A pele que habito

A pele que habito

terça-feira, 25 de junho de 2013

Poema sem Nome

Ouço a voz do vento
Que bipartido canta duas canções
Uma é louca como os marfins,
Outra vem do branco profundo
De um porvir vaporoso
Sina dos querubins.
Não sei qual delas me chega mais alto
E apenas escuto em pé na ribalta
Chorando lágrimas de louça
Com frio, sem roupas.
O que virá depois do carnaval?
O rosto ou o vendaval?
Sem trabalho se cria um mundo
Preciso só de um átimo e de um vagabundo.
Sinto saudades da noite que me brinda linda
No sono insepulto,
Nacos de um pano ardente
Banhados em tinta silente
No alerta do vulcão sorumbático – surdo.
 
Existe corpo físico na fantasia curta?
O sussurro irrita meus lóbulos úmidos
De cada verdade manifesta
Pelo ar agitado, tartamudo
Que insiste em me revelar.
No canto uma pá de coveiro
 
Constante liberta um monstro, um anjo e uma lua,
Determinada sacoleja
No lombo de um cavalo insone
Que ousado teima em voar.
No psiu o vento me chama
Reclamando sem inibição
Em sorrisos de doce diluídos em reza
Na melodia uma hora sacra, outra profana.
 
Tem pés de bode e bigodes de gato –
Nas mãos leva com fé um archote,
Surge nas sombras em pequenos sapatos de prata
E tem a pele quente e o sangue corrente
Fluindo em meias de nylon.
A pressa sequestrada
Arrasta em algemas de nuvem
O coração que tolhido se descobre em plumas.
Nunca houve flor como aquela
De alvura espontânea e pétalas de chuva.
Se o Oriente é rico em receios
Nós nos refazemos
Em brinquedos e folguedos
Nas festas multicores das noites de São João.
 
Marcamos encontros com a vida,
Ela nos busca com seu pão fornido
Inocentes abandonamos todas as ressalvas:
- Se ela é vida onde mora a falta?
No perfil recortado no ar
Que nos acompanha a pestanejar
Nos cobre de vergonha com seu tom ausente
Leva-nos tudo
Dedos anéis e saias
Mais tolo o que ganha que o ludibriado,
Sua máscara envelhece
Sua voz embrutece
Os falsos sorrisos de anos e de paz
Se revelam na curva contrária
De bocas a mais.