A pele que habito

A pele que habito

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O reizinho mandão

Esse pequeno clássico da Ruth Rocha, conta a história de um rei menino mimado e mandão que tanto implicou e foi autoritário que seu povo emudeceu com medo dele. Óbvia metáfora de crianças mimadas, cada vez mais comum hoje em dia encontrar tais reizinhos nas casas, e seus súditos em pânico: os próprios pais.

Será que foi a psicologia quem desautorizou as figuras paternas, discurso muito popular disseminado por aí? Não sei, estudo psicologia há muito tempo e nunca li em lugar nenhum que os pais não devem repreender, orientar e educar seus filhos, somos contra a violência e os excessos abusivos, mas sabemos que crianças sem limites bem definidos têm os mesmo sintomas de crianças abandonadas na rua, a grande maioria apresenta transtornos de conduta graves, que acabam por lhes garantir um futuro bastante tenebroso. E aí, lembro de uma figura célebre que conheci quando fazia estágio em um presídio: jovem muito bonito, loiro de olhos azuis no maior estilo James Dean, filho de gente rica e bem formada, estudante dos melhores colégios, com as melhores oportunidades e chefe de uma quadrilha perigosíssima, com um curriculum vitae bastante respeitado pelos gênios do crime, recebia visitas íntimas constantes de sua namoradinha modelete e tinha várias regalias dentro da penitenciária, diga-se de passagem, uma das mais confortáveis do país. Reizinho bandido mandão!


Estava almoçando esses dias com um amigo e discutíamos sobre nossos animaizinhos de estimação (eu com minhas gatas estrelas de cinema, ele e a esposa com sua cachorrinha francesa) e rimos muito comentando as agruras e delícias de cuidar deles e tentar adestrá-los de acordo com as melhores regras de sobrevivência entre espécies, depois dele me fazer lembrar do filme/livro “Marley e eu ” algumas vezes, estacamos no seguinte insight: Como deve ser difícil educar uma criança!


Ambos queremos ser pais um dia, mas fazendo um brainstorm rápido, contendo todas as horas sem dormir, vômitos, dores, malcriações e fases das crianças, todas as mudanças na vida do casal (como, por exemplo, o fato de sexo virar lenda por um bom tempo, gastos, alteração de ritmo de vida, etc...) e todas as transformações de identidade que ser pai/mãe envolvem, ficamos um pouco atônitos. Nada que uma carinha suja de mingau não minimizasse (pelo menos para mim que adoro crianças e amo bebês), mas sim, ficamos muito conscientes do enorme desafio que é ter um filho, dois ou três, quem sabe...


De tudo, ensinar valores e moldar o caráter parece ser o mais complexo em qualquer geração: tenho visto pais levando verdadeiras “lavadas” dos filhos em shoppings e super-mercados, tenho conhecido crianças absurdamente manipuladoras causando depressão clínica em suas mães super-permissivas, será que temos formado pequenos sociopatas em nosso seio? De início, culpo a relativização dos valores e costumes, se tudo pode ser tudo, como traçar caminhos para o indivíduo? Como ensinar a fazer escolhas, especialmente escolhas certas? Não dá para educar sem sair do muro, para ser bom educador temos que nos posicionar, temos que dizer pode e não pode, certo e errado, sim e não. Ser pai não significa ser sempre legal e popular para o filho, será que estamos prontos para não ser sempre amados e admirados? Nossa auto-estima fragilizada suportaria? Temos maturidade suficiente para isso? Ser bom pai é ser um bom adulto – conseqüente, sensato, responsável, altruísta, capaz de admitir erros e corrigi-los, é ter honra, dignidade e valores, compromisso com a verdade, é ser capaz de amar outra pessoa mais do que a si mesmo e, colocar o bem estar e segurança dessa pequena pessoa acima de si mesmo, ser bom pai é acreditar em Deus mesmo não acreditando, é plantar no presente sementes para o futuro - regar, podar - é se envolver, se comprometer com uma causa maior.


Tentamos mudar o mundo de fora para dentro, no passado achamos que grandes sistemas, grandes guerras, grandes ideologias coletivas poderiam transformar nossa sociedade em alguma espécie de mundo ideal, mas o caminho para um mundo real melhor é de dentro para fora, do indivíduo para o coletivo, do micro para o macro, da familia para a sociedade. Caminho muito mais complexo e mais demorado, também menos dramático, menos hedonista, menos consumista, menos imediatista, também sem tantas glórias e massacres - e por isso mesmo, caminho muito mais eficaz!