Nesses dias, por ocasião de minhas
pesquisas incansáveis por conteúdo para minhas aulas, acabei me deparando com
um filme do Netflix chamado Layla M., que
conta a jornada de uma jovem muçulmana, nascida em Amsterdã, que mesmo
desobedecendo explicita e ironicamente ao pai, se volta para o radicalismo
islâmico, indo parar no Oriente Médio envolvida com um grupo radical e
violento. Interessada no tema devido à leitura da biografia Eu sou Malala, que tenho feito com meus
nonos anos, fui me dando conta durante o filme, cada vez mais apavorada, que
aquele comportamento sectário, radical, irrefletido, passional e resistente a
qualquer discurso de bom senso, pode ser encontrado no ocidente, mais
especificamente aqui no Brasil, cada vez que se abre uma rede social ou se assiste
ao noticiário.
Layla começa seu envolvimento fatal
com as alas mais jihadistas do Islã a partir da insatisfação e da indignação
com o racismo e com a violência sofrida pelos muçulmanos em várias comunidades.
Como é de praxe, todo comportamento radical nasce de uma causa justa ou de uma
reivindicação legítima, para a qual o movimento promete ser a mão da vingança.
Vingança essa que nada mais é do que repetir o comportamento do agressor na
mesma moeda ou de forma ainda pior. Sob a desculpa do clamor do sangue dos
mártires, se mata, se estupra, se tortura, se guerreia e, inclusive, se põe fim
à própria vida, crendo nas promessas de Alá para a vida eterna.
Na
nossa realidade, a luta justa contra a corrupção sistêmica e desenfreada do
governo brasileiro e agressões feitas a um modo de vida, chamado de cristão e
aparentemente coerente com o adotado pela maior parte dos brasileiros, deu
origem ao retorno (ou tentativa de) a um comportamento político truculento,
pouco humanista, vinculado a uma elite econômica pouco intelectualizada (ou
intelectualizada de forma fragmentada e manipulativa por interesseiros), que
mal compreende o projeto de governo que pretende instalar e que é cegamente
manipulada por ideias tresloucadas de pessoas que sequer vivem no Brasil, que
sabem pouco ou nada sobre a realidade do brasileiro e que é tão incapaz e
imatura, que não consegue fazer uma autocrítica saudável que lhe permita rever
posicionamentos. Aliás, esse comportamento é exatamente igual ao do governo
petista que tal elite aprecia tanto criticar (ou linchar) virtualmente. Como
dizia minha avó, acaba que no fim “são todos farinha do mesmo saco”.
A
pandemia tem lançado luz a tantas coisas que, em alguns momentos, fico quase
que ofuscada por tanta luz. É difícil abrir os olhos e encarar a realidade a
céu aberto. Nada como uma crise para revelar craques e inúteis, nada como uma
guerra para revelar valentes e covardes. Nada como um estado de exceção para
revelar os verdadeiros valores das pessoas. E foi aqui que comecei a notar que o
cristianismo de muitos não tem nada de cristão, nada de Bíblia, nada de Jesus
Cristo.
Muitos
que vão à igreja todos os domingos e leram a Bíblia de cabo a rabo, estão agora
como Layla citando textos fora de contexto e clamando por fazer justiça com as
próprias mãos. Muitos que sabem o salmo 23 de cor, agora querem expor a si
mesmos e aos que amam a um vírus mortal porque, simplesmente, não creem que é
Deus quem lhes dá o pão.[1] Muitos que repetem
diariamente a oração do Pai Nosso, se recusam a sacrificar-se por seus irmãos,
mesmo dizendo adorar um Cristo que morreu na cruz para lhes dar Vida Eterna.
Gente que quer o retorno do AI5, da Ditadura Militar e das armas em riste,
mesmo sabendo que Jesus dizia para amarmos os nossos inimigos, orarmos pelos
que nos perseguem e darmos a outra face. Gente que sabe que o Reino de Deus não
é poder mundano, mas sonha com estado católico ou coisa que o valha. Gente que
diz que Deus é o Senhor do Tempo, mas quer um retorno à Idade Média. Gente que pede
por coisas cujas consequências seriam nefastas, mas sequer tem conhecimento
suficiente para perceber isso, ainda que sigam arrotando sabedoria Teológica,
Filosófica e Psicológica, tudo naturalmente adquirido de forma autodidata, na
interpretação do guru Fulano de Tal, que sempre tem razão, mesmo não sendo
capaz de manter a razão de si mesmo.
Fico pesando na Igreja Primitiva, nos cristãos que iam para o Coliseu servir de comida para leões ou que queimavam como velas humanas pelas ruas de Roma - cristãos que sabiam que não era o papel deles reagir, que a dor momentânea não era comparável ao gozo do porvir e que sua recompensa não estava nesse mundo, que não é nosso, mas jaz do maligno. O que foi feito da fé desses homens e mulheres? O que foi feito da mensagem do Evangelho que transtornou o mundo? O que foi feito da esperança do cristão? Nós abrimos mão de tudo isso, como os judeus adorando o bezerro de ouro, ao vender nossa alma e nossa consciência à esses políticos escrotos que nos convencem com meia dúzia de frases de discursos populistas - e temos feito isso há décadas.
Meu amigo, saia do Velho testamento, pelo amor de Deus!!!!
Layla
parte para o Oriente Médio, ciente do que lhe aguardava como uma mulher
muçulmana, mas cheia de fé de que com ela seria diferente, que o marido via seu
potencial, que ia lhe deixar desenvolver seus talentos e ter uma voz. Afinal,
ela servia a Alá, abandonou a família, a escola, o sonho de ser médica pela
causa de seu povo. Queria encher o Islã de guerreiros, ser a mãe de muitos
filhos. Foi só quando se viu prisioneira na própria casa, vendo o marido ser
enviado como homem-bomba, é que compreendeu o tamanho da enrascada em que tinha
se enfiado.
No
Brasil, alguns só se darão conta do que causaram a si mesmos, quando começarem
a ver parentes e amigos morrendo de COVID 19, porque a política falou mais alto
que a saúde pública; ou quando ninguém mais for livre para pensar, sentir,
dizer, ou ser, como acontece em todos os governos ditatoriais, sejam de
esquerda ou de direita (como se aqui no Brasil existisse, de fato isso de
ideologias partidárias, como se tudo não existisse para nos ludibriar e nos
roubar, como se tudo não fosse estratégia de manipulação, cada vez mais
explícita e mais simples, porque o povo está cada vez mais burro...) e vivermos
lamentando a morte de uma democracia que nossos compatriotas lutaram tanto para
conseguir; ou quando se der conta de que para este ou aquele governo, o único
commodity é o seu voto – isso enquanto ainda existirem eleições, ou enquanto
elas não forem burladas, como já acontece em outras pseudo-democracias da
América Latina.
Assim
como Layla sonhava com um Islã que não existia e isso é bastante notório quando
a personagem chega ao Oriente Médio, numa verdadeira favela de pedra e tenta
iludir a si mesma, achando que vai construir um lar, muitos cristãos deixaram
de esperar a Volta de Cristo e o Reino dos Céus para apostar num messias
terreno, num país perfeito, numa sociedade sem falhas, numa vida plena de
prosperidade e justiça e, em prol dessa fantasia, venderam a alma aos falsos
mestres e abriram mão de todos os seus valores. Para esses recomendo a leitura
de A Revolução dos Bichos, de George Orwell, vocês verão que a cegueira que os
afeta hoje os faz ovelhas, cães e cavalos de porcos que nunca deixarão de lhes
explorar e usar, mas que seguirão sempre nutrindo seu imaginário de promessas
de paz e prosperidade. Afinal, “Napoleão tem sempre razão”...
A
dificuldade de Layla em confiar e ouvir seus pais, seu irmão, sua amiga de
infância, em prol de estranhos que do nada viram sua família, é constantemente
verificada nos guetos ideológicos que nos rodeiam e que vemos todos os dias nas trades de Twitter ou nas lines do Facebook. São sempre os mesmos, curtindo e comentando postagens, retroalimentando o sistema, encurralando suas vítimas em
excessos de um afeto vazio e entorpecedor. Ideias são repetidas como mantras,
gerando uma atmosfera hipnótica capaz de levar um sujeito decente e pai de
família a obstruir a entrada de ambulâncias em hospitais, a criar teorias da
conspiração mais esdrúxulas e ficar postando nas redes para confundir pessoas,
a defender a eficácia de um medicamento sem testagens (e que agora os
americanos provaram que inclusive mata mais depressa os pacientes afetados), a
iludir seus discípulos com uma resistência falsa ao isolamento, impulsionando
muitos a ir para as ruas, correndo risco de vida e assim vai...
Layla
quase matou, muitos brasileiros estão matando de fato...Matando a si mesmos e
aos outros. Tudo por causa do canto da sereia sectária, da falta de fé, da
necessidade de ser parte de algo, da sede de poder...Não há valentia em colocar
os outros em risco por causa do seu comportamento! Romper o isolamento não é um
problema seu, ou a reivindicação de um direito, mas sim fruto do seu egoísmo de
quem não entendeu nada do que é cristianismo, mas quer usá-lo em prol dos seus
próprios interesses torpes – Para estes, só digo uma coisa: Deus é o meu
Vingador! Haverá acerto de contas.
[1] E
aqui fica uma observação, todas as pessoas que eu vejo esbravejando contra a
quarentena são pessoas que dependem do trabalho de outras pessoas para manter a
conta bancária fora do vermelho. Gente que poderia sim ficar 2 ou 3 meses sem
renda, talvez acabariam um pouco endividados, mas não falidos. Gente que vai
colocar funcionário para trabalhar e ficar em casa se protegendo do vírus.
Gente que de cristão não tem nada. #ficaadica #estamosdeolho