempre a grande estratégia, ele que não se omite de cuidar, de ensinar, de proteger, de corrigir, de deixar crescer, enfim, de fazer viver.

domingo, 13 de junho de 2010

Aventuras no metrô...

Desde que optei por trabalhar perto de casa (luxo dos luxos: ir a pé trabalhar...rs..) minhas jornadas via metrô e outros transportes públicos, especialmente em horários de "rush", diminuíram consideravelmente. Sendo assim, quando sou obrigada a isso (por minha tutora, que me pede desesperadamente para cobri-la num certo teste e para tanto tenho que estar na faculdade as 8h00), acabo sempre tendo alguma experiência nova, algumas cômicas (como quando presenciei duas moças se estapeando na Sé, ou quando vi dois frangos congelados fugirem heroicamente de uma sacola e rolarem corredor abaixo...), outras irritantes (como quando fiquei quase uma hora num dia de chuva, sentada ao lado de um cara discutindo com a namorada no celular), mas algumas realmente interessantes, como a desta sexta-feira.

Pra variar metrô lotado por volta das sete: empurra-empurra, eu tentando tirar o casaco para não passar calor demais no meio da multidão e me entra essa senhorinha na estação Vila Matilde, espremendo todo mundo para entrar dizendo que em coração de mãe sempre cabe mais um. A moça logo à sua frente, a quem ela literalmente jogou para o meio do vagão e que estava com aquela expressão clássica de quem pega metrô cedo e é esmagado, olhou para a velhinha com algum desconcerto e recebeu de volta um enorme sorriso:

- Olha, filha, você me desculpe, mas é que não gosto de me atrasar para o trabalho, sabe faz 16 anos que trabalho naquela escola e me orgulho muito de ter me atrasado pouquíssimas vezes e sempre com boa razão...

Dali em diante começou a contar que ficou órfã e sozinha no mundo com 14 anos, teve que trabalhar em casa de família para não morrer de fome ou ir parar em orfanato.

- Imagine, menina-moça sozinha por aí, só podia dar em porcaria, mas dei sorte, fui trabalhar com essa família, eles me deixaram completar o primeiro grau, cuidaram de mim e me davam um salário.

Continuou contando que aos 16 anos se inscreveu num programa do governo para menores que queriam trabalhar, depois conseguiu passar num concurso público para ajudante de serviços gerais e então conseguiu alugar uma casinha para ela.

- Foi o dia mais feliz da minha vida, a casinha era pequena, mas era só minha, imagine eu tinha só 16 anos, o casal com quem trabalhei antes alugou no nome deles para me ajudar.

Seguiu contando o quanto gostava do trabalho, de algumas amizades que tinha por lá, explicou da escola que estava atualmente e que pretendia se aposentar nela. Muita energia, muita vivacidade, uma espontaneidade de criança, falava pelos cotovelos contando a vida para umas 200 pessoas sem nem pestanejar, sem nem dar-se conta se estava ou não sendo ouvida.

Fiquei pensando na relação que temos com trabalho, no conceito de trabalho que me parece tão equivocado em nosso país e no fato de que caráter realmente vem de berço, afinal, quantos no lugar dela teriam construído para si uma vida tão digna? Tão decente? Sozinha no mundo aos 14 anos de idade, desprotegida, uma menina...

O que faz alguém ter uma atitude tão positiva diante das circunstâncias mais adversas enquanto outros com tantos benefícios se entregam aos estilos de vida mais banais, tóxicos ou depressivos? Usam como desculpas os pais, a falta de oportunidades, se entregam ao fracasso aos 25 anos chorando como bebês mimados o fato de serem um bando de acomodados.

Será que a felicidade está mesmo nas coisas simples? Tenho ouvido tanto a respeito de expectativas irreais e como isso nos transforma em frustrados crônicos, que simplesmente são incapazes de gozar o que de bom a vida nos dá, por sempre estar presos ao que não tem. É nisso que se resume a vida: ao que temos e ao que não temos? Seremos escravos para sempre do gramado do vizinho?

Você imagina alguém ter o dia mais feliz de sua vida simplesmente por ter conseguido uma casinha minúscula para morar? Eu imagino. Uma coisa que a vida tem me ensinado é a aproveitar os momentos alegres. Adoro festas de família, adoro ver que o girassolzinho que plantei nasceu, adoro comprar ração nova para as minhas gatas e ver como elas ficam excitadas com isso, adoro descobrir músicas novas que eu gosto, adoro ler livros bons e chorar quando acabam porque não queria que acabassem, adoro tomar capuccino e sentir aquele gostinho amadeirado de canela no final, adoro ver meus sobrinhos de bochechas cor-de-rosa e vestindo capuzes no inverno, adoro ver meu pai orgulhoso da sopa que ele mesmo fez, adoro ver minha mãe contente porque o cabelo está lindo, adoro ver as pessoas que eu gosto rirem até doer a barriga, adoro tomar vinho de sexta-feira a noite até ficar alegre, adoro conversas que duram horas e todo mundo sai melhor depois delas, adoro quando minha faxineira limpa minha casa e dá vontade de deitar no chão de tão cheiroso que ele fica, adoro trabalhar até sentir o corpo cansado e depois de tudo saber que deu tudo certo e valeu a pena. Adoro os detalhes das pessoas, aquela curvinha do pescoço, as sobrancelhas, as mãos, os gestos e maneirismos que fazem cada pessoa única, os cheiros, as vozes e pezinhos de bebê...

Existem milhares de razões para amarmos viver, minha avó Khajija (Radige) que o diga, minha mãe diz que sonha com ela as vezes e nos sonhos ela está sempre rindo, só rindo, nunca diz nada, só ri...Falei: - Também mãe, era só isso que a vó fazia mesmo! Ela fazia as melhores festas, o melhor Natal, era a melhor companhia para ir para a praia e para quando a gente estava triste, lembro da gente pulando que nem malucas na cama de molas dela e ela jogando travesseiros na gente, dizendo: - Desçam já daí suas merdinhas...Nunca pensei que sentiria tanta saudade de alguem me chamando de merda...rsrsrsrsrs...mas era carinhoso demais pra gente se importar com o vocabulário e sim, minha avó falava palavrão e em 3 línguas...rs...Ela era fantástica!

Engraçado começar com a senhorinha do metrô e terminar com minha avó, o que as duas tinham em comum? Alegria de viver! Alegria de trabalhar! Alegria de ser elas mesmas! Alegria, Alegria...

E diz a Bíblia que “...a alegria do Senhor é a nossa força..”

terça-feira, 8 de junho de 2010

Torradas Queimadas

Não estava conseguindo escrever nada essa semana, um nó na garganta e a mente sem a menor criatividade, daí recebi esse texto de uma amiga muito especial e achei que era perfeito para a ocasião.

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Quando eu ainda era um menino, ocasionalmente, minha mãe gostava de fazer um lanche, tipo café da manhã, na hora do jantar. E eu me lembro especialmente de uma noite, quando ela fez um lanche desses, depois de um dia de trabalho, muito duro.

Naquela noite longínqua, minha mãe pôs um prato de ovos, linguiça e torradas bastante queimadas, defronte ao meu pai. Eu me lembro de ter esperado um pouco, para ver se alguém notava o fato. Tudo o que meu pai fez, foi pegar a sua torrada, sorrir para minha mãe e me perguntar como tinha sido o meu dia, na escola.

Eu não me lembro do que respondi, mas me lembro de ter olhado para ele lambuzando a torrada com manteiga e geléia e engolindo cada bocado.

Quando eu deixei a mesa naquela noite, ouvi minha mãe se desculpando por haver queimado a torrada. E eu nunca esquecerei o que ele disse:

" - Amor, eu adoro torrada queimada..."

Mais tarde, naquela noite, quando fui dar um beijo de boa noite em meu pai, eu lhe perguntei se ele tinha realmente gostado da torrada queimada. Ele me envolveu em seus braços e me disse:

" - Filho, sua mãe teve um dia de trabalho muito pesado e estava realmente cansada... Além disso, uma torrada queimada não faz mal a ninguém. A vida é cheia de imperfeições e as pessoas não são perfeitas. E eu também não sou o melhor marido, empregado, ou cozinheiro!"

O que tenho aprendido através dos anos é que saber aceitar as falhas alheias, escolhendo relevar as diferenças entre uns e outros, é uma das chaves mais importantes para criar relacionamentos saudáveis e duradouros.

Essa é a minha oração para você, hoje. Que possa aprender a levar o bem ou o mal colocando-as aos pés do Espírito Santo. Porque afinal, ele é o único que poderá lhe dar uma relação na qual uma torrada queimada não seja um evento destruidor."

De fato, poderíamos estender esta lição para qualquer tipo de relacionamento: entre marido e mulher, pais e filhos, irmãos, colegas e com amigos.

Não ponha a chave de sua felicidade no bolso de outra pessoa, mas no seu próprio. Veja pelos olhos de Deus e sinta pelo coração dele; você apreciará o calor de cada alma, incluindo a sua.

As pessoas sempre se esquecerão do que você lhes fez, ou do que lhes disse. Mas nunca esquecerão o modo pelo qual você as fez se sentir.

(autor desconhecido)

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A gente sabe quando realmente ama alguém, se somos capazes de ver tudo que existe de bom e de não tão bom e ainda assim querer essa pessoa perto da gente. Espero que todos os que eu amo possam aceitar minhas torradas queimadas de vez em quando porque certamente elas existem...rs...Quanto a mim, certamente tenho muito o que aprender sobre perdoar, mas de acordo com o que aprendi no cristianismo a vida inteira, se existe tal intenção no coração, Deus nos capacita, né?

domingo, 23 de maio de 2010

Pijamas de flanela

Felicidade, em francês, significa encontro. (bonheur=boa hora)

“A felicidade só é possível quando a pessoa suporta aquilo que a destaca da normalidade...” Lacan

Sonhei com pijamas de flanela essa noite, sonhei de novo com a menininha com quem venho sonhando desde os 14 anos, eu já a vi bebê com a carinha suja de sopa na cozinha, já a vi maiorzinha destruindo castelos de areia na praia, já a vi em meu colo, no colo de outras pessoas, já a vi perdendo os dentes e chorando muito, e desta vez ela apareceu um pouco maior e vestindo um pijama de flanela azul clarinho com florzinhas amarelas, muito parecido com um pijama que tive, um que minha avó materna seguia fazendo pra gente, conforme a gente crescia: mudavam as estampas, o modelo ficava, até que não usei mais pijamas de flanela. Tinha me tornado mocinha e ganhei minha primeira camisola de seda, assim meio brega, cor-de-rosa (nunca fui muito de cor-de-rosa), coisas de famílias de mulheres...rs..

Se essa menina sou eu, se é a filha que quero ter, se é uma parte da minha psique demonstrando as coisas que preciso desenvolver não sei, só sei que ontem ela estava feliz e luminosa, estava se olhando num espelho antigo, com um sorriso aberto e olhos brilhantes, os cabelos soltos balançavam um pouco conforme ela se movia e ela se movia para senti-lo nas costas, como eu sempre fazia. Ela me olhou pelo espelho e começou a dizer uma coisa, primeiro não conseguia ouvir e comecei a me sentir triste e muito angustiada porque parecia algo importante, ela ficava repetindo e repetindo e então entendi, ela dizia:

- Amo você assim mesmo! Você é tão linda...

Daí saiu correndo por uma porta que eu não tinha visto antes, tentei segui-la, mas ela tinha ido embora, sem mais nem menos, como sempre que sonho com ela. Em outras vezes meu coração doía quando ela partia, como se ela tivesse morrido ou algo assim, mas dessa vez não, eu estava feliz e plena, sorrindo com orgulho da minha pequena, tão leve e tão confiante, parece que ela nasceu pra ser feliz!

O inconsciente tem destas coisas, não?

Por que de pijamas? Porque adoro pijamas, porque aqueles pijamas de flanela saídos das mãos da minha avó eram um abraço quente pra proteger a gente do inverno, eram macios e confortáveis como eu gosto e como eu sou (por dentro e por fora). Nunca mais vou deixar as circunstâncias me tirarem a alegria de dar pras pessoas, dar tudo, principalmente a mim mesma!

Por que o espelho? Porque fazia tempo que eu não olhava pra mim mesma, e como é bom o que eu vejo naquele reflexo, algo incomum, é fato! Mas algo muito bom, muito bonito e muito amável. Algo a ser compartilhado!

Por que a menina? Porque uma parte de mim vai ser essa menina pra sempre, eu sou criança, eu adoro crianças, eu quero ser sempre criança diante de Deus e das pessoas, porque na inocência e na candura está o Reino dos Céus. Porque eu odeio esse mundo sujo e cheio de ódio, interesses mesquinhos e vazio existencial dos chamados “adultos”.

Por que amor? Porque Deus é amor, o amor gera toda a vida viva que existe neste mundo de morte. Eu preciso amar, preciso ser amada e preciso viver em amor. Isso é tudo o que eu preciso, tudo o que você precisa, tudo o que qualquer pessoa precisa. Clichê? Demodè? Dane-se, eu nunca fui igual aos outros mesmo...Digo o que quero, penso o que quero, vivo como quero, EU SOU LIVRE E EU AMO quem eu quero amar, do jeito que eu quiser amar e fim.

Uma professora disse esses dias que somos privilegiados porque podemos escolher o que fazemos da vida, achei bonito isso, eu sou mesmo muito privilegiada por poder viver da maneira como escolho viver e trabalhar como quero trabalhar, a liberdade é uma das maiores bênçãos que Deus nos dá, e devemos estar alertas para não nos tornarmos escravos das coisas, coisas que nos impedem de viver e ter da vida o que precisamos para sermos nós mesmos e verdadeiramente felizes. Preconceito é uma dessas cadeias, medo é outra...Comodismo é a pior delas, essa que é irmã da covardia!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Mario Benedetti

Sábado, 13 de julho

Ela está ao meu lado, adormecida. Estou escrevendo numa folha solta, esta noite transcrevo para a caderneta. São quatro da tarde, o final da sesta. Comecei a pensar numa comparação e terminei em outra. Está aqui ao meu lado, o corpo dela. Lá fora faz frio, mas aqui a temperatura é agradável, mais para quente. O corpo dela está quase descoberto, a manta e o lençol deslizaram para um lado. Quis comparar o corpo dela com minhas lembranças do corpo de Isabel. Evidentemente, eram outros tempos. Isabel não era magra, seus seios tinham volume, e por isso caíam um pouco. Seu umbigo era fundo, grande, escuro de margens grossas. Seus quadris eram o melhor, o que mais me atraía; tenho uma memória táctil dos seus quadris. Seus ombros eram cheios, de um branco rosado. Suas pernas estavam ameaçadas por um futuro de varizes, mas ainda eram bonitas, bem torneadas. Este corpo que está ao meu lado não tem nenhum traço em comum com aquele. Avellaneda é magrinha, seu busto me inspira um pouquinho de piedade, seus ombros estão cheios de sardas, seu umbigo é infantil e pequeno, seus quadris também são o melhor (ou será que os quadris sempre me comovem?), suas pernas são delgadas, mas bem feitinhas. No entanto, aquele corpo me atraiu, e este me atrai. Isabel tinha, em sua nudez, uma força inspiradora, eu a contemplava e imediatamente todo meu ser era sexo, não havia como pensar em outra coisa. Avellaneda tem em sua nudez, uma modéstia sincera, simpática e indefesa, um desamparo que é comovedor. Ela me atrai profundamente, mas, aqui, o sexo é só uma parte da sugestão, do chamamento. A nudez de Isabel era uma nudez total, mais pura talvez. O corpo de Avellaneda é uma nudez com atitude. Para amar Isabel, bastava sentir-se atraído pelo seu corpo. Para amar Avellaneda, é necessário amar o nu mais a atitude, já que esta é pelo menos metade do seu atrativo. Ter Isabel entre os braços significava abraçar um corpo sensível a todas as reações físicas e capaz também de todos os estímulos lícitos. Ter em meus braços a concreta magreza de Avellaneda significa amar além disso seu sorriso, seu olhar, seu jeito de falar, o repertório de sua ternura, suas reticências em entregar-se por completo e as desculpas pelas reticências...Pobre Isabel. Agora me dou conta de que falava com ela muito pouco. Às vezes não achava assunto de que falar...Já eram bastante eloqüentes nossas noites. Isso era o amor? Não tenho certeza...Mas eu não me iludo. Tenho bem presente que estou hoje com 49 anos e quem quando Isabel morreu, eu estava com 28. Não tenho a menor dúvida de que, se Isabel aparecesse agora, a mesma de 1935...uma Isabel de cabelos negros, de olhos buscadores, de quadris tangíveis, de pernas perfeitas, não tenho a menor dúvida de que eu diria:”Que lástima” e iria procurar Avellaneda.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Sedução

“Ninguém a outro ama, senão que ama o que de si há nele, ou é suposto.”
Fernando Pessoa


Esses dias, conversando com um grande amiga, acabamos nesse assunto da sedução, de que isso é possível, de que existem formas de se fazer, e tudo mais. Meu primeiro impulso foi o de concordar, sim, existem milhares de maneiras de se levar alguém a fazer o que queremos, ainda mais se formos perspicazes, inteligentes, minimamente atraentes e um pouco carismáticos. No fim, a vítima está ali, aos seus pés, encantado com o quê? Uma miragem que criamos para atrair? Meio que preso numa armadilha montada passo a passo, uma armadilha muito boa, às vezes, mas ainda assim pouco espontânea e muito ardilosa.

Fernando Pessoa diz que para amar alguém precisamos reconhecer o que de nós existe no outro, outros autores também defendem uma idéia parecida, Jung diz que nos unimos a alguém que pode dar voz a uma parte de nós mesmos que não conseguimos expressar. Desse modo, a sedução pode despertar grandes paixões, mas não o amor verdadeiro, pois esse vem do reconhecimento real do outro como semelhante, e se o outro não é verdadeiro conosco, é produto de um projeto de sedução, não haverá tal reconhecimento.

Naturalmente não falo aqui das pequenas e grandes coisas que fazemos para tornar nossos amores mais felizes, falo das pequenas e grandes manipulações que utilizamos no sentido de obrigar alguém que muitas vezes nunca se viu em nós ou conosco a tornar-se cativo de um sentimento baseado em mentiras e, porque não dizer, puro interesse. Se desejamos o amor verdadeiro, devemos ser verdadeiros, vender produtos pode ser muito útil no mundo dos negócios, mas é uma roubada no mundo das relações.

Sobre a questão do apaixonar-se chegamos à conclusão de que isso é coisa de adolescente, uma coisa muito louca, algo que nos cega para quem o outro é, para quem nós somos e destrói qualquer possibilidade de um relacionamento verdadeiro com alguém real. Sentimento baseado em mentiras que nos contam e que contamos para nós mesmos! Podemos sim nos apaixonar 100 vezes por quem amamos, mas dificilmente aprendemos a amar as pessoas por quem nos apaixonamos, sentimento baseado em fantasia não se concretiza no mundo das pessoas reais, com defeitos reais e limitações reais.

sábado, 17 de abril de 2010

CHERI...ESCRITO ASSIM MESMO...

“ E nossa vida escassa
Corre tão depressa
Que, quando se começa.
É acabada...”
Luís de Camões

Acho que todo mundo, ao menos uma vez na vida, em menor ou maior escala, se apaixona por alguém muito mais velho e/ou muito mais jovem.

Para o mais velho, além da vaidade saciada pelo desejo de alguém mais novo ( alguém com carnes firmes, corpo rijo, pele lisa ) e que muitas vezes poderia ter quem quisesse em sua própria faixa etária, fica ainda a ilusão temporária de se poder vencer o inexorável do tempo.

Para o mais jovem, além da tentativa inócua de se descobrir o futuro no outro (tentando apreender por osmose aquilo que só se aprende vivendo na prática), ainda a doce tentação de não precisar crescer nunca, de seguir dependente da experiência e da plenitude de quem já viveu tudo o que ele ainda precisar viver e construir.

Sempre um encontro fulminante, recheado de fantasias que a psicanálise ainda chama de edípicas, encontro que em geral traz a tragicidade do efêmero e do irrealizável emocionalmente.

Em CHERI, filme estrelado pela sempre linda, mesmo envelhecendo sem plásticas, Michelle Pfeiffer, o truque cruel desses amores transgeracionais fica bem ilustrado. O final é bastante previsível, recheado em fragilidades, impossíveis e tragédias.

Fica também acentuada no filme a eterna pergunta que nos assombra: Afinal teremos mesmo apenas um amor na vida? E se temos sabemos reconhecê-lo? E quando reconhecemos como agimos diante dele? E quando é impossível?

Seguindo em minha atitude resignada de nunca desistir, talvez na minha lápide meus amigos escrevam: - Nunca desistiu de procurar seu amor...rs...E talvez eu o encontre não concentrado em um único homem, mas fragmentado em todos esses meus queridos e queridas com quem compartilho de perto e de longe quem sou...Ou talvez eu finalmente encontre o tal homem, Deus sabe!

Na verdade, bom mesmo é construir o amor, o sonho serve para nos inspirar, o desejo nos impulsiona a prosseguir, mas é em cada pequeno tijolo assentado dia após dia que realmente nos encontramos com o outro. E esse esforço exige duplas mais parelhas, parcerias equivalentes, mais afinadas, mais capazes de compartilhar, de cooperar, de se conectar...Para tal, meus caros, alguns arranjos são imprescindíveis e perdoem minha visão meio vitoriana (Jane, Jane, vc sempre tem resposta pra tudo...rs...), mas esses arranjos também incluem questões de faixa etária, o limite cada um sabe qual é pra si.

Se viver nesse mundo é estar numa guerra épica (e é!), não serão os belos e impetuosos Pátroclos que me seduzirão, ainda que seja muito confortador admira-los...rs...Nem tampouco os sábios e vividos Príamos, ainda que ame conversar com eles, receber suas atenções, admirar seu charme e aprender! Na real, estou na fase dos Hectors, dos Ulisses, dos Aquiles da vida, estou no tempo de amar guerreiros experientes, mas ainda vigorosos...rs..Não vou desperdiçar minha plenitude nem caçando em vão a eterna juventude, nem me algemando na doce, mas castradora dependência...Quero construir junto o castelo, quero ir junto para a batalha como fez minha corajosa Deborah, como fez a rainha Ester, como fez Abigail e tantas que sabiam quem eram e não abririam mão disso. Não quero nem menino, nem velho...quero um homem! Porque também não sou menina, nem velha, sou uma mulher...E tudo fez Deus formoso em seu devido tempo!

sábado, 3 de abril de 2010

Sexta Santa, Domingo de Páscoa e as coisas em que creio...

O chamado Cristo entrou em minha vida muito, muito cedo...ainda bebê de meses ouvia os cânticos e as preces ao meu redor! Depois passei a entender as histórias do livro preto, algumas estranhas e cheias de guerras, outras amáveis e cheias do amor de um Deus que até hoje não ouso tentar compreender por inteiro, isso por pura impossibilidade, dada sua imensa complexidade e mistério.

Na adolescência me debati diante de todas as regras e dogmas impostas por um dos ramos do dito cristianismo, já um pouco mais velha e seduzida pela personalidade de um homem único, corajoso, um tanto subversivo para sua época e com tantas convicções geniais, acabei por ir atrás do que C. S. Lewis (um grande e livre pensador, também seduzido pela alegria de descobrir esse homem) chamou de "Cristianismo Puro e Simples", encontrei o que minha sede pelo sagrado procurava, um grande Leão, também um homem simples, um grande Sábio que amava as crianças e redimia as mulheres do desprezo de uma sociedade injusta onde o mais fraco era sempre esmagado, desprezado e impedido de se expressar, de ser...Encontrei um Deus que experimentou tudo o que o ser humano vivencia, tudo de bom, tudo de ruim, foi provado, tentado, desprezado, traído, assassinado, também foi amado, homenageado, admirado, seguido, apoiado, e imortalizado, pelo poder de Deus, pela vitória do seu sacrifício, por esse insondável e divino amor que nos constrange!

Essa semana me perguntaram como justo eu sendo tão "inteligente" podia precisar acreditar num ser superior que me acolhe, perdoa e me ama como sou, porque simplesmente não podia aceitar que só existe esse mundo, que nascemos, morremos e vivemos sozinhos? Respondi que se já nascemos com a necessidade de sermos amados, cuidados e acolhidos e se a própria Psicologia diz que isso é saudável, não havia nada de tão estranho em querer um Deus me amando e me acolhendo exatamente como sou e que se isso me dá suporte, força e sentido na vida, me tornando uma pessoa melhor, não pode ser tão absurdo assim!

Sim, eu creio em Deus Pai Todo Poderoso e Criador do Céu e da Terra (pouco importando se Ele fez isso em 7 dias ou em 7 eras...rs...), creio em Deus Filho, meu Amado Jesus Cristo que se encarnou, nasceu da virgem Maria (pouco importando se ela continuou ou não virgem depois disso), andou por esse mundo pregando sobre o Reino de Deus, curando e fazendo milagres por 33 anos e morreu, morte de cruz, sendo inocente, sofreu para reconciliar o homem com Deus eternamente e ressuscitou no terceiro dia, vencendo a morte, o diabo e o pecado eternamente também, creio em Deus Espírito Santo, meu Consolador querido que intercede por mim com seus gemidos inexprimíveis porque não sei orar como convém e que também completa a obra de Deus em minha vida, me fazendo ser a cada dia uma pessoa melhor e mais parecida com Jesus.

Ser cristã é uma das coisas que me define como pessoa nesta Terra, é uma das coisas das quais mais me orgulho aqui, lembrando que não nego todos os erros eclesiásticos seja de católicos, de protestantes, de ortodoxos, de evangélicos e de qualquer um que se chame cristão...A igreja é feita de pecadores, mas Jesus é perfeito e é nEle que eu creio, hoje, sempre...Amém...

sábado, 13 de março de 2010

Por que gosto do Jeff Bridges...

“ Kiakudikila, kiazanga...”
(O que se mistura separa...)
Luandino Vieira – Luanda
(VIEIRA, José Luandino.Lourentinho, Dona Antonia de Souza Neto & Eu.Estórias.Luanda: Edições Maianga, 2004)


Quando me propus a estudar o que ando estudando, a saber, os Distúrbios do Desenvolvimento, nunca imaginei que teria que fazer tal esforço de refletir sobre tantas coisas diferentes, analisadas sobre tantas abordagens diferentes, acrescentar a isso tudo o que é próprio meu e que já é o resultado de tantos pensamentos e sentimentos diferentes e chegar à conclusões sempre com tantas facetas diferentes...rs...E nesse exercício, manter meu eixo e ser capaz dessa salada toda retirar uma essência única, coerente e viável de se aplicar à um trabalho! Em uma palavra (e minha professora me mataria se ouvisse uma definição tão maluca) INTERDISCIPLINARIDADE! Algo mais ou menos no contexto de um intercâmbio ativo dos saberes com um propósito definido.

Depois de pensar sobre isso por uma semana inteira, me coloco a assistir o Oscar para espairecer, ver os vestidos das atrizes (aliás onde se meteram a Nicole Kidman e a Angelina Jolie?), a beleza dos atores (saudades do Brad Pitt, ainda bem que o Keanu Reeves compareceu...rs...) e claro, assistir o magnífico Jeff Bridges ganhando o Oscar.

Sempre gostei dele! Especialmente pelos papéis que escolheu durante toda sua carreira, sempre grandes papéis (destaques: Pescador de Ilusões, Grande Lebovisci – é assim que se escreve? ...rs... entre outros), sempre grandes interpretações, sempre aproveitando seu talento e beleza em performances que fizessem sentido para ele, certamente nunca foi o mais bem pago de Hollywood, mas com certeza, sempre muito respeitado!

Na hora da apresentação dos atores surge a sempre lindíssima (mesmo mais velha e sem plástica) Michelle Pfeiffer, indicada (aliás muito merecidamente, ela está ótima no filme) ao Oscar por “Susie e os Baker Boys” (personagens densos, relações complexas, muito de humano em cada atuação e o meu favorito dele até hoje, afinal que mãos são aquelas??? ...rs...), ainda preciso assistir o filme novo...Ela começou a falar sobre o talento e perfeccionismo de Jeff, detalhes de sua relação durante as filmagens e coisas assim, mas foi quando ela passou a elogiar a vida respeitável que ele construiu para si mesmo, junto à sua família, esposa e filhas que os olhos dele se encheram de lágrimas!

Bom, quem me conhece sabe que a hora em que ele me conquistou pra sempre foi ao agradecer à esposa, com quem vive faz mais de 30 anos, com quem teve 3 filhas e a quem ainda ama (estava na cara dos dois chorando que isso era um fato) !!! Ele é muito mais do que um cara bonitão, com grande talento e sucesso na vida, ele é um ser humano a quem se pode respeitar por seus valores, por sua maneira de ver e ser no mundo! Alguém que soube priorizar as coisas realmente valiosas de sua vida, e quando o sucesso e o reconhecimento chegam tudo é por completo! Não sei detalhes de sua vida, se houveram períodos ruins, fases difíceis, erros grandes e pequenos, imagino que sim...Mas se houveram, houve também superação, reconstrução, recuperação, ou uma cena daquelas não teria acontecido!

O que o Jeff Bridges tem a ver com Interdisciplinaridade? Ando ficando maluca de tanto estudar? Ainda acho que não, mas até o final desse mestrado tudo é possível...rs...

A relação entre os dois assuntos é simples e óbvia, não existe interdisciplinaridade se não houver uma atitude de humildade e abertura para o saber do outro, um respeito mútuo, uma troca constante, uma postura de ouvinte ativo e comunicador generoso, uma capacidade de empatia e de envolvimento genuíno com o que o outro tem a repartir...Também não existe sucesso em nenhum tipo de relação, seja com outras pessoas, seja com nosso trabalho, seja conosco mesmos, se não houver as mesmas coisas: humildade, abertura, respeito, troca constante, real interesse, ouvidos, comunicação, generosidade, empatia (muita empatia), envolvimento sincero!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Talvez de tudo a palavra mais preciosa de hoje seja generosidade, ser generoso para dar ao outro o que ele precisa, quantas vezes vejo (e me vejo nisso também) as pessoas tão fechadas em suas certezas, dando desculpas para atitudes ruins por pura preguiça de fazer o bem ao outro. Construir uma vida boa, relações boas, trabalhos bons é um processo constante de dedicação e trabalho, não é coisa para preguiçoso, definitivamente...

Sei que tem horas em que ficamos cansados, já demos tanto para quem não sabia ou não tinha condições de receber e retribuir, mas se seguirmos exercitando esse doar, este construir, os resultados finalmente chegarão e, quando chegarem, a alegria vai ser tamanha que todo o desgaste e esforço passados serão como nada diante do que recebemos!

Sejam mais seletivos sim, isso porque escolher bem também faz parte da sabedoria de viver bem! Porém não deixem de ser generosos, delicados, gentis, bondosos, quem não quer amar alguém com um coração benevolente? Eu mesma, viro um doce, talvez mais para um chocolate com pimenta ou tortinha de limão, já que nunca serei uma pessoa lá muito fácil, afinal não é à toa que meu sobrenome é Pedrosa...rs...Mas definitivamente, eu viro um doce quando bem tratada, quem não vira? Só se for maluco mesmo, né?

Última observação, quando a gente aceita se misturar no outro de forma consciente e por benevolência, a gente consegue manter nossa própria identidade...Vira um caminho de mão dupla ou tripla, em que dois são um e um são dois, ou dois são três e três são dois (se a família cresce, ou o grupo de trabalho aumenta). Todo relacionamento em que teimamos em feudalizar, vira neurose e aí nos perdermos em meio às doenças da relação, daqui a pouco ninguém mais sabe quem é quem, ou até porque está ali!

Em tempo....relação de amor verdadeiro nunca é relação de poder. Exemplo disso é Deus, Ele que é chamado de O Amor, alguém pode me dizer quem manda em quem na Trindade? Boa essa, né? rs

sábado, 6 de março de 2010

Sexos Frágeis

Existe uma réplica da Pietá na Igreja Matriz de Caxias do Sul (Serra Gaúcha), cidadezinha aliás, muito aprazível na qual já sonhei morar um dia por causa do clima (muito frio e seco, adoro!) e por causa dos italianos que moram lá...rs..Essa igreja tem muitas coisas bonitas, além da escultura tem toda a via crucis retratada em 12 ou 13 quadros, não lembro mais, do artista Aldo Locatelli. Recordo que ao ver a estátua branca, em tamanho original, mostrando Jesus morto nos braços de Maria, o que mais me impressionou foi vê-la carregando um homem quase do seu tamanho, ou talvez maior do que ela, como se fosse um bebê.

Se o maior de todos os homens repousou fragilizado nos braços de uma mulher, que diremos de nós, pobres mortais?

Sábado passado assumi para mim mesma, depois de muita teimosia, que meu GIGANTESCO pai (não em forma física, porque ele é do meu tamanho e eu não sou nenhuma grandeza...rs...mas em presença de espírito) agora precisa que o acolhamos nos braços e cuidemos dele. Confesso que no início tive muito medo, me senti desamparada no mundo, indefesa mesmo, o que a filhinha do papai fará sem ele? Depois me dei conta de que, graças a ter sido a filhinha de um homem como ele, sou plenamente capaz de cuidar de mim mesma, ajudar minha mãe e cuidar dele enquanto precisar.

Engraçado que passamos a vida desejando um príncipe encantado, forte e vigoroso com sua espada em riste (em todos os sentidos), mas no fim, do que precisamos mesmo é de um ser humano, alguém que possa compreender nossas fragilidades e compartilhar conosco as suas. Todos nos iludimos desejando um sr. ou sra. Perfeição, mas no fim só precisamos mesmo é de outra pessoa. Conta-se de uma imagem de Jesus Cristo crucificado, acho que numa igreja da Espanha se não me engano, que mostrava todo o flagelo de seu sacrifício, abaixo dela começaram a colocar doentes que sofriam da peste negra e muitos melhoravam ao olhar a imagem porque se identificavam com o sofrimento de Cristo e sentiam-se compreendidos, este consolo melhorava seu sistema imunológico e seu humor, trazendo melhoras no quadro clínico. Aprendi isso na faculdade, em Psicossomática!

Ontem estava assistindo o filme “A Partida”, muito indicado por alguns dos amigos que mais amo no mundo, filme lindo sobre vários aspectos, simples, sincero, muito humano... Daí tem essa cena onde depois de uma experiência muito difícil o personagem principal se agarra à esposa, cheirando e pegando nela como se quisesse respirá-la, absorvê-la, trazendo para dentro de si tudo que ela tinha de cura, de conforto, de purificação, de vida. Fiquei emocionada! Fazia tempo que não via alguém expressar assim o quanto precisava de outra pessoa...Hoje em dia somos treinados a nos defender dos outros, dos nossos sentimentos, daquilo que as pessoas que amamos representam para nós, e se agimos de outra forma, dizendo e demonstrando o que sentimos, somos vistos como malucos, como exagerados, como imaturos, como fracos!

Um conhecido esses dias disse que nunca devemos mostrar a alguém o quanto gostamos dele(a) porque senão nunca conseguiremos que essa pessoa retribua o que sentimos na mesma proporção. Fiquei pensando em várias coisas:

1) Quando criamos essa idéia quantitativa para os sentimentos? Como podemos pesar ou medir o que sentimos e o que os outros sentem?
2) Por que nos últimos tempos, quando sentimos que uma relação não vai bem ou que estamos perdendo quem amamos, ao invés de investir na relação, conversar, tentar rever atitudes ruins, tentar reconquistar a pessoa e tudo mais, optamos pelo caminho da neurose, enfiando outras pessoas no meio, fazendo ciúmes, criando estratagemas infames, destruindo toda a pureza que existe no amor?
3) Quando ficamos tão vazios e inseguros conosco mesmos a ponto de achar que precisamos ser outra coisa para ter quem amamos? Aliás, de que adianta ter alguém conosco se teremos que viver fingindo ser outra pessoa para manter o relacionamento? Quem se sente amado verdadeiramente assim?


Só existe uma coisa capaz de manter uma relação de amor funcionando e se resume a uma só palavra: GRAÇA!

Amar é acolher, aceitar e compreender!
Amar é perdoar!
Amar é ser leal e fiel!
Amar é acreditar no processo de crescimento das pessoas e poder esperar com paciência que certas coisas cheguem aos lugares certos!
Amar é poder pegar no colo e receber no colo quando for necessário!
Amar é estar presente e ficar do lado quando as fragilidades forem maiores que as forças!

Somos todos frágeis, todos cheios de defeitos, todos carentes, todos imerecedores...Mas a GRAÇA nos torna capaz de perdoar e acreditar nos pequenos e grandes milagres que o amor opera em nossas vidas e nas vidas das outras pessoas.

Tanto o Cristianismo quando a Psicologia dizem que o amor é fundamental para a cura da alma e do corpo e para a manutenção da vida, até os animais amam, quem não acredita venha conhecer minhas gatas (em especial a Lana que quando estou em casa não sai do meu lado nenhum um só segundo, e olha que ela adora ficar no jardim comendo as flores...rs..), está mais do que na hora de assumirmos nossas fragilidades, parar de ter medo delas e começar a dizer para as pessoas o quanto elas importam para nós, porque talvez um dia não tenhamos mais a oportunidade de dizer. Por incrível que pareça, e embora eu seja tímida, nunca deixei de dizer para as pessoas o quanto eu as amava, algumas vezes fui mal tratada, ignorada e mal compreendida, mas mesmo assim, nunca me arrependi, amor é um presente que devemos dar, se as pessoas estão prontas para receber é uma outra questão, mas no tempo certo a semente germina e faz o bem, não importa muito como, isso Deus é quem cuida!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Mestre e Margarida, Yeats, Hotel Ruanda e uma mistureba...

“...Ela, aliás, afirmou posteriormente que não foi nada disso, que, claro, havia tempos que nos amávamos, mesmo sem nos conhecermos, sem nos vermos, que ela vivia com outra pessoa...e eu então...com aquela, como é mesmo...Conversávamos como se tivéssemos nos despedido no dia anterior, como se nos conhecêssemos havia muitos anos.” – O Mestre e Margarida (Mikhail Bulgákov)


“Venha comigo, leitor! Quem lhe disse que não existe no mundo o verdadeiro, o fiel, o eterno amor? Pois que cortem a língua desse mentiroso infame!” - O Mestre e Margarida (Mikhail Bulgákov)


Fico sempre me surpreendendo positivamente ao ler e ouvir histórias assim, me recuso a relativizar o amor ( e falo aqui de todos os tipos de amor), a empobrecê-lo, diluí-lo em neuroses e desesperança, talvez por isso acabe sozinha nesse nosso mundo de superficialidades, mas nem me importo, seguramente prefiro isso à mediocridade! Eu sinto lá bem dentro de mim um amor muito grande, pleno, intenso e vigoroso, de uma pureza e inocência de criança e de toda beleza e maturidade de uma mulher adulta, ele está lá, guardado como um perfume raríssimo, esperando que seu destino se revele.

Naquilo que escolho chamar de “Era do Raso” como explicar essa minha necessidade de profundidade? Sofro muito pelo que vejo ao meu redor, pelos desperdícios, por toda energia gasta em tolices, pelo tempo precioso gasto em nulidade....Daí lembrei de um trecho de W.B.Yeats que sempre lia por aí, sem nunca na verdade absorver por completo:

“Aos melhores falta convicção e os piores estão repletos de intensidade passional”.

Por que tudo que é infame, pobre, vazio, tosco, idiota ocupa tanto espaço? Por que gastamos tanta energia defendo idéias inúteis, mantendo relações inúteis, vivendo coisas inúteis? Afinal, como diria o C. S. Lewis, tudo que não é eterno é eternamente inútil.

Tantos de nós têm a dimensão exata do que realmente importa na vida, mas somos tão fracos em defender essas coisas, tão envergonhados, tão constrangidos, sussurramos nossos ideais como se fosse segredo de alcova, para não ofender ninguém, para não sermos considerados algum tipo de fundamentalista ignorante, alguém que não tolera, que não compreende, que exagera, que foge da realidade...mas de qual realidade falamos? A de que envelhecemos dia após dia? Que cada segundo passado é um segundo perdido? Há tanto a ser feito, tanto a ser dito, tanto a ser vivido, tanto a ser aproveitado...Todos os dias estamos diante da escolha: Que tipo de vida estamos vivendo? Estamos vivendo em consciência ou em displicência?

Para os crédulos, já digo: - Os tímidos não herdarão o reino de Deus!

O que quero dizer com tudo isso? Virei alguma maluca moralista defensora de ideais inatingíveis (lembrando que ideal é um norte, não vamos atingir aqui, ele serve para nos guiar ao crescimento)?

Não. Apenas perdi a vergonha de defender os valores que realmente trazem saúde e benefícios a uma sociedade caída, porque estamos aqui para ser luz, não importa o quanto de trevas nos cerquem, não importa que final está reservado para esse mundo.... E digo isso não por me julgar alguma santa ou qualquer coisa parecida, mas exatamente porque sei o quanto preciso de Graça, apenas da Graça, preciso tanto dela quanto todo resto deste mundo, e se temos recebido Graça temos que compartilha-la, até porque são os misericordiosos quem herdarão a terra.

Passei algumas semanas em contato com a natureza, primeiro perto do mar, depois perto da montanha. Tanta beleza nos inebria, nos cura, nos renova, nos transforma, é pura terapia! Vi tanto da Glória de Deus em cada folha, em cada flor, em cada borboleta...Vi tanto da Glória de Deus nos olhares carinhosos das minhas gatinhas de estimação...Vi tanto da Glória de Deus na brisa fresca e pura do fim de tarde de frente para o mar...E aí fico me perguntando: - Nós que preservamos e admiramos tanto nossas obras primas e nossos artistas, como podemos ser tão displicentes com a natureza, obra de arte das mãos de Deus? Devíamos ser os primeiros a preservá-la, não por pensar no futuro do planeta (coisa meio megalomaníaca para quem mal organiza o armário), mas tão somente por respeito, por gratidão, por amor, por reconhecer que a natureza proclama a Glória do poder de Deus. Qualquer cristão que discordar disso, vá ler as Escrituras, ok? Lá diz que toda natureza aguarda a redenção pela Graça de Deus... Estou tão cheia desse monte de gente com discurso pronto e vida cristã nenhuma, na boa, uma bando de fariseus que fica repetindo regras e vivendo igual ou pior a quem não acredita em nada...

Em tempo:
Assisti Hotel Ruanda pela primeira vez semana passada, sabia da história pelo que havia lido, pelo que minha mãe me contou na época (eu era um menina avoada em 96), pelo que os missionários da África traziam, mas nunca tinha realmente me deparado com a coisa em si. O que senti? Vergonha e medo. Vergonha: de ser humano, de ser ocidental, de ser branca, um monte de vergonhas injustificadas, porque afinal existem seres humanos do bem, orientais também fazem maldades, nem todos os brancos da Terra são covardes, interesseiros e egoístas...Mas senti tanta vergonha que não conseguia conter o choro! Medo por ser um ser humano frágil e poder ser assassinada por um facão, por ser uma mulher pequena e indefesa que pode ser estuprada por um louco, medo pelos meus sobrinhos, pela minha família, pelos meus amigos (os de perto e os de longe), medo porque em algum outro país eu poderia ser morta apedrejada por ter cabelo curto, por usar shorts e biquíni, por ensinar homens, por ser cristã, por não ser capaz de abaixar a cabeça diante de absurdos, enfim...Pela primeira vez na vida agradeci por ser brasileira e viver em um lugar onde ainda posso ser eu mesma sem correr risco de vida declarado! Chorei muito porque sempre amei a África, chorei por um povo que há milênios vive em miséria e pelo qual nunca fiz nada de útil... A pergunta é: - O que os cristãos estavam fazendo quando 500 mil pessoas morreram a facadas naquela noite? Provavelmente discutindo se é lícito ou não fumar e beber, bater palmas ou não no culto, se padre deve ou não casar, se protestante vai para o céu, se católico vai para o céu, de divorciado pode casar outra vez, enfim, todo tipo de coisa eternamente inútil.

Comecei esse texto falando da profundidade do amor e encerro falando da superficialidade do que chamamos de fé. Desculpa, gente, mas fé sem obras é morta! Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor ( e se você não entende bem o que é amor, leia 1 Coríntios 13 que é muito mais do que música do Renato Russo, ou então leia os Evangelhos)! Não me venha falar de Cristianismo se o máximo que você consegue chegar dentro dele é discutir qual a melhor forma de governo. Repito: - O que não é eterno, é eternamente inútil!

Sabe o que é eterna? A alma humana, essa é eterna, para a perdição e para a maldição. É com ela que devemos nos preocupar, sempre a começar de nós!

Sei que retomo meio panfletária, mas muita coisa ainda virá por aí...Não percam as próximas postagens dessa psicóloga por formação, cristã inconformada recém nascida há décadas, mulher com mais de 30 que ainda não encontrou o amor da vida, leitora adicta, cinéfila inveterada, musicista caloura, ecologista por fé, defensora da causa das crianças e dos adolescentes, defensora da causa da mulher em lugares onde ainda existem abusos, rebelde por natureza e esperançosa pela graça...rs...