A pele que habito

A pele que habito

domingo, 27 de junho de 2010

Ogros (as) e/ou Príncipes (esas)

A pergunta é: Quando começamos a notar a diferença? Sim porque quando estamos apaixonadas tudo fica um tanto quanto nebuloso...Perdoamos as grosserias na esperança de que as gentilezas venham, e elas sempre vem, no início num montante bastante razoável, com o passar do tempo se tornam raras e, em certo ponto, em certos casos, nulas.

Por que tornamos a hostilidade nosso modo de vida? Por que magoamos as pessoas mais importantes das nossas vidas? Por que cobrimos tudo com exigências absurdas e perpetuamos nossas frustrações com expectativas irreais? Por que não podemos simplesmente existir ao lado das pessoas, respeitá-las, tratá-las bem, sermos graciosos? É tão simples ser bom e tão difícil ser cruel e ardiloso e ainda assim, optamos pela segunda versão de nós mesmos sempre.

Essa semana vi um homem experiente e inteligente ferir os sentimentos de uma menininha de 6 anos linda e inocente, por nada...Ele desconsiderou sua feminilidade, sua delicadeza de botão de flor, sem nenhum motivo, nenhum mesmo! Ela apenas sorriu e inclinou a cabecinha para o lado, muito constrangida, sem graça, sem resposta, saiu caminhando e foi para o quarto, ficou quietinha lá, sofrendo em silêncio como viu tantas vezes outras mulheres da sua família fazendo, ela amava aquele cara, muitas vezes ele lhe dava atenção, ela simplesmente não sabia o que pensar daquela situação...A pergunta é: Por quê??? O que de interessante e útil existe na estupidez? O que de produtivo pode surgir da grosseria gratuita? Podemos chamar de amor o que nos destrói ou é mera neurose perpetuada de geração a geração???

O que temos de bom para ensinar para uma criança? O que vamos deixar para as próximas gerações? Sei lá, fiquei muito triste com essa história, muito mesmo...

ODEIO: Grosseria gratuita, gritaria, estupidez, ofensas desnecessárias, hostilidade (explícita ou implícita), brigas inúteis, maus tratos, discussões vazias, agressividade sem razão de ser, desrespeito, todo tipo de agressão idiota, feita por nada, revelando nossa natureza de besta do campo e que destrói a liberdade e o direito do outro de existir e de ser quem ele é. ODEIO MESMO!!!!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Fantasmas e egoísmo

Depois de assistir Toy Story 3 no cinema com minha sobrinha de 10 anos, que assim como eu chorou quando o Woody se despede do Andy..rs..Fui para casa e, sem sono, acabei assistindo esse filme bobinho chamado “Minhas Adoráveis ex-namoradas”, um DVD pirata que ela me emprestou junto com o “Lua Nova” porque : - Tia, você tem que ver o Lua Nova, senão como vai acompanhar o Eclipse comigo na semana que vem??? Ossos do ofício...rs...

O tal das ex-namoradas conta a história de um cara que se apaixona na adolescência e acaba perdendo a bela para um destes pegadores de plantão por pura falta de iniciativa, sofre horrores e com a ajuda de um tio canalhão vira o terror da mulherada, um pesadelo de misoginia e coração de pedra, capaz de destruir até o casamento do irmão caçula que o ama de verdade.

O dito recebe a visita de fantasmas do seu passado (paródia meio tosca do Scrooge, lembram? Aquele dos natais passados) que mostram a ele que, afinal, um dia ele foi um ser humano...rs...O final é bonitinho e muito previsível, ele pede perdão para a mocinha que ele ama e para o irmão, faz a cunhada reconsiderar e tudo fica bem.

E tudo isso vem bem a calhar para ilustrar a teoria de um amigo meu do mestrado a respeito do chamado “ciclo de canalhice”, ele diz que funciona assim: uma garota boazinha se apaixona por um canalhão, ele a faz de gato e sapato, ela fica de coração partido e decide nunca mais passar por isso, daí pega um pobre garoto do bem, acaba com a vida dele e ele decide que nunca mais vai amar ninguém, e o ciclo se perpetua.O egoísmo virando técnica de sobrevivência na selva dos relacionamentos e todo mundo sozinho, vazio e infeliz, mas todo mundo se sentindo seguro...

Well, sendo bastante racional, uma sociedade baseada apenas na satisfação do indivíduo não tem muito futuro, a cada dia vemos tudo se tornando puro consumo, o hedonismo é a maior das armadilhas porque na real, se tudo é prazer, nada é prazer. Os egoístas de plantão que me desculpem, mas por trás do seu enorme EU, só existe medo e covardia! Será que todos acabaremos como bebês gigantes, mimados e eternamente carentes? Será que não somos mais capazes de caminhar em nosso desenvolvimento emocional e descobrir que existe o outro e que esse outro é parte fundamental de quem somos?

E me digam aí, qual é a de ter que pegar o maior número de mulheres possível? Ouvi ontem de uma atriz (linda e famosa) na TV que no casamento monogâmico você tem a real oportunidade de se aprofundar muito mais em suas experiências sexuais, porque a intimidade te proporciona um real conhecimento do seu corpo e do corpo do outro e que transar com um a cada noite é como estar sempre comendo só as bordas da tigela. Logo, continuamos no medo e na covardia, não queremos envolvimento real (nem mesmo sexual), apenas a bordinha, seguimos infelizes e vazios, anestesiando essa dor com álcool, drogas, sexo fácil, TV, muita comida ou tudo isso junto, qualquer coisa que não nos faça lembrar que existe vida lá fora do castelo que construímos. Somos bonecos emocionais, mas estamos seguros...

Por que não temos coragem de ir além da página 5 da vida? Alguns culpam os erros dos pais, outros da sociedade e no que tange às crianças eu até concordo, mas somos adultos agora, temos o poder e a liberdade de escolher as coisas. Por que continuamos a viver assim? Por que permanecemos escravos do medo? Dia após dia a vida vai se escoando, e ficamos a mercê do tempo e da sorte, nos enrolando propositadamente em relações ruins e confusas, perpetuando as sombras, com preguiça de lutar pelo que vale a pena sem notar o poder de destruição que essa suposta vida fácil tem sobre nós, engraçado como a liberdade vem sendo corrompida em cadeias, mas cadeias encapadas de pelúcia cor-de-rosa...

Aos que como eu continuam nadando contra a maré, a boa notícia é que nossas fileiras estão se engrossando, cada dia mais gente vem despertando e no fim, com a graça de Deus, valores perdidos serão recuperados, e toda essa experiência de andar na contra-mão há de nos enriquecer e nos preservar para que no futuro, se coisas ruins acontecerem, a gente não precise radicalizar e inventar uma era hippie que começou com belos ideais e depois descambou para uma alucinação coletiva (e que resultou em uma geração inteira de crianças eternas perdidas e sem sentido na vida), mas possamos perceber a tempo o quê e como deve ser mudado, sempre para o bem de todos.

E no fim, o maior dos dons segue sempre sendo o Amor...Ele será sempre a grande estratégia, ele que não se omite de cuidar, de ensinar, de proteger, de corrigir, de deixar crescer, enfim, de fazer viver.

domingo, 13 de junho de 2010

Aventuras no metrô...

Desde que optei por trabalhar perto de casa (luxo dos luxos: ir a pé trabalhar...rs..) minhas jornadas via metrô e outros transportes públicos, especialmente em horários de "rush", diminuíram consideravelmente. Sendo assim, quando sou obrigada a isso (por minha tutora, que me pede desesperadamente para cobri-la num certo teste e para tanto tenho que estar na faculdade as 8h00), acabo sempre tendo alguma experiência nova, algumas cômicas (como quando presenciei duas moças se estapeando na Sé, ou quando vi dois frangos congelados fugirem heroicamente de uma sacola e rolarem corredor abaixo...), outras irritantes (como quando fiquei quase uma hora num dia de chuva, sentada ao lado de um cara discutindo com a namorada no celular), mas algumas realmente interessantes, como a desta sexta-feira.

Pra variar metrô lotado por volta das sete: empurra-empurra, eu tentando tirar o casaco para não passar calor demais no meio da multidão e me entra essa senhorinha na estação Vila Matilde, espremendo todo mundo para entrar dizendo que em coração de mãe sempre cabe mais um. A moça logo à sua frente, a quem ela literalmente jogou para o meio do vagão e que estava com aquela expressão clássica de quem pega metrô cedo e é esmagado, olhou para a velhinha com algum desconcerto e recebeu de volta um enorme sorriso:

- Olha, filha, você me desculpe, mas é que não gosto de me atrasar para o trabalho, sabe faz 16 anos que trabalho naquela escola e me orgulho muito de ter me atrasado pouquíssimas vezes e sempre com boa razão...

Dali em diante começou a contar que ficou órfã e sozinha no mundo com 14 anos, teve que trabalhar em casa de família para não morrer de fome ou ir parar em orfanato.

- Imagine, menina-moça sozinha por aí, só podia dar em porcaria, mas dei sorte, fui trabalhar com essa família, eles me deixaram completar o primeiro grau, cuidaram de mim e me davam um salário.

Continuou contando que aos 16 anos se inscreveu num programa do governo para menores que queriam trabalhar, depois conseguiu passar num concurso público para ajudante de serviços gerais e então conseguiu alugar uma casinha para ela.

- Foi o dia mais feliz da minha vida, a casinha era pequena, mas era só minha, imagine eu tinha só 16 anos, o casal com quem trabalhei antes alugou no nome deles para me ajudar.

Seguiu contando o quanto gostava do trabalho, de algumas amizades que tinha por lá, explicou da escola que estava atualmente e que pretendia se aposentar nela. Muita energia, muita vivacidade, uma espontaneidade de criança, falava pelos cotovelos contando a vida para umas 200 pessoas sem nem pestanejar, sem nem dar-se conta se estava ou não sendo ouvida.

Fiquei pensando na relação que temos com trabalho, no conceito de trabalho que me parece tão equivocado em nosso país e no fato de que caráter realmente vem de berço, afinal, quantos no lugar dela teriam construído para si uma vida tão digna? Tão decente? Sozinha no mundo aos 14 anos de idade, desprotegida, uma menina...

O que faz alguém ter uma atitude tão positiva diante das circunstâncias mais adversas enquanto outros com tantos benefícios se entregam aos estilos de vida mais banais, tóxicos ou depressivos? Usam como desculpas os pais, a falta de oportunidades, se entregam ao fracasso aos 25 anos chorando como bebês mimados o fato de serem um bando de acomodados.

Será que a felicidade está mesmo nas coisas simples? Tenho ouvido tanto a respeito de expectativas irreais e como isso nos transforma em frustrados crônicos, que simplesmente são incapazes de gozar o que de bom a vida nos dá, por sempre estar presos ao que não tem. É nisso que se resume a vida: ao que temos e ao que não temos? Seremos escravos para sempre do gramado do vizinho?

Você imagina alguém ter o dia mais feliz de sua vida simplesmente por ter conseguido uma casinha minúscula para morar? Eu imagino. Uma coisa que a vida tem me ensinado é a aproveitar os momentos alegres. Adoro festas de família, adoro ver que o girassolzinho que plantei nasceu, adoro comprar ração nova para as minhas gatas e ver como elas ficam excitadas com isso, adoro descobrir músicas novas que eu gosto, adoro ler livros bons e chorar quando acabam porque não queria que acabassem, adoro tomar capuccino e sentir aquele gostinho amadeirado de canela no final, adoro ver meus sobrinhos de bochechas cor-de-rosa e vestindo capuzes no inverno, adoro ver meu pai orgulhoso da sopa que ele mesmo fez, adoro ver minha mãe contente porque o cabelo está lindo, adoro ver as pessoas que eu gosto rirem até doer a barriga, adoro tomar vinho de sexta-feira a noite até ficar alegre, adoro conversas que duram horas e todo mundo sai melhor depois delas, adoro quando minha faxineira limpa minha casa e dá vontade de deitar no chão de tão cheiroso que ele fica, adoro trabalhar até sentir o corpo cansado e depois de tudo saber que deu tudo certo e valeu a pena. Adoro os detalhes das pessoas, aquela curvinha do pescoço, as sobrancelhas, as mãos, os gestos e maneirismos que fazem cada pessoa única, os cheiros, as vozes e pezinhos de bebê...

Existem milhares de razões para amarmos viver, minha avó Khajija (Radige) que o diga, minha mãe diz que sonha com ela as vezes e nos sonhos ela está sempre rindo, só rindo, nunca diz nada, só ri...Falei: - Também mãe, era só isso que a vó fazia mesmo! Ela fazia as melhores festas, o melhor Natal, era a melhor companhia para ir para a praia e para quando a gente estava triste, lembro da gente pulando que nem malucas na cama de molas dela e ela jogando travesseiros na gente, dizendo: - Desçam já daí suas merdinhas...Nunca pensei que sentiria tanta saudade de alguem me chamando de merda...rsrsrsrsrs...mas era carinhoso demais pra gente se importar com o vocabulário e sim, minha avó falava palavrão e em 3 línguas...rs...Ela era fantástica!

Engraçado começar com a senhorinha do metrô e terminar com minha avó, o que as duas tinham em comum? Alegria de viver! Alegria de trabalhar! Alegria de ser elas mesmas! Alegria, Alegria...

E diz a Bíblia que “...a alegria do Senhor é a nossa força..”

terça-feira, 8 de junho de 2010

Torradas Queimadas

Não estava conseguindo escrever nada essa semana, um nó na garganta e a mente sem a menor criatividade, daí recebi esse texto de uma amiga muito especial e achei que era perfeito para a ocasião.

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Quando eu ainda era um menino, ocasionalmente, minha mãe gostava de fazer um lanche, tipo café da manhã, na hora do jantar. E eu me lembro especialmente de uma noite, quando ela fez um lanche desses, depois de um dia de trabalho, muito duro.

Naquela noite longínqua, minha mãe pôs um prato de ovos, linguiça e torradas bastante queimadas, defronte ao meu pai. Eu me lembro de ter esperado um pouco, para ver se alguém notava o fato. Tudo o que meu pai fez, foi pegar a sua torrada, sorrir para minha mãe e me perguntar como tinha sido o meu dia, na escola.

Eu não me lembro do que respondi, mas me lembro de ter olhado para ele lambuzando a torrada com manteiga e geléia e engolindo cada bocado.

Quando eu deixei a mesa naquela noite, ouvi minha mãe se desculpando por haver queimado a torrada. E eu nunca esquecerei o que ele disse:

" - Amor, eu adoro torrada queimada..."

Mais tarde, naquela noite, quando fui dar um beijo de boa noite em meu pai, eu lhe perguntei se ele tinha realmente gostado da torrada queimada. Ele me envolveu em seus braços e me disse:

" - Filho, sua mãe teve um dia de trabalho muito pesado e estava realmente cansada... Além disso, uma torrada queimada não faz mal a ninguém. A vida é cheia de imperfeições e as pessoas não são perfeitas. E eu também não sou o melhor marido, empregado, ou cozinheiro!"

O que tenho aprendido através dos anos é que saber aceitar as falhas alheias, escolhendo relevar as diferenças entre uns e outros, é uma das chaves mais importantes para criar relacionamentos saudáveis e duradouros.

Essa é a minha oração para você, hoje. Que possa aprender a levar o bem ou o mal colocando-as aos pés do Espírito Santo. Porque afinal, ele é o único que poderá lhe dar uma relação na qual uma torrada queimada não seja um evento destruidor."

De fato, poderíamos estender esta lição para qualquer tipo de relacionamento: entre marido e mulher, pais e filhos, irmãos, colegas e com amigos.

Não ponha a chave de sua felicidade no bolso de outra pessoa, mas no seu próprio. Veja pelos olhos de Deus e sinta pelo coração dele; você apreciará o calor de cada alma, incluindo a sua.

As pessoas sempre se esquecerão do que você lhes fez, ou do que lhes disse. Mas nunca esquecerão o modo pelo qual você as fez se sentir.

(autor desconhecido)

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A gente sabe quando realmente ama alguém, se somos capazes de ver tudo que existe de bom e de não tão bom e ainda assim querer essa pessoa perto da gente. Espero que todos os que eu amo possam aceitar minhas torradas queimadas de vez em quando porque certamente elas existem...rs...Quanto a mim, certamente tenho muito o que aprender sobre perdoar, mas de acordo com o que aprendi no cristianismo a vida inteira, se existe tal intenção no coração, Deus nos capacita, né?