A pele que habito

A pele que habito

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Fantasmas e egoísmo

Depois de assistir Toy Story 3 no cinema com minha sobrinha de 10 anos, que assim como eu chorou quando o Woody se despede do Andy..rs..Fui para casa e, sem sono, acabei assistindo esse filme bobinho chamado “Minhas Adoráveis ex-namoradas”, um DVD pirata que ela me emprestou junto com o “Lua Nova” porque : - Tia, você tem que ver o Lua Nova, senão como vai acompanhar o Eclipse comigo na semana que vem??? Ossos do ofício...rs...

O tal das ex-namoradas conta a história de um cara que se apaixona na adolescência e acaba perdendo a bela para um destes pegadores de plantão por pura falta de iniciativa, sofre horrores e com a ajuda de um tio canalhão vira o terror da mulherada, um pesadelo de misoginia e coração de pedra, capaz de destruir até o casamento do irmão caçula que o ama de verdade.

O dito recebe a visita de fantasmas do seu passado (paródia meio tosca do Scrooge, lembram? Aquele dos natais passados) que mostram a ele que, afinal, um dia ele foi um ser humano...rs...O final é bonitinho e muito previsível, ele pede perdão para a mocinha que ele ama e para o irmão, faz a cunhada reconsiderar e tudo fica bem.

E tudo isso vem bem a calhar para ilustrar a teoria de um amigo meu do mestrado a respeito do chamado “ciclo de canalhice”, ele diz que funciona assim: uma garota boazinha se apaixona por um canalhão, ele a faz de gato e sapato, ela fica de coração partido e decide nunca mais passar por isso, daí pega um pobre garoto do bem, acaba com a vida dele e ele decide que nunca mais vai amar ninguém, e o ciclo se perpetua.O egoísmo virando técnica de sobrevivência na selva dos relacionamentos e todo mundo sozinho, vazio e infeliz, mas todo mundo se sentindo seguro...

Well, sendo bastante racional, uma sociedade baseada apenas na satisfação do indivíduo não tem muito futuro, a cada dia vemos tudo se tornando puro consumo, o hedonismo é a maior das armadilhas porque na real, se tudo é prazer, nada é prazer. Os egoístas de plantão que me desculpem, mas por trás do seu enorme EU, só existe medo e covardia! Será que todos acabaremos como bebês gigantes, mimados e eternamente carentes? Será que não somos mais capazes de caminhar em nosso desenvolvimento emocional e descobrir que existe o outro e que esse outro é parte fundamental de quem somos?

E me digam aí, qual é a de ter que pegar o maior número de mulheres possível? Ouvi ontem de uma atriz (linda e famosa) na TV que no casamento monogâmico você tem a real oportunidade de se aprofundar muito mais em suas experiências sexuais, porque a intimidade te proporciona um real conhecimento do seu corpo e do corpo do outro e que transar com um a cada noite é como estar sempre comendo só as bordas da tigela. Logo, continuamos no medo e na covardia, não queremos envolvimento real (nem mesmo sexual), apenas a bordinha, seguimos infelizes e vazios, anestesiando essa dor com álcool, drogas, sexo fácil, TV, muita comida ou tudo isso junto, qualquer coisa que não nos faça lembrar que existe vida lá fora do castelo que construímos. Somos bonecos emocionais, mas estamos seguros...

Por que não temos coragem de ir além da página 5 da vida? Alguns culpam os erros dos pais, outros da sociedade e no que tange às crianças eu até concordo, mas somos adultos agora, temos o poder e a liberdade de escolher as coisas. Por que continuamos a viver assim? Por que permanecemos escravos do medo? Dia após dia a vida vai se escoando, e ficamos a mercê do tempo e da sorte, nos enrolando propositadamente em relações ruins e confusas, perpetuando as sombras, com preguiça de lutar pelo que vale a pena sem notar o poder de destruição que essa suposta vida fácil tem sobre nós, engraçado como a liberdade vem sendo corrompida em cadeias, mas cadeias encapadas de pelúcia cor-de-rosa...

Aos que como eu continuam nadando contra a maré, a boa notícia é que nossas fileiras estão se engrossando, cada dia mais gente vem despertando e no fim, com a graça de Deus, valores perdidos serão recuperados, e toda essa experiência de andar na contra-mão há de nos enriquecer e nos preservar para que no futuro, se coisas ruins acontecerem, a gente não precise radicalizar e inventar uma era hippie que começou com belos ideais e depois descambou para uma alucinação coletiva (e que resultou em uma geração inteira de crianças eternas perdidas e sem sentido na vida), mas possamos perceber a tempo o quê e como deve ser mudado, sempre para o bem de todos.

E no fim, o maior dos dons segue sempre sendo o Amor...Ele será sempre a grande estratégia, ele que não se omite de cuidar, de ensinar, de proteger, de corrigir, de deixar crescer, enfim, de fazer viver.