A pele que habito

A pele que habito

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

DA PERSEVERANÇA...

 “...mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança.” Romanos 5.3 e 4 (NVI)

 A entrada de um Ano Novo sempre traz consigo uma perspectiva mais otimista. A grande maioria de nós se propõe a alcançar novas metas importantes, a realizar mudanças necessárias, a superar dificuldades de várias ordens, a aprofundar sua experiência com Deus, a cuidar melhor dos seus e de si mesmo, tudo isso aproveitando as oportunidades que um novo leque de 365 dias poderá nos oferecer. O passar dos dias, porém, tende a ir esgotando nossos sentimentos de novidade. Novas dificuldades surgem e com elas, novas justificativas para manter o status quo das coisas; nossa energia vai se esvaindo e ao final de mais um ano, para muitos, nada mudou, apenas o cansaço pelo peso dos problemas que se arrastam, muitas vezes por uma vida inteira. 

Michel de Montaigne (1533-1592), em seus ensaios, comenta que “a perseverança consiste em suportar com resignação os incômodos para os quais não temos remédio.” Definição verdadeira, mas que na visão cristã ganha um robustecimento importante - A palavra perseverança, no grego, hypomoné (μπομένω), significa ‘manter-se firme’, ‘aguardar’, ‘esperar’ e empregada, frequentemente em contextos militares. A ‘constância’, a ‘paciência’ e a ‘perseverança’ constam entre as mais nobres virtudes varonis. William Barclay comenta que a palavra é utilizada para tratar de uma resignação à labuta que sobrevém contra a vontade do homem e carrega em si a ideia da planta que não morre, mas, ao contrário, vive e floresce, mesmo diante do ambiente mais inóspito. Essa palavra, inclusive, é utilizada para traduzir a forma como Cristo suportou o sofrimento vicário, que ao final trouxe Ressurreição para todos nós. O próprio Jesus nos advertiu sobre as aflições deste mundo, mas nos convocou a ter bom ânimo. O grande diferencial entre a confiança do homem comum e a perseverança do cristão é que Jesus está conosco. 

O estabelecimento de metas de melhorias e desenvolvimento, sejam pessoais ou coletivas, é sempre útil e pode gerar frutos interessantes; mas, para o cristão, a perseverança diante das dificuldades, a persistência diante das tribulações, a decisão firme de continuar ‘apesar de’, sempre se traduzirá no melhor cadinho para a fundição de nosso caráter. A decisão incansável de permanecer no alvo da nossa soberana vocação é, sem dúvida, nosso maior desafio em tempos de tanta impermanência e efemeridade. Assim, além de metas e desejos para o próximo ano ou para a vida inteira, devemos ser insistentes em ser constantes. 


Rev. Marcos e Danielli Botelho