A pele que habito

A pele que habito

sábado, 17 de abril de 2010

CHERI...ESCRITO ASSIM MESMO...

“ E nossa vida escassa
Corre tão depressa
Que, quando se começa.
É acabada...”
Luís de Camões

Acho que todo mundo, ao menos uma vez na vida, em menor ou maior escala, se apaixona por alguém muito mais velho e/ou muito mais jovem.

Para o mais velho, além da vaidade saciada pelo desejo de alguém mais novo ( alguém com carnes firmes, corpo rijo, pele lisa ) e que muitas vezes poderia ter quem quisesse em sua própria faixa etária, fica ainda a ilusão temporária de se poder vencer o inexorável do tempo.

Para o mais jovem, além da tentativa inócua de se descobrir o futuro no outro (tentando apreender por osmose aquilo que só se aprende vivendo na prática), ainda a doce tentação de não precisar crescer nunca, de seguir dependente da experiência e da plenitude de quem já viveu tudo o que ele ainda precisar viver e construir.

Sempre um encontro fulminante, recheado de fantasias que a psicanálise ainda chama de edípicas, encontro que em geral traz a tragicidade do efêmero e do irrealizável emocionalmente.

Em CHERI, filme estrelado pela sempre linda, mesmo envelhecendo sem plásticas, Michelle Pfeiffer, o truque cruel desses amores transgeracionais fica bem ilustrado. O final é bastante previsível, recheado em fragilidades, impossíveis e tragédias.

Fica também acentuada no filme a eterna pergunta que nos assombra: Afinal teremos mesmo apenas um amor na vida? E se temos sabemos reconhecê-lo? E quando reconhecemos como agimos diante dele? E quando é impossível?

Seguindo em minha atitude resignada de nunca desistir, talvez na minha lápide meus amigos escrevam: - Nunca desistiu de procurar seu amor...rs...E talvez eu o encontre não concentrado em um único homem, mas fragmentado em todos esses meus queridos e queridas com quem compartilho de perto e de longe quem sou...Ou talvez eu finalmente encontre o tal homem, Deus sabe!

Na verdade, bom mesmo é construir o amor, o sonho serve para nos inspirar, o desejo nos impulsiona a prosseguir, mas é em cada pequeno tijolo assentado dia após dia que realmente nos encontramos com o outro. E esse esforço exige duplas mais parelhas, parcerias equivalentes, mais afinadas, mais capazes de compartilhar, de cooperar, de se conectar...Para tal, meus caros, alguns arranjos são imprescindíveis e perdoem minha visão meio vitoriana (Jane, Jane, vc sempre tem resposta pra tudo...rs...), mas esses arranjos também incluem questões de faixa etária, o limite cada um sabe qual é pra si.

Se viver nesse mundo é estar numa guerra épica (e é!), não serão os belos e impetuosos Pátroclos que me seduzirão, ainda que seja muito confortador admira-los...rs...Nem tampouco os sábios e vividos Príamos, ainda que ame conversar com eles, receber suas atenções, admirar seu charme e aprender! Na real, estou na fase dos Hectors, dos Ulisses, dos Aquiles da vida, estou no tempo de amar guerreiros experientes, mas ainda vigorosos...rs..Não vou desperdiçar minha plenitude nem caçando em vão a eterna juventude, nem me algemando na doce, mas castradora dependência...Quero construir junto o castelo, quero ir junto para a batalha como fez minha corajosa Deborah, como fez a rainha Ester, como fez Abigail e tantas que sabiam quem eram e não abririam mão disso. Não quero nem menino, nem velho...quero um homem! Porque também não sou menina, nem velha, sou uma mulher...E tudo fez Deus formoso em seu devido tempo!

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