A pele que habito

A pele que habito

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A Garota Menos-Valia

Uma vez que as leis do consumo desenfreado andam regendo também nossa vida afetiva, fui inspirada a procurar e acabei encontrando na economia marxista, um conceito perfeitamente adequado para ilustrar um comportamento feminino cada vez mais observado na escolha e manutenção dos parceiros amorosos. Vale citar que embora muito mais raros, existem casos de homens apresentando características semelhantes, apenas com algumas variações...
(Sorry, Max Weber, mas em se tratando de economia amorosa o Marx fez bem mais sentido...rsrs...!!!)

• Primeiro, uma psicopada de teoria:

De acordo com Marx toda a fonte de valor é o trabalho.

Para compreendermos trabalho, usaremos a definição do Dicionário do Pensamento Social do Século XX: O trabalho é o esforço humano dotado de um propósito e envolve a transformação da natureza através do dispêndio de capacidades físicas e mentais.

Sendo assim “...se uma pessoa achar por acaso numa caverna um pedaço de ouro, ele não terá tanto valor, porque não tem trabalho algum agregado nele. Inversamente, se um sujeito passar 30 anos cavando um buraco, será um buraco incrivelmente caro, porque tem muito trabalho agregado.”

Se pensarmos que o objetivo de conquistar, construir e manter uma relação exige uma total determinação e enorme investimento de tempo e energia (física e mental), bem como disponibilidade constante para a transformação e o desenvolvimento de nossa natureza psíquica, podemos perceber o enorme TRABALHO que envolve um relacionamento.

(– Pois eh, meus caros, não é para fracos!!!... rsrs...)

Voltando para os economistas, ouvimos muito sobre a tal da MAIS VALIA, basicamente a realidade de que os trabalhadores produzem tudo, mas só recebem parte do que produzem. A MAIS VALIA seria o trabalho não pago do proprietário, idéia muitíssimo divulgada e vivenciada por todo o chamado proletariado.

Vamos nos ater aqui ao conceito oposto, ao quase inédito fenômeno da MENOS VALIA. Imaginemos que os empresários em um determinado país sejam idiotas o suficiente para fazerem apenas investimentos errados, e que gerem prejuízo, porém os trabalhadores continuassem recebendo o salário integral, mesmo que o empregador incorra em prejuízo. Estaríamos assistindo ao inacreditável fato de trabalhadores recebendo mais do que produziram.

Não sou nenhuma administradora, mas imagino que a Menos-Valia não seja das coisas mais geniais do mundo dos negócios, a menos que o burguês tencione se tornar em bem pouco tempo, algum tipo de filantropo falido (..rsrs..).

Esquecendo a política de classes e nos focando nas dinâmicas das relações podemos afirmar que não raro, a Menos-Valia anda movendo nosso moinho. Quem nunca se pegou investindo todas as fichas numa relação para lá de sem benefícios? Que garota (o) nunca fez todo o trabalho sozinha (o), e ainda pagou o salário de seu proletário integral e com comissão?? (é rir para não chorar)

A questão óbvia é: Por que fazemos isso? Por que insistimos em fechar os olhos para nossas necessidades, direitos e anseios? Por que aceitamos perder tudo, nos magoar, muitas vezes pagando o alto preço do nosso tempo (e meninas aprendam: TEMPO PARA UMA MULHER É MAIS CARO QUE PARA UM HOMEM, especialmente se pretendemos ser mães, isso não é algo negociável, isso é a lei da natureza) investindo em relações obviamente e completamente falidas? Por que escolhemos para amar (e na lógica atual amor é moeda) alguém que não nos amará como precisamos? Não é muito inteligente em qualquer época, mas não faz o menor sentido se levamos em conta a filosofia de nossos tempos (consumismo, egoísmo, individualismo), faz?

Dissecando:

Em geral garotas Menos-Valia “contratam” trabalhadores imaturos, egoístas, insensíveis, infiéis, inseguros, ferrados na vida e narcisistas, pessoas que por alguma limitação afetiva e/ou cognitiva não conseguem se conectar com as necessidades de outra pessoa, nem tão pouco com as próprias. São meninos superficiais ou pseudo-complexos, de ânimo dobre, sempre mudando de interesse e opinião, irresponsáveis, infantis, muitos com sérias dificuldades em manter-se num trabalho, muitas vezes mentirosos contumazes, com valores geralmente opostos aos delas e total indisponibilidade emocional - quadro de horrores que promete uma constante montanha-russa emocional, ambivalência, ciúmes, medo de abandono, rebaixamento da autoestima, insegurança, perda de referenciais e toda a salada mista que uma relação sadomasoquista merece. Já conheci garotas Menos-Valia que literalmente só tinham o namorado com elas quando estes estavam desempregados e precisavam de alguém para pagar as baladas e motéis, e sim, garotas Menos-Valia costumam ser bem sucedidas profissionalmente.

Algo dentro dessas meninas anseia por esse tipo de tratamento, elas não são tolas, sabem exatamente onde estão se metendo, a escolha não é aleatória, algumas inclusive tendo toda uma coleção de namorados “losers” em sua jornada afetiva. Essas meninas, conforme tenho observado, geralmente são: bonitas, inteligentes, bem sucedidas, amáveis e companheiras maravilhosas, muitas tendo inclusive muitos fãs bacanas interessados, mas elas optam pelo “trabalhador incompetente”, investem tudo nele, são constantemente prejudicadas, subestimadas, desamparadas, destratadas, exploradas, muitas vezes enganadas, muitas vezes até espancadas, toda hora tendo que começar do zero, dando literalmente tiros no próprio pé...Lembrando que existe todo um gradiente de “Garotas Menos-Valia”, podendo ir desde aquela que namora o clássico meninão que nunca amadurece, nunca a assume e nunca se compromete com ela (conheci uma que namorou 15 anos um cara destes, só para ser abandonada quando ele finalmente decidiu se casar com uma fulana mais nova e mais rica em apenas 3 meses de relacionamento) até as que sofrem abusos físicos propriamente ditos.

Obviamente, relações amorosas deveriam existir para que nossas vidas fossem melhores, todos concordam que o amor deve ser algo positivo, que contribua para uma melhoria em nossa vida, nos casos citados fica claro o prejuízo que tais relacionamentos acarretarão a curto, médio e longo prazo. Presumindo que as garotas Menos-Valia não tenham problemas de ordem cognitiva, parece claro que este comportamento se baseia em neurose.

Numa definição rasa as neuroses são quadros patológicos de origem psíquica, quadros muitas vezes ligados a situações externas na vida do indivíduo, os quais provocam transtornos na área mental, física e/ou da personalidade. De acordo com a visão psicanalítica, as neuroses são fruto de tentativas ineficazes de lidar com conflitos e traumas inconscientes. O que distingue a neurose da normalidade é assim a intensidade do comportamento e a incapacidade do doente de resolver os conflitos internos e externos de maneira satisfatória .

Embora responsável sempre por considerável sofrimento, toda neurose tem um ganho para o psiquismo, um foco de prazer, algo que vicia a dinâmica mental impedindo o sujeito de libertar-se de um tipo de comportamento que o prejudica de forma clara. Passei a procurar qual seria o tal ganho da garota Menos-Valia, que tipo de satisfação interna a mantinha escrava de uma situação tão humilhante e insatisfatória.

Quando pensamos nessas garotas temos pena, achamos que elas AMAM DEMAIS e foi aí que descobri o segredo dessas relações, não é AMOR que prende uma garota Menos-Valia ao seu rapaz que não vale nada, é o PODER (e isso vale igualmente para os meninos que só namoram tranqueiras, piriguetes e vagabundas...Eu chamo de “Síndrome de Oséias” - profeta bíblico que Deus chamou para casar com uma prostituta para ilustrar a relação dele mesmo com o rebelde povo judeu da época...e abaixe a bola garoto Menos-Valia, você não é profeta, não passa de um cara emocionalmente complicado...rsrs...).
Quanto mais cheio de defeitos um namorado for, mais virtuosa parecerá a mulher que o tolera (o mesmo valendo para o sexo oposto), ela o levanta quando está caído, o tolera quando ninguém mais tolera, cuida dele quando ninguém mais cuida, o ama quando ninguém mais ama. Ela é toda amor, é a própria Pietá encarnada e isso faz com que ela se sinta ótima, forte, guerreira, cheia de qualidades, uma verdadeira supermulher e essa sensação é por demais agradável, é viciante! Quanto pior for o namorado, melhor ela será em comparação...

Toda garota Menos-Valia sente um prazer indizível com seu papel messiânico! Ela vai pegar aquele traste e dar um jeito nele, nenhuma outra garota conseguiu, mas ela vai conseguir. Para isso ela sofre, doa, aceita injúrias calada, ama, perdoa, esquece, recomeça, sustenta, atura as piores injúrias e tudo isso por quê? Porque no fim das contas ela será reconhecida, talvez nem pelo fulano, que na melhor das hipóteses casa com ela e continua o mesmo traste fingindo que se endireitou, mas por todas as pessoas sensíveis com quem ela convive, por ela mesma, por outras garotas Menos-Valia. (Quem não acreditar em mim leia o livros MULHERES QUE AMAM DEMAIS, ou visite as reuniões delas...Vocês terão uma enorme surpresa!)
Dia desses estava dando um giro pela TV e parei no Multishow para ver uns clipes, para variar aqueles com garotas semi-nuas rebolando e caras com cara de chefe do tráfico cantando, já ia mudando de canal quando a letra da música me chamou a atenção, o resumo da ópera era o seguinte: o cara não cuidava dela, não dava presentes, não era fiel, não aparecia quando ela precisava dele, mas ele a prendia pelo fabuloso sexo que ele lhe dava...rsrs...Comecei a rir porque, doce ilusão, mal sabia ele que não passava do “mino” de uma garota Menos-Valia!!!

No fundo é uma neurose daquelas, originada por uma vida toda de relações de amores ambivalentes, sabe aquelas menininhas lindas e doces, cujo papai mescla dias de amor incondicional com episódios de grosseria e desatenção? Sempre tendo que adaptar-se aos pólos opostos dos outros, ela criou todo um mecanismo de sobrevivência que é difícil de abrir mão, ela não sabe lidar com relacionamentos estáveis, eles parecem sem graça, descorados, destemperados: Nossa, o namorado liga todo dia com saudade? Ela não precisa se preocupar com outras garotas? Ele deseja um compromisso verdadeiro e não vê isso como uma ameaça para sua liberdade? Ele trabalha? Aparece quando combina? Ele se preocupa genuinamente se ela adoece? Ele se interessa pelo que ela pensa e diz? Ele sabe o que ela gosta de comer? Ele lembra dos aniversários? É carinhoso? É gentil? Dorme abraçado? Não precisa ficar vendo peitudas siliconadas para ter vontade de transar com ela? Adora tê-la por perto, mesmo que seja só pela companhia? Assim não dá, ela não sabe depender de alguém, não sabe viver com a guarda abaixada, não aprendeu a se entregar e lidar com a paz...Isso não tem PAIXÃO! É muito tranquilo, ela precisa dos picos de humor, precisa da indecisão, precisa do desafio constante, das brigas sem fim, da autoestima rebaixada, da dúvida, da decepção, do desencanto. Como viver uma relação saudável com alguém do bem?

Ela precisa do doentio, do pepino torto para poder endireitar, do cara pouco confiável, das feridas constantes que deixam cicatrizes eternas, do medo, do louco. Ela não sabe amar, ela não aprendeu, ela sabe apenas tirar braço de ferro, ela sabe só dominar ou ser dominada, só sabe lutar, só sabe se defender. Quando a gente tem muito medo pode escolher viver ameaçada, sabendo que dali não se pode esperar outra coisa além do mal já conhecido, parece mais seguro do que confiar, arriscar ser feliz e se dar mal sem aviso.

A garota Menos-Valia NÃO SABE SER FELIZ!

A boa notícia é que isso tem cura, podemos começar MUDANDO RADICALMENTE O PADRÃO DE ESCOLHA AMOROSA: Se sentiu atraída por uma tranqueira? Já caia fora, você sabe que ele é tranqueira, sempre soube quando escolhia uma tranqueira, então dê no pé e nem olhe para trás.

O próximo passo está em ABRIR MÃO DA FALSA IDÉIA DA SUPERMULHER: Enterre a madre Tereza - Você não é e não tem que ser perfeita! Você tem muitas qualidades, mas também muitas limitações e precisa de alguém que cuide sim de você, cuide na mesma proporção que você pode cuidar dele.

NÃO ACEITE MENOS DO QUE VOCÊ OFERECE: Naturalmente somos diferentes uns dos outros e cada um trará sua própria contribuição para um relacionamento, mas tem que ser proporcionalmente equivalente ou um dos lados vai ser sempre lesado e isso não dá certo.

VOCÊ MERECE SER E MERECE TER UMA PESSOA INTEIRA, alguém que deseja estar com você e permanecer com você. Erros acontecem, pessoas são feitas de limitações e fraquezas, os melhores casais passam por dificuldades, mas só nos sentimos felizes e esperançosos em um relacionamento em que a intenção íntima e verdadeira de ambas as partes é que o relacionamento dê certo e seja saudável, assim ambos se esforçam pelo bem do casal e a possibilidade de dar errado é infinitamente menor do que aqueles que já entram na relação apavorados e querendo sair.

HOMENS de verdade, homens do bem, homens afetivamente viáveis, homens de caráter e amorosos existem. Conheço vários, alguns estão na minha família, outros são maridos de amigas ou meus amigos de longa data, outros são meninos que estão crescendo e se tornando homens bons, outros ainda são homens que tomaram novos rumos em suas vidas porque perceberam que podiam ser mais e dar mais, enfim, de qualquer maneira vale a pena esperar por um deles, mesmo que seja a vida inteira...Eu sou uma esperançosa eterna no amor verdadeiro, já passei pelas minhas fases negras, mas agora estou pronta para ser feliz de novo, tomara que não precise esperar até os 60 anos...rsrs....

É MELHOR SIM, ESTAR SÓ DO QUE MAL ACOMPANHADA, sozinha você pode encontrar pela vida um cara legal, mal acompanhada além de estar presa a um relacionamento ruim, ainda vai queimar o filme por estar se relacionando com um mala...rsrs...

E A MELHOR FORMA DE SER VALORIZADA (O) É DANDO-SE O DEVIDO VALOR...

Não fique complexada (o), na real todo mundo já passou pelo menos uma vez pela fase Menos-Valia, o importante é não ficar nessa para sempre, né?


Dica Final: NINGUÉM MUDA POR OUTRA PESSOA, NÓS MUDAMOS APENAS POR NÓS MESMOS, PORQUE ENTENDEMOS QUE OUTRO JEITO DE VIVER SERÁ MELHOR PARA NÓS... Na verdade, se somos pessoas conscientes do valor da vida, estamos em constante mudança, aprendemos com nossos erros, descobrimos coisas novas, arriscamos, tentamos, mudamos, crescemos e evoluímos! Aprendemos muito com outras pessoas, especialmente com nossos parceiros de amor e de vida, uma relação saudável é uma troca constante, muitos casais acabam se tornando até parecidos com o passar do tempo, mas isso é feito de igual para igual, de forma espontânea e sem prejuízo do outro, agora se é exigido que eu me transforme em outra pessoa para ser amada (o) então isso não é amor, ou não é só amor, é uma relação de poder e onde existe disputa de poder não há comunhão verdadeira. Como já foi dito antes em outros lugares, ninguém sabe quem manda mais na santa Trindade, são 3 pessoas distintas em natureza e função que coexistem em uma, com absoluta igualdade e a definição deste ser a quem chamamos de Deus é amor (e como em time que está ganhando não se mexe...rsrsrs...)!!!!

domingo, 16 de outubro de 2011

Czeslaw Milosz e a mente cativa (ou criativa...)

* Vale destacar que ele me chegou às mãos por um ato falho, numa parteleira de livraria pequena li - A mente criativa, folheei um tempo para depois ler direito - A mente cativa e aí, como sempre, quando se tratam destas coisas meio esquisitas, fiquei curiosa...Daí em diante, só posso dizer que estou encantada por ele, lerei tudo que me chegar às mãos e escrever sobre ele me deixou com um incrível frio na barriga! Acaso? Nada é acaso nesta vida...Principalmente a vida!

Czeslaw Milosz viveu de 30 de junho de 1911 até 14 de agosto de 2004. Nasceu lituano, mas se criou como polonês. Sobreviveu aos dois maiores e piores regime totalitários de todos os tempos, o nazismo (vivendo no famoso gueto de Varsóvia) e o comunismo. Foi de cristão a ateu e de ateu a cristão, numa conversão muito parecida com a de C.S.Lewis, baseada principalmente na inteligência e numa observação perspicaz da realidade. Milosz era fluente em polonês, lituano, russo, inglês e francês.
De 1961 a 1998 foi professor de línguas eslavas e Literaturas na Universidade da Califórnia, Berkeley. Em 1978 recebeu o Neustadt International Prize de Literatura. Aposentou-se nesse mesmo ano, mas continuou a ensinar em Berkeley.

Em 1980 recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Desde que seus trabalhos tinham sido proibidos na Polônia pelo governo comunista, esta foi a primeira vez que muitos poloneses tomaram conhecimento dele. Quando a Cortina de Ferro caiu, Milosz foi capaz de retornar à Polônia, dividindo seu tempo entre sua casa em Berkeley e um apartamento em Cracóvia. Em 1989, ele recebeu nos EUA a Medalha Nacional das Artes e um doutorado honorário da Universidade de Harvard. Durante este período, na Polônia, seu trabalho foi silenciado pelo governo, censurado pelos meios de comunicação.

Seu livro de 1953 The Captive Mind (a mente cativa) é um estudo sobre como se comportam os intelectuais sob um regime repressivo e é considerado um clássico contra o totalitarismo. Milosz analisa a tirania de tais regimes, escravizando pessoas não só pela força, mas também pelas idéias e observa, entre outras coisas, que aqueles que se tornam dissidentes não eram necessariamente aqueles com as mentes mais fortes, mas sim aqueles com estômagos mais fracos: a mente pode racionalizar qualquer coisa, ele diz, mas o estômago pode levar muita coisa. Muito interessante também, são alguns dos paralelos traçados com o fundamentalismo religioso, especialmente o islâmico, tornando a obra ainda atual. O conteúdo do livro se relaciona ao de 1984, de George Orwell, e O Zero e o Infinito, de Arthur Koestler. Mas, ao contrário destes, é uma obra de não ficção. Milosz, ao contrário dos outros dois autores, viveu realmente sob os amargores de um sistema totalitário, na verdade dois – a Polônia nazista e a Polônia comunista. Escrito em Paris escandalizou muitos intelectuais europeus que flertavam com os ideais stalinistas da época. Através de toda a Guerra Fria, o livro foi citado por comentaristas conservadores. Outro livro dele com temática semelhante é “A tomada do poder”, onde disserta sobre as tentações e os perigos do totalitarismo.

”Mente Cativa compõe-se de uma série de ensaios encadeados nos quais Milosz analisa o que leva intelectuais a abrir mão da liberdade para se render a um regime que pensa por eles. O autor estuda o caso de quatro escritores que conhecera – e que acabaram se tornando servos voluntários da ditadura absoluta. Escrevendo antes da morte de Stalin, ele fala do totalitarismo ainda em seu esplendor, antes que o contraste entre as promessas megalomaníacas do governo e a miséria cotidiana de seus prisioneiros tivesse reduzido o bloco soviético a uma farsa habitada por cínicos profissionais. Se isso poderia aparentemente tornar obsoleta a obra, o fato é que, em dias como os nossos, nos quais intelectuais defendem acordos com teocracias islâmicas e tentam impor a unanimidade de uma pretensa linha justa, sua análise da atração que estes sentem pelas piores tiranias continua atual e necessária.” (Nelson Asher – poeta, tradutor e jornalista brasileiro)

A obra de Milosz foi sempre distinguida pela abordagem intelectual e emotiva dos piores momentos históricos do século XX. Considerado um dos nomes mais importantes da literatura da Polônia, Czeslaw Milosz também era conhecido pelas suas declarações polêmicas. Em 1998, ano em que José Saramago foi distinguido com o prêmio Nobel da literatura, o poeta foi um dos poucos antigos premiados que assumiu não gostar da obra do escritor português. "É uma escrita da moda, cheia de humor, mas esse humor é plano. Confesso que não o suporto". (...pelo visto ele também não gostava de texto sem pontuação...rsrsrs....)

Milosz morreu em 2004 em sua casa em Cracóvia, aos 93 anos.

Milosz é homenageado em Israel Yad Vashem memorial ao Holocausto , como um dos " Justos entre as Nações ".



• Trechos de “Mente Cativa”:

“A liberdade de algo é significativa, mas não o suficiente. É muito menos do que a liberdade por algo.”

“- Não quero viver o suficiente para ver o comunismo instituído, provavelmente será muito enfadonho. Quando a grandiosa tarefa de reeducação for concluída e o odiado ‘ser metafísico’ no homem for completamente esmagado, o que restará?”

“A economia ocidental desperdiça talentos a um grau incrível; os poucos que são bem-sucedidos devem seu sucesso muitas vezes à pura sorte quanto à sua habilidade nata.”

“Muitos músicos, pintores e escritores que tiveram a oportunidade de fugir para o Ocidente não o fizeram, pois sentiram que era melhor compor, pintar ou escrever de uma forma ou de outra, do que ensinar ou trabalhar em uma fábrica, sem tempo ou energia sobressalente para aperfeiçoar suas verdadeiras vocações, Muitos dos que saíram do país retornaram a seus próprios países seguros dessa convicção.”

“O trabalho do pensamento humano deve suportar o teste da realidade nua e brutal. Se não o suporta de nada vale. Provavelmente apenas aquelas coisas que conseguem preservar sua validade diante dos olhos de um homem ameaçado pela morte instantânea valem a pena.”

“Entre os intelectuais que sobreviveram às atrocidades da guerra na europa oriental, ocorreu um fenômeno que podemos chamar de A ELIMINAÇÃO DE LUXOS EMOCIONAIS. Romances psicanalíticos os incitam a rir. Eles consideram a literatura de cunho erótico, ainda popular no Ocidente, lixo. Imitações de pinturas abstratas lhes são enfadonhas. Eles têm fome, mas querem pão, não entradas sofisticadas.”

“De modo contrário às previsões de Marx, foi necessária tamanha desgraça, para que o sistema conseguisse renascer na retrógrada Rússia e a revolução se tornasse um verdadeiro empreendimento dirigido por burocratas do centro, reforçado ainda pela força militar. Tal desgraça suscitou essas questões a um ponto em que os europeus, buscando mudar a ordem obsoleta de seus países, concordaram em se submeter a uma nação que nunca soube liderar a si mesma e, em toda a história, nunca presenciou prosperidade ou liberdade. Que destino terrível ter nascido em tal era!”

“Und Morgen die ganze Welt” cantavam os guardas da SS se movendo contra o pano de fundo negro da fumaça que saía dos crematórios de Auschwitz. O nazismo era a insanidade coletiva, contudo, as massas alemãs seguiram Hitler por razões psicológicas profundas. Uma grande crise econômica e social deu à luz o nazismo. A juventude da Alemanha naquela época se deparava com a decomposição e o caos da República de Weimar, a degradação de milhões de desempregados, as asquerosas aberrações da elite culta, a prostituição de suas irmãs e a luta do homem contra seu próximo por dinheiro. Quando a esperança do socialismo desapareceu, ele aceitou a outra filosofia da história que lhe foi oferecida, uma filosofia que era uma paródia da doutrina Lenin-stalinista.


“Quando finalmente a Polônia foi obrigada a passar da adoração restrita à Rússia à completa idolatria, ele não deixou ninguém ultrapassá-lo. Escreveu sobre o heroísmo dos soldados soviéticos, a gratidão que cada polonês deveria expressar à Rússia, sobre Lenin e a juventude Komsomol (União da Juventude Comunista). Aderiu à linha comunista sob todos os aspectos. Na qualidade de célebre autor, recebeu um visto para a União Soviética e passou algum tempo em Moscou, e dela enviou relatórios entusiásticos em forma de prosa e verso. Em um deles, anunciou que apenas um detalhe estragava a magnificência de Moscou: ela se parecia demais com Taormina; as pessoas desse lugar comiam laranjas em demasia e Delata não gostava dessa fruta.”



O que é Ketman?
O povo do Oriente muçulmano acredita que “aquele que estiver em posse da verdade não deve expor a si mesmo, seus parentes ou a sua reputação à cegueira, à estupidez, à perversidade daqueles sob os quais Deus sentiu prazer em submeter e manter no erro”. Devem, portanto, se manter calados a respeito de suas próprias convicções, na medida do possível.



“Quem quer que venha a ler as afirmações públicas feitas acerca dos quatro autores discutidos nos capítulos anteriores, poderá afirmar que eles vendiam sozinhos. A verdade é, contudo, mais complexa. Esses homens são, mais ou menos conscientemente, vítimas de uma situação histórica. A consciência não os ajuda a cumprir com suas obrigações; pelo contrário, ela os forja. Na melhor das hipóteses, a consciência oferece-lhes os deleites do Ketman como consolo. Nunca antes houve tamanha servidão por meio da consciência como no século 20.”



“O materialismo dialético, ao estilo russo, nada mais é que a ciência popularizada do século 19 elevada à segunda potência. Seus componentes emocionais e didáticos são tão fortes que eles mudam todas as proporções. Apesar de o método ser científico em suas origens, quando aplicado às disciplinas humanas, freqüentemente as transforma em histórias edificantes adaptadas às necessidades do momento. Mas não há escapatória, uma vez que o homem entre nessas pontes convenientes. Séculos de história humana, com suas milhares e milhares de questões minuciosas, são reduzidos a algumas, a maior parte termos generalizados. Sem dúvida, o indivíduo aproxima-se mais da verdade ao ver a história como a expressão da luta de classes em vez de uma série de questões privadas entre reis e nobres. Contudo, precisamente porque tal análise da história se aproxima mas da verdade, ela é mais perigosa. Dá a ilusão do conhecimento pleno; fornece respostas a todas as perguntas, perguntas meramente andavam em círculos repetindo poucas fórmulas. Além disso, as disciplinas humanas se conectam com as ciências naturais graças à perspectiva materialista (como nas teorias da “matéria eterna”), daí vemos o círculo se fechar perfeita e logicamente. Então, Stalin torna-se o momento crucial da evolução da vida em nosso planeta.”


- Alguns poemas (da internet pq ainda não li outras coisas dele):

DÁDIVA

Um dia tão feliz.
A névoa baixou cedo, eu trabalhava no jardim.
Os colibris se demoravam sobre a flor de
[ madressilva.
Não havia coisa na terra que eu quisesse
[ possuir.
Não conhecia ninguém que valesse a pena
[ invejar.
O que aconteceu de mau, esqueci.
Não tinha vergonha ao pensar que fui quem sou.
Não sentia no corpo nenhuma dor.
Me endireitando, vi o mar azul e velas.

(Berkeley, 1971)



História da Literatura Polonesa
Lá, onde as gaivotas dormindo em névoas nadam sobre
superfícies tranquilas,
e além, onde navios sobem e descem.
A notícia a esse respeito corre sob a luz da montanha,
Mostrando o poeta à mesa,
No quarto frio, numa cidade pouco conhecida,
Quando o relógio bate na torre.
Seu lar está nos espinhos dos pinheiros, no balido da corça,
Na explosão das estrelas dentro do punho.
O relógio não lhe mede o poema. Ribomba
Como a idade do mar na profundeza da concha
Que jamais silencia. Dura. E o seu sussurro
Que imita os homens é forte.

Feliz o povo que possui poetas
E em seus tormentos não caminha calado.
Apenas os oradores não gostam dos poetas “

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Alexandria e Espiritualidade

Vou aproveitar o exemplo da Hipátia e me meter em “assunto de homens”, assim do jeito feminino de fazer as coisas, de forma despretensiosa e cheia da ironia de quem sangra todo mês e não morre e, exatamente por isso não se preocupa muito com normas estabelecidas e, com o que deveria ou não ser, já que dentro de nós tudo se move em ciclos imperfeitos e imprevisíveis o tempo todo e o equilíbrio muitas vezes só é encontrado no meio do caos interior.

A primeira grande questão que tomou conta de mim de forma obsessiva, isso lá pelos 5 anos de idade, foi a seguinte: - Será que todo mundo enxerga as cores como eu enxergo? No afã de achar uma resposta razoável, fiz como toda criança curiosa (e somos cientistas e filósofos brilhantes quando pequenos) e saí colhendo dados por todo lado, queria que as pessoas me explicassem como era o azul para elas, depois o vermelho e assim por diante, e a conclusão que cheguei e ainda penso assim, tantos anos depois, é que cada um percebe as cores e o mundo de forma diferente dos demais.

Sendo assim, por que insistimos em obrigar os outros e muitas vezes até matamos (grande ironia para os religiosos, afinal em especial, para judeus e cristãos o sexto mandamento é “Não Matarás”) pessoas por querer que todos vejam as cores da mesma forma que vemos?

Aprendi tanto sobre Deus e cristianismo durante toda a minha vida, nisso sou eternamente grata ao meu pai e à sua agora não mais tão vasta biblioteca, porque quanto mais eu lia e ouvia, mais amava a Deus, mais louvava a Deus por sua infinita grandeza e, exatamente por isso, mais perguntava e quanto mais perguntava mais coisas aprendia ( e aprendo) e sinto Deus guiando este processo de aprendizagem, de aquisição de conhecimento, mesmo quando algumas questões são espinhosas e acabam por transformar dogmas em verdadeiros paradoxos intransponíveis, pelo menos por agora... Não sou, nem nunca fui de aceitar resposta pronta, porta fechada, assunto encerrado! Não está em mim isso, minha curiosidade é infinita e afinal, por que isso seria errado? Não foi Deus quem me fez assim?

O filme Alexandria traz um pouco da história dos conflitos ardentes entre religiões, e entre a religião e a filosofia. Confesso que me emocionei quando a biblioteca foi queimada por cristãos totalmente equivocados e ensandecidos, ouvi um som pesaroso na alma, numa paráfrase respeitosa, me peguei pensando: “- Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem...”. Alguém com fé mais infantil que a minha dirá: - Mas Dani, Deus é soberano, Ele não permitiria que coisas realmente importantes se perdessem! Ao que eu responderia: - Sempre assumiremos as consequências de nossos erros, ou jamais evoluiríamos...A destruição daquela biblioteca, assim como todas as malditas fogueiras santas de todos os tempos, sejam de que religião tenham sido, são atrocidades próprias do homem sem razão e dominado por uma única emoção, a saber, o ódio, algo que Cristo condenou ao extremo.

Outro assunto abordado no filme que me toca em especial é a questão da mulher, tenho só uma pergunta a fazer: - Se não era pra gente pensar e oferecer nossa contribuição, por que afinal Deus nos daria um cérebro pensante e no caso explicíto de muitas, um cérebro MUITO pensante??? Será que o apóstolo Paulo pode ter escrito aquelas coisas especificamente para o contexto das igrejas para quem as cartas se destinavam (e mesmo assim eu o questionaria se estivesse lá...)? Será que tem cabimento mulher não cortar o cabelo e não se depilar? Em que nossos pelos nos fazem mais santas? Será que nossa menstruação nos faz indignas de falar com Deus se foi ele mesmo quem nos deu essa natureza? Será que Eva é mais culpada que Adão? Onde estava esse distinto cavalheiro quando ela estava sendo engabelada pelo chaveco da serpente??? ...rsrs...Enfim, sou mulher, penso, sinto e falo (e pra ficar ainda mais perigosa, escrevo) e não há nada no mundo capaz de me impedir de perguntar as coisas que pergunto, inclusive para Deus...Existem muitos homens que respeito, alguns que admiro e amo, mas nunca deixarei de ser eu mesma, de ser livre, de pensar, ou de me sentir tão digna de ser ouvida e de existir do que qualquer um deles. DEUS NÃO FAZ ACEPÇÃO DE PESSOAS, SEJA POR SEXO OU RAÇA...Isso está na Bíblia, em claro e bom tom !!! No filme a inteligência liberta a mulher até certo momento, após o qual a escravidão se lança sobre ela com ferocidade, exatamente pelo medo que tal inteligência provocava, e que coisa medonha é a escravidão! Em qualquer tempo e época, nada destrói mais o espírito/alma do ser humano do que perder a liberdade (e sim, sou dicotomista, nisso sou Calvino...rsrs..).

E afinal, o que seria o espírito/alma do ser humano?

Sendo muito singela, fui ao Dicionário Aurélio, que nos dá o seguinte:

Princípio de vida. Entidade a que se atribuem, por necessidade de um princípio de unificação, as características essenciais à vida e ao pensamento. Princípio espiritual do homem concebido como separável do corpo e imortal(Aristóteles puro isso...rsrs...).

O conjunto das funções psíquicas e dos estados de consciência do ser humano que lhe determina o comportamento, embora não tenha realidade física ou material; espírito. Sede dos afetos, dos sentimentos, das paixões. Sentimento, generosidade, coração. Condição primacial. Essência.

Para C.S.Lewis, esse meu querido, “...você não tem alma. Você é uma alma. Você tem um corpo.”

E para mim, pequena Dani, nós somos seres humanos com alma e corpo integrados, somos um inteiro híbrido e nisso até a Bíblia me apóia, uma vez que fala de corpos transformados na eternidade e em ressurreição dos corpos, nunca vi alma penada e tenho sérias objeções sobre essa idéia de espíritos humanos vagando por aí, de modo que pra mim SOMOS ALMA E CORPO, as afecções psicossomáticas estão aí para comprovar isso o tempo todo, é científico, e mais uma vez apelo: Deus nos fez assim e achou muito bom (pouco importa se tenha levado 7 dias ou 7 eras fazendo isso...rsrs...).


Sendo assim, o que seria a tal espiritualidade?

De todas as definições teóricas que andei lendo, achei essa a mais simples, didática e despretensiosa:

"A espiritualidade é o processo de um desenvolvimento pleno,
adequado, apropriado e harmônico das capacidades espirituais
do homem. As capacidades espirituais são aquelas relacionadas com
(a) O intelecto ou a compreensão; i.e., raciocínio, memória,
percepção e imaginação,
(b) O sentimento ou do "coração"; i.e., amor, intuição,
compaixão e bondade.
(c) A vontade ou volição; capacidade de iniciar e continuar uma ação.
William Hatcher

Idéia que parece ecoar naturalmente no íntimo das pessoas, pois a síntese das contribuições de amigos leigos que recebi foi esse:
Espiritualidade é tudo o que dá sentido à vida do homem.
Espiritualidade é estar conectado.
A Espiritualidade é o ponto em que nossa razão e emoção se fundem a este "ser" transcendente que muitos chamam de Deus, de modo tão harmonioso, que sabemos ou intuímos que o que pensamos e sentimos anda em unidade com a "filosofia" daquilo em que acreditamos.

Para mim essa tal filosofia se baseia na idéia de consciência e aí uso Jung duas vezes:

“ Em várias ocasiões Jung equiparava a consciência com conscientização, intuição e APERCEPÇÃO, ressaltando a função de REFLEXÃO em sua consecução. A obtenção da consciência pareceria ser o resultado da recognição, reflexão sobre a experiência psíquica e retenção desta, possibilitando ao indivíduo combiná-la com o que ele havia aprendido, a sentir emocionalmente sua relevância e seu significado para sua vida”

e

“A base essencial de nossa personalidade é a afetividade. Pensar e agir são, por assim dizer, meros sintomas da afetividade. Os elementos da vida psíquica, sentimentos, idéias e sensações apresentam-se à consciência sob a forma de certas unidades que, numa analogia a química, poderiam ser comparadas às moléculas.”

Compreendendo as coisas desta forma faz todo sentido a afirmação de Pascal:

“..é o coração que sente Deus, não a razão.”
Crer em Deus não é pensar Deus (ou ainda melhor, não apenas pensar), mas sentir Deus a partir da totalidade do ser.

Encerro com Ruben Alves e uma palavrinha sobre a religião, para ele a religião é (ou deveria ser) a voz de uma consciência que não pode encontrar descanso no mundo tal qual ele é, e que tem como seu projeto transcendê-lo. Deste modo, que me perdoem os fundamentalistas, mas em Alexandria, Hipátia e seus círculos são o que de mais religioso aconteceu.



segunda-feira, 18 de julho de 2011

Amor de Velhinhos...

" A ausência da satisfação faz com que os objetos de amor surjam aos nossos olhos como envoltos em um mágico véu, e tenham aquela aparência de periculosidade que constitui o seu fascínio."
Th. Reik


Difícil falar desse assunto...(minha amiga Roberta colocou uma foto no facebook de 2 velhinhos pelados se abraçando e isso voltou à minha mente com força, tive que escrever um pouco a respeito).

Tempos atrás vi uma cena tão simples e ao mesmo tão rara: Um senhor de idade avançada ajudava sua esposa, também idosa e visivelmente mais frágil a subir no ônibus e sentar-se no banco, o que chamava a atenção era a doçura com que ele a olhava, a gentileza de seu toque, a proteção contida em cada gesto, a dedicação e o comprometimento dele em fazê-la sentir-se bem. Em meio à sua dificuldade motora, ela disse a ele: - Eu falei pra você, devia ter vindo sem mim, aproveitaria melhor o passeio! Ao que ele repondeu divertido: - Minha cara, não teria a menor graça sem você...E ela sorriu encantada, sentou-se ao lado dele e deu-lhe o braço neste gesto tão característico dos casais que se amam faz tempo.

Lembro que cheguei no trabalho meio emocionada, meio confusa, estava vivendo tempos difíceis nessa área...Era isso o que eu queria pra mim, um amor de velhinhos, um amor até ficar velhinhos: Como é que se chega nisso? Confesso que apesar de meus 34 anos de idade e várias confusões amorosas, o que tenho é um coração de menina. Se existem regras ou estratagemas nesses jogos do amor, ninguém me ensinou nenhuma, meu pai conheceu minha mãe com 11 anos de idade na rua em que morava, com 17 ele deu a ela um anel de noivado, com 19 casou-se e com 21 eu nasci... Ainda estão juntos após muitas e muitas histórias e fases! Um amor de meninos que está virando amor de velhinhos! Não sei se foi fácil pra eles, acho que não foi e não é, mas eles seguem em frente, fazendo o caminho ao andar.

Como chegamos nisso??????????????

O segredo estará nas escolhas que fazemos? Talvez na forma como solucionamos nossos conflitos? Talvez na maneira como construímos nossas relações? Talvez em valorizarmos as coisas certas? Talvez em nossa habilidade para nos manter comprometidos? Talvez na manutenção do respeito e do afeto na forma em como tratamos a pessoa amada?

De forma geral temos uma enorme tendência em racionalizar tudo. Tantas vezes ainda me pego tentando escolher racionalmente o que o coração teima em escolher sem razão nenhuma. Talvez o segredo para a longevidade do amor esteja em sermos impulsivos na escolha e racionais na manutenção, amarmos quem nosso coração quer amar, mas pensar nos detalhes dessa relação com sensatez, avaliar nossas atitudes e suas conseqüências dia após dia, semeando e regando sem cessar o jardim que decidimos cultivar.

Quando digo "talvez" sou absolutamente honesta, isso porque esse assunto pra mim é muito misterioso, um total enigma, sei que minhas esquisitices podem ser muito interessantes, mas sei também que elas podem assustar as pessoas (...rs...), sou muito de lua, meio avoadinha, completamente atrapalhada (especialmente no começo), tem horas que vivo em outro mundo e o cara terá que ser meio especial pra lidar com isso numa boa e continuar me amando e me dando um pouco de realidade.... Ontem um amigo perguntou se eu me achava difícil de ser amada, respondi que sabia que muitas pessoas gostavam muito de mim, mas que não sabia se eu era fácil de ser amada ou não, no fim descobri que ele tinha a mesma percepção de si mesmo! Depois, pensando que amor de verdade poucas vezes tem a ver com méritos pessoais, percebi que ninguém tem essa resposta - só o que sabemos é que todos precisamos e queremos ser amados.

A velhice chega para todos nós inexoravelmente, um dia vou olhar no espelho e ver algo muito diferente do que vejo hoje, um dia vou olhar para o lado e ver algo muito diferente do que via antes...O que mais quero é estar com alguém que quando me olhar nos olhos veja tudo o que fui, sou e serei e ame todas as partes! Difícil? Talvez. Mas tenho essa necessidade intrínseca de excelência que não me deixa contentar com menos: IMPERFEITO com certeza, mas MEDÍOCRE??? Impossível...Eu quero um amor de velhinhos! E quanto mais demora para eu achar mais mítico ele fica (vide texto de cabeceira), até porque só dá para descobrir se o amor que estamos vivendo é um "amor de velhinhos" conforme ele for se tornando um, né? De qualquer forma, acredito que achar alguém que também queira isso já é um bom passo. Afinal, uma das coisas que certamente contribuem para a longevidade do amor é a persistência em simplesmente FICAR...As estações vão e vem, a paixão também e como diz Tolstói: "...conhecendo um homem a sua própria mulher, a mulher a quem ama, conhece melhor as mulheres que se tivesse freqüentado muitíssimas..."


Sou uma menininha no amor, mas tenho sonhos de moça crescida, a coisa tinha tomado tal proporção em minha vida que eu andava correndo pra me esconder embaixo da cama, agora ando mais independente...rsrs...ainda tenho medo, é fato, mas não fico mais paralisada! Vamos ver o que a vida reserva, de qualquer forma, fica o sonho e com ele a força de um desejo: um pouco imaturo talvez, um tanto fantástico, outro tanto romântico, mas vigoroso e verdadeiro! Queria alguém que não se importasse de segurar meu coração e mantê-lo aquecido...

sábado, 14 de maio de 2011

Sylvia Plath e a Voz feminina

De tudo o que vivi em minha experiência no mestrado, o que nunca mais esquecerei porque encontrou eco direto em meu coração como tratando-se de uma verdade absoluta, resume-se a uma frase, dita com a expressão certa, com o tempo exato, no contexto adequado:

- Ser mulher é mais difícil em TUDO...

Ninguém até hoje conseguiu ilustrar com tanta verdade toda a complexidade, sanidade e loucura do nosso dito sexo frágil do que Sylvia Plath em seus diários. Já li seus poemas, alguns me são caros, ainda não li seu romance, embora tenha a pretensão de lê-lo em breve, mas são seus diários: sua vida íntima, seus sentimentos, sua intensidade, seus pensamentos e preocupações, sua personalidade ao mesmo tempo brilhante e sombria, seu amor imenso por Ted, suas dúvidas, crises e dias comuns que ocupam minha cabeceira e boa parte de meu tempo dedicado a literatura já faz muito tempo. É impossível não se identificar com Sylvia, ela era mulher por excelência, bela e feia, sexy e puritana, firme e insegura, talentosa e incapaz, estéril e fértil, sensata e louca, alegre e triste, madura e infantil, genial e imbecil, carente e cuidadora, generosa e ciumenta, compreensiva e irracional, profunda e fútil e por isso tudo, FEMININA em todas as suas contradições.

Fico triste em saber que morreu tão jovem (30 anos), vítima de uma depressão tamanha que também acabou ceifando seu filho mais velho, também depressivo, também suicida. Também sofro ao saber de um amor tão grande encerrado em meio à dor de uma traição e do abandono. Gostaria de tê-la ainda por aí, escrevendo e sofrendo as ansiedades eternas dos escritores com relação ao que e como dizer e enriquecendo minha alma com a dela.

Uma das coisas mais lindas da vida é seu processo natural de amadurecimento, que bom quando usamos nosso livre arbítrio para vivenciá-lo ao invés de resistir a ele, que rico quando aprendemos a apreciar cada uma de nossas fases com seus prazeres e percalços, alcançando um EQUILÍBRIO que é próprio daquele que aprende com a experiência, então não mais desperdiçamos energia com causas vazias e compreendemos que a maior causa é a individual, cada um de nós é seu próprio enigma. Sylvia me ensina isso ao descrever suas emoções frente a cada acontecimento corriqueiro de sua vida, ela seguia buscando as pistas de seu caminho interno, sinais de seu próprio significado no mundo, encarava cada experiência como um poço de possibilidades, de histórias para contar, de lições para aprender. Poderia seguir falando dela muito mais, mas prefiro que ela fale por si mesma, segue abaixo alguns dos trechos (meus favoritos) de seus diários que transcrevo...Seguido do trailer do filme Sylvia, para quem não conhece.

“Qual é a minha voz? Feminina, ai de mim, porém implacável. Dura, por favor, sem outra moral fora a crença de que amadurecer é bom. A fé também é algo bom. Sou muito puritana, no fundo.”

“Quando alguém ama, possui um estoque interminável de amor.”

“..sou forte, embora esporadicamente imatura e frágil. Mas sou forte, um ser pensante, apesar de tudo.”

“Meditar: semear sonhos. É o bastante viver a vida, ir levando de qualquer jeito, sem sonhá-la dupla, que é pior ainda.”

“...e, portanto empreendo minha jornada pelos caminhos da vulnerabilidade novamente, e do que eu defino como amor...”

“...enquanto combater é uma causa para os homens, para as mulheres combater é para homens.”

“Preciso de um companheiro forte: não quero esmagar e dominar alguém acidentalmente, feito um rolo compressor...Preciso encontrar um parceiro potencialmente forte e poderoso, capaz de se equiparar a minha personalidade vibrante: sexual e intelectualmente. É preciso admirá-lo, mesmo em pé de igualdade.”

“A gente primeiro sara, depois trabalha...”

“Eu posso fazer mais amor, quanto mais amor eu faço.”

“...para escrever é preciso viver, certo? Preciso ser capaz de observar a vida de modo inteligente e intuitivo, e a experiência de vida é algo que nunca terei no ambiente acadêmico idealizado da pós-graduação.”

“Talvez quando nos apanhamos querendo tudo, isso ocorra porque estamos perto de não querer nada. Há dois pólos opostos em não desejar nada: Quando há plenitude, riqueza e tantos mundos interiores que o mundo externo não é necessário para nos alegrar, pois o prazer emana do âmago do ser. Quando se morre e apodrece por dentro e não há nada no mundo; nenhum alimento ou sol, nenhuma mulher ou mente mágica alheia consegue alcançar o cerne carcomido de seu planeta alma devastado.”

“...e eu insone, sonhando durante as breves cinco horas de madrugada, travesseiro de porco-espinho, contando carneiros e ouvindo seu canto no lençol inútil.”

“..lecionar é um sorridente vampiro funcionário público que bebe seu sangue e chupa seu cérebro sem nem dizer obrigado.”

“Eu sou eu, e a chuva é linda caindo sobre as chaminés.”

“Ao ver suco de laranja e café até o suicida embrionário se anima visivelmente.”

“Se não consegue pensar nada externo a você, não é capaz de escrever.”

“Mas a vida é longa. E é a longo prazo que se equilibra a chama breve do interesse e da paixão. O longo filão prosaico do pão nosso de cada dia.”

“Homem feliz, em seu mundo, longe do mundo.”

“Viver, fofocar, trasnformar mundos em palavras. Eu posso fazer isso, se suar o bastante.”

“Uma mulher que nunca escuta, uma mulher horrível, com a forma de um prójetil duro, rombudo, antipático feito um sapo seco...”

“Um homem é um todo, não se pode realmente dividi-lo em partes herméticas.”

“Sou ansiosa, colérica, segura de meu dom, esperando apenas treiná-lo e dominá-lo.”

“...Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.”


segunda-feira, 21 de março de 2011

Família, segredos e guarda-chuvas...







Anos atrás eu e um amigo de faculdade estávamos parados na soleira da porta da biblioteca, rindo um do outro e tentando decidir se enfrentaríamos a chuva forte para ir para casa depois de um dia inteiro e extenuante de aulas ou se esperaríamos mais um pouco, tomaríamos um café, assim deixando os nossos respectivos namorados (no caso dele namorada...rs...) esperando em casa.

Nenhum dos dois tinha sequer um guarda-chuva e eu ainda estava me recuperando de um resfriado, além disso, éramos grandes amigos e adorávamos estar na companhia um do outro, optamos então pelo café e foi lá na Rua Maria Antonia, após uma aula de Teoria Familiar Sistêmica, no meio de um aguaceiro e sem guarda-chuvas, que nasceu a mais simples e divertida definição de família que já ouvi até hoje, saída assim sem pretensão, de uma boca grande, cheia de um sorriso largo que eu gostava tanto.

- Dani, família é como guarda-chuva, ninguém gosta de carregar, mas todo mundo acaba precisando!

O tempo passou, perdi contato com esse meu amigo e com muitos mais, mas a idéia ficou e a reflexão por trás dela. De início a compreensão é um tanto óbvia e simplista: família seria algo que por vezes ocupa o lugar de outras coisas em nossa vida (coisas até mais divertidas, mais interessantes), algo que durante um bom espaço de tempo parece até um peso morto em nossa rotina e atividades, tem horas que é meio cafona e não combina com nosso estilo de vida, tem vezes em que é grande demais e inconveniente se a chuva é pouca, ou pequena demais em um temporal, mas inevitavelmente, em momentos cruciais e até mesmo depois de morta, todo mundo acaba precisando.

Nesse meu sempre renovado interesse por símbolos, combinado aos atendimentos “em massa” que venho realizando, o assunto FAMÍLIA começou a ganhar um novo contorno, mais profundo e mais denso e, para minha surpresa, a definição tão singela do meu amigo mostrou-se ainda verdadeira e com um sentido intrínseco muito mais peculiar.

A chuva por si só, apresenta no estudo dos símbolos um significado bastante rico, intrincado e por vezes ambivalente. Em várias culturas, nós encontramos a chuva relacionada a tudo que torna fecundo, que faz germinar, que possibilita a vida, símbolo inclusive de esperma, do líquido que fertiliza a terra para que essa produza flores, frutas e folhas. A água que vem da chuva abençoa, traz vida, crescimento, mantém o ciclo vital ou, em excesso, destrói, desnaturaliza, muda a paisagem, desfaz.

Do ponto de vista psíquico a chuva (sobretudo em sonhos) pode ter um sentido de compreensão, de INSIGHT, daquilo que nos faz entender a vida e nos libertar dos tabus neuróticos que nos tornam cativos de ciclos de morte, de pacotes sinistros feitos com nossas gerações anteriores que nos condenam a repetir seus erros e suas dores.

Nesse sentido o guarda-chuva seria aquilo que nos impede de receber a fecundidade, a possibilidade de crescer e viver por aquilo que somos, sem ele seríamos lavados de nossas heranças traumáticas, dos presentes de grego que os pais legam aos filhos inconscientemente.

Virei eu alguma ativista anti-família?

Não, muito pelo contrário, estou escrevendo isso em prol da salvação das famílias! Apenas saindo na chuva sem guarda-chuva psíquico poderemos abrir mão dos trilhos já traçados pelas dificuldades de nossos progenitores, apenas conhecendo e reconhecendo suas angústias e as nossas poderemos nos libertar do pacto de morte psíquica que por vezes estabelecemos com eles sem querer.

Toda criança saudável e inteligente percebe desde cedo o que seus pais querem dela, todas as crianças inocentes e sensíveis se adequarão a esse papel na busca incessante de serem amadas, e ainda que esse amor se dê muito raramente e em meio a ciclos constantes de violência e desprezo, a criança permanecerá em seu papel ansiando por aquela esmola de atenção. Tem gente até hoje, adultos e com pais mortos que se manterão em seu papel na aliança sinistra da manutenção da maluquice dos pais pelo sonho de ter o amor dos mesmos (lembrando que para o inconsciente não existe morte como a compreendemos), para isso abrirão mão de qualquer possibilidade de felicidade, de autenticidade do seu self, de qualquer saída que o possibilite ser ele mesmo e não uma projeção do desejo dos pais, perpetuando um ciclo neurótico.

Dia desses recebi uma menininha de pouco mais de 6 anos, ela sempre me despertava um enternecimento diferente, tinha um quê elegante de princesa, falando baixinho e usando tiaras enfeitadas e sapatos-boneca, tinha sempre uma atitude um tanto quanto pensada, pouco espontânea, meio ensaiada, isso me dava muita pena, sempre me constranjo com crianças que não agem como criança, talvez porque sempre fui muito cobrada nesse aspecto. O fato é que naquele dia havia algo diferente no ar, não estava tão simples para ela manter a compostura, levou quase vinte minutos para montar uma casinha que costumava montar em cinco, pela primeira vez me pediu ajuda, eu ia separando as peças, mas desacostumada como era em ter ajuda se atrapalhava ainda mais comigo no meio de tudo.

- Não adianta, dessa vez não vou conseguir...nem mesmo com você ajudando!

Parou um pouco e suspirou, ficou um tempo alisando a barra do casaco cor-de-rosa, talvez refletindo se devia ou não falar daquilo, esperei seu tempo, não devia apressar as coisas para não perder o momento. Por fim ela olhou para mim com seus enormes e belos olhos castanhos, sempre admirei as pequenas sardas em torno deles, continuou mantendo o olhar assim firme e em direção aos meus olhos.

- Sabe nunca tinha reparado, mas seus olhos são da cor dos meus...Meu pai diz que tem cor-de-avelã, porque é castanho avermelhado...Faz tempo que venho aqui e só agora vi!

Sorri para ela, a pequena princesa sentou mais perto, ela queria sussurrar algo importante em meus ouvidos.

- Eu só queria ter uma família feliz, todo mundo tem uma família feliz!


Detalhes mórbidos da história a parte, o que vem ao caso é que sobrou para mim a responsabilidade de dizer a ela que nem todo mundo tem uma família feliz, que muitos tem problemas também e que faz parte da vida lidarmos com nossos problemas. Após minha “brilhante” atuação explicando que seus pais também eram humanos e cometiam erros, embora fossem adultos e de dizer a ela que um dia ela cresceria, amaria uma pessoa e teria sua própria família, onde poderia fazer escolhas melhores e acertar mais, saí do consultório e fui tomar um café para me consolar do fato de ter sido mais uma vez a portadora das más notícias, em meu sentimento era como se eu tivesse contado para todas as crianças do mundo que Papai Noel não existe, nem tão pouco as fadas, duendes ou Coelhinho da Páscoa e que os contos de fadas são na atualidade apenas histórias editadas com o objetivo de vender produtos.

Por que crianças de 6 anos (ou de qualquer idade) precisam descobrir que não terão uma família feliz??????? Por que pessoas egoístas, narcisistas, totalmente imaturas e despreparadas saem parindo bebês por aí enquanto pessoas saudáveis, que são capazes de amar, de se comprometer, de desejar ardentemente ter um filho e uma família continuam sofrendo diante da solidão, da infertilidade, da incompreensão dos fóruns de adoção????????????????????????

Perguntas sem resposta nesta vida.

O que posso responder nesse texto é como podemos nos livrar do fardo das famílias infelizes nos tornando pessoas capazes de gerarem e criarem filhos sadios e felizes, essa possibilidade existe, tenha vindo você de onde e de quem for. VOCÊ PODE SER FELIZ, TER UM RELACIONAMENTO SAUDÁVEL E UMA FAMÍLIA AMOROSA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

O primeiro passo está em ENTENDER que seus pais ou os adultos responsáveis por você fizeram o que podiam mediante as escolhas feitas por eles e o que eles próprios receberam, ou seja, NÃO FOI CULPA SUA, você era uma criança linda e esperta que MERECIA TER TIDO UM FAMÍLIA FELIZ, senão teve a responsabilidade recai sobre aqueles que tinham por obrigação cuidar de você.

O segundo passo está em CHORAR essa dor, pegue toda sua frustração, sua mágoa, suaS histórias tristes, toda agressão e desamor recebidos, coloque tudo num caixão imaginário, chore pela criança que teve que passar por tudo isso sozinha e sem proteção, chore uma semana se for necessário, depois faça uma cremação psíquica, queime tudo até a última cinza, deixe o vento ou o mar levar tudo embora.

O terceiro passo é DESISTIR de esperar que esse passado se altere, que seus pais mudem, que te amem e sejam tudo o que não foram...Just let go, ou você continuará preso nessa teia e desperdiçará sua vida numa maldição do tipo “não fomos felizes, logo você não pode ser também...”, isso é muito comum em crianças cujos pais não se separam “por causa dos filhos”, após uma vida de hostilidade e infelicidade tornam os filhos cativos de sua própria dor, como uma espécie de compensação por terem mantido a família “unida” às custas de seus sonhos e realização. Vale salientar que sair fugindo da realidade familiar, abandonar tudo e todos achando que com isso o problema se resolve magicamente é uma bobagem, você pode ir até o Alasca e nem perceber que toda sua infância e seus dramas familiares estão bem ali, enfiados na sua mochila, vão contigo aonde for. Não dá pra pular de fase, tem que atravessar esse vale!

Bom, após dar-se conta que VOCÊ NÃO TEVE CULPA, após CHORAR e fazer o luto da família feliz que você não teve e depois de DESISTIR de lutar em vão para mudar seu passado, chegou a hora de DESCOBRIR QUEM VOCÊ RELMENTE É, longe das projeções de seus pais e adultos responsáveis, longe do papel que eles te atribuíram nessas redes inconscientes, para isso tem vários caminhos: psicoterapia, busca pelo sagrado, expressão artística, esportes, tudo isso junto, enfim, qualquer coisa que te coloque em sintonia com seu self, seu verdadeiro eu, com aquilo de mais autêntico e peculiar que existe em você...Chega de repetir as besteiras do papai e da mamãe, chega de refazer as escolhas erradas das pessoas que não puderam te dar o suporte necessário, chega de ser infeliz só para se vingar de tudo isso...SE ACHE, SEJA VOCÊ MESMO E ENCONTRE O SEU CAMINHO em meio a chuva!!!!!!!

Só aí, quando estiver de posse de você mesmo, do seu verdadeiro eu, seguro de quem você é e daquilo que realmente te pertence nesse mundo psíquico, você poderá cumprir a última etapa do processo e CONSTRUIR UMA VIDA FELIZ, QUEM SABE ATÉ MESMO UMA FAMÍLIA FELIZ SE ESTE FOR SEU CAMINHO...A última etapa é o PERDÃO, no sentido de não mais atribuir culpa, liberar aqueles que erraram com você do peso do mal que eles lhe fizeram, deixar que eles se vão, guardar apenas aquilo que faz bem levar na jornada...SER LIVRE!!!!!!!!!!!!!!! Andar na chuva sem guarda-chuva, não por rebeldia ou rancor, mas porque você está pronto para ser fertilizado, fecundado, emancipado.

Sou árdua defensora da família como instrumento de comunhão, aprendizagem, vínculos e trocas afetivas, compartilhamento de valores e conhecimento, mas a família só pode ser tudo isso se os indivíduos que a compõem, sobretudo se os adultos que a lideram forem conscientes de sua importância e de seu papel na formação das próximas gerações de indivíduos, se conseguirem olhar para seus filhos como pessoas e não como objetos ou apêndices de si mesmos, pessoas pequenas mas repletas de sonhos, necessidades, potencialidades e segredos a serem descobertos e valorizados...Cada ser humano é único e valioso em sua peculiaridade!

Aos que crêem: Deus nos dá os filhos como herança e ele há de nos cobrar a forma como administramos essa dádiva sobremaneira preciosa que ele nos oferece.

Aos que não crêem: se o homem é bom em si mesmo e solitário na tarefa da vida, torna-se maior ainda sua responsabilidade para com os que gera.

Para ilustrar tudo isso não deixem de assistir “Um segredo entre nós”, belo filme exatamente sobre tudo o que vim dizendo no ENORME TEXTO acima...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Rivotril e as Relíquias da Morte

Ser introspectivo é igual a ser neurótico?

Serei eu uma psicóloga contra o uso de medicação para alívio dos sintomas de transtornos mentais/ emocionais?

Para ambas as questões minha resposta é: Depende...

Rivotril ou Clonazepam é um benzodiazepínico utilizado há muitas décadas para o controle da Fobia Social, do Distúrbio do Pânico, de outras formas de Ansiedade Generalizada e para ajudar a controlar os sintomas de ansiedade normais decorrentes de situações extremas da vida de qualquer um. Além de ser ansiolítico (agir contra a ansiedade), o remédio é anticonvulsionante, poderoso relaxante muscular (e por isso é usado muitas vezes para tratamento de insônia) e é usado até para casos de overdose de anfetamina.

Meu crivo para encaminhamento de pacientes para uso de medicação, seja qual for, se baseia no tripé da saúde emocional, ou seja, capacidade de estabelecer e manter relações afetivas, capacidade de aprender e desenvolver atividades produtivas/intelectuais e capacidade de se perceber e cuidar de si mesmo. Se apenas uma destas três capacidades já estiver seriamente comprometida, é absolutamente recomendável que algum tipo de tratamento mais diretivo seja administrado, sem o qual, muito provavelmente, nenhum outro tipo de tratamento (incluindo psicoterapia) terá sucesso, uma vez que potencialmente os sintomas não permitiriam ao paciente uma imersão em si mesmo capaz de alcançar algum insight e mudanças de perspectiva/estilo de vida necessários.

Sendo assim, por que pessoas tidas como normais (sem haspas mesmo, já que para a medicina e para a psicologia o conceito de normalidade é bastante simples: ausência de um transtorno que incapacite o indivíduo para a vida) cada vez mais vem sendo medicadas?

Obviamente, e sem contar aqui os maluquetes que adoram fazer experiências com substâncias, se existe remédio, existe sofrimento!

Eu mesma usei Rivotril para minha insônia crônica diversas vezes no ano passado, digo isso sem culpa, já que ficar 4 noites seguidas insone não é aventura para qualquer um, fora o cansaço, a dor de cabeça e a vontade de sumir do mapa, você começa a ter problemas de percepção (cheguei a ver coisas em dobro, ouvir coisas...uma beleza!).

Reformulando: O que nos tira o sono e nos deixa tão ansiosos a ponto de termos que fazer uso de medicamentos?


Muito se fala sobre o ritmo acelerado, a sociedade consumista, a superficialidade e a falta de idealismo nas relações e da extrema extroversão (no sentido Junguiano) da sociedade atual, de modo que meio na brincadeira me permito aqui uma divagaçãozinha muito interessante: Para mim, sofremos porque assim como Harry Potter, estamos desesperados na busca pelas Relíquias da Morte, ferramentas que podem destruir nosso Valdemort particular.

Em nossa geração a felicidade está em encontrar e se apropriar de 3 coisas: a varinha mais poderosa (desculpe o trocadilho, mas tem tudo a ver com falo mesmo, falo no sentido psicanalítico, ou seja, poder, dinheiro, status, fama, beleza absoluta e tudo que puder nos garantir um lugar ao sol), a pedra da ressurreição (ou a imortalidade, a juventude eterna) e o manto da invisibilidade (pertencer ao grupo dos ditos felizes, ser igual a eles, negar tudo o que é diferente deles, ou seja, tudo o que me faz indivíduo, único, solitário e autêntico nesse mundo).

Para falar de mim mesma, uma das coisas que mais me chateava era a sensação de inadequação, de me sentir diferente dos outros, de ser focada demais, de ter sempre opinião sobre tudo, questionadora demais, de levar as coisas muito a sério, de me sentir muitas vezes uma ave de mau agouro, a Cassandra da história, sempre portadora de más notícias, a estraga-prazeres...Ou seja, introspectiva demais, por assim dizer! Muitas vezes quis o manto da invisibilidade, ficar ali escondida atrás de uma carinha de paisagem, ouvindo o que as pessoas dizem sem “pensar com a língua” e colocar tudo a perder! Por que eu não podia simplesmente deixar as coisas como são? Não arrumar encrenca, não estar sempre posicionada, não causar polêmicas, ser mais doce, mais tranqüila diante das opções e opiniões alheias... Em outras palavras: Apenas fechar minha boca grande??? rs

Outros sofrem por não ter o carro do ano, a casa na praia, o vestido de
RS$ 6 mil, a viagem para Paris, o corpo da Gisele Bündchen, a grana dos astros do futebol, a esposa do Brad Pitt ou o marido da Angelina Jolie...rs...

Ainda outros choram no espelho a passagem do tempo, sempre inexorável, os anos que não voltam, a barriguinha que cresce junto com as rugas que se aprofundam: a morte que vai cavando seu grand finale...

Os sofrimentos de nossa época são sutis, até mesmo um pouco banais e, por isso mesmo perigosos, seguem construindo sua casa em nosso peito tijolo após tijolo, através de competições idiotas, insatisfações infantis, falta de conhecimento e conseqüentemente idéias equivocadas sobre as coisas. Temos essa imensa dificuldade em maturar as coisas dentro de nós! Idéias também precisam amadurecer, elas tem seu processo de germinação, precisamos nos dar tempo e espaço de reflexão, mas como se na primeira angústia nos anestesiamos?

Para Jung a depressão pode ser muito criativa se formos capazes apenas de lidar com a angústia (naturalmente falo de momentos depressivos, não de quadros crônicos e graves). Precisamos nos permitir pensar em nós mesmos, em quem somos, nas questões que nos oprimem e nos confundem, nas pessoas e coisas que nos irritam (pense um pouco nisso e terá muita informação a respeito de si mesmo e do que precisa evoluir em sua vida), naquilo que de bom nosso tipo de personalidade pode nos trazer e contribuir com o mundo. Precisamos nos permitir descobrir nosso mito pessoal, nosso sentido na vida, nosso significado, todos nascemos com um propósito real, se fôssemos obra do acaso não viveríamos com crises existenciais...rs...

Eu descobri, por exemplo, que sou uma introspectiva de carteirinha, sendo que a introspecção nada mais é do que o eixo de um dos Tipos Psicológicos existentes, os introvertidos são orientados para os seus mundos internos, sua energia fluindo primeiro para dentro e então para a realidade externa.

Os introvertidos podem ser vistos como egoístas e inadaptáveis, o que não é necessariamente verdade, apenas quer dizer que funcionamos primeiro prestando atenção aos nossos mundos internos, e então determinamos como nos encaixar no mundo externo. De modo que pensamos muito mesmo, falamos muito sobre o que pensamos, passamos a vida coletando, analisando e categorizando informações e se quer saber, cada um de nós tem um código único para esse processo de ordenar dados. Somos como bibliotecários emocionais...rs...Perceptivos ao extremo, sensíveis ao extremo, um pouco desconectados do ambiente externo de modo geral, mas completamente plugados no âmbito expecífico, muito intensos, mas muito mentais...Jamais indiferentes, jamais inconseqüentes, muito conscientes essa é que é a real!

Isso por vezes nos atrapalha um pouco, porque precisamos de descanso de todo esse conteúdo e para nós é difícil descansar, mas nada que uma dose de compreensão e bom humor não resolva, se conseguirmos lidar com nossa angústia e com nossa ansiedade (lembrando que como faremos isso não tem muita receita, eu parei com drogas para dormir, mas de vez em quando tomo um vinhozinho básico...rs...Boas opções são as artes, os esportes, as terapias diversas, tudo que nos ajudar a colocar para fora nossa efervescente atividade mental e emocional!).

Vale destacar que as relíquias da morte podem até tirar o Harry Potter da encrenca em que se meteu, mas para nós, pobres trouxas, não passam de ilusões que só nos afastam da alegria verdadeira e da saúde emocional: Aos ansiosos só tenho uma coisa a dizer e me baseio num livro milenar: “basta ao dia seu próprio mal”! Aos angustiados digo que chequem suas expectativas, tantas crises seriam evitadas se simplesmente pudéssemos nos permitir enxergar o que de bom já temos.

Como costumo dizer, quando estamos confusos olhar para algo concreto nos ajuda a não perder a direção, nossa história é um bom referencial, qual foi a última vez em que nos sentimos em paz e mais satisfeitos? Qual era o contexto desse momento? Como eram as pessoas que nos rodeavam? Quais eram as coisas e as atividades que preenchiam nossos dias? Naturalmente não é possível voltar no tempo, talvez não seja possível reeditar na íntegra momentos felizes,
mas certamente podemos aperfeiçoar nosso padrão de escolhas.

Para quem quer saber seu Tipo Psicológico aconselho ler o Jung, o livro “Tipos Psicológicos” esclarece muito a respeito. Existe também um testezinho chamado “Eneagrama”, baseado nas idéias dele, está disponível na internet – na verdade mais do que o eixo extrovertido-introvertido, encontramos 9 tipos psicológicos definidos, temos um pouco de cada dentro da gente, mas um tipo se sobressai a todos, é divertido, vale a pena!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Para mi amiga...

(enviado por Andrea Araújo, minha querida sempre...)

Una mujer estaba sentada en un sofá, tomando té helado con su Madre.
Mientras hablaban de la vida, el matrimonio, de las responsabilidades y de
las obligaciones de la edad adulta, la madre hizo sonar los cubos de hielo
en su vaso fuertemente y luego miro fijamente a su hija.
'Nunca te olvides de tus amigas' le advirtió, dando vueltas a las hojas de
té en el fondo de su vaso.
'Ellas se volverán cada vez más importantes con el paso del tiempo. No
importa cuánto ames a tu esposo, no importa cuánto ames a los hijos
que tengas, vas a necesitarlas.
Recuerda salir con ellas siempre, hacer cosas con ellas siempre.


Recuerda que cuando hablo de tus amigas me refiero a TODAS las mujeres ...
tus amigas, tus hijas, y todas las otras mujeres que estén ligadas a ti.
Las vas a necesitar. Las mujeres siempre las necesitamos.'

Ella escuchó a su madre. Mantuvo contacto con sus amigas y cada vez tuvo
más amigas con el paso de los años.
Conforme estos fueron pasando, uno tras otro, ella fue entendiendo,
gradualmente, a lo que su Madre se refería.
Conforme el tiempo y la naturaleza presentan sus cambios y sus misterios en
la
vida de una mujer, tus verdaderas amigas siempre permanecen.

Después de mis 40 años de vivir en este mundo, esto es lo que he
aprendido:
El tiempo pasa.
La vida ocurre.
Las distancias separan.
Los hijos crecen.
Los trabajos van y vienen.
La pasión disminuye
Los hombres no siempre hacen lo que se supone que deberían hacer.
El corazón se rompe.
Los padres mueren.
Los colegas olvidan los favores recibidos.
Las carreras o profesiones llegan a su fin.
PERO.........


(Para Dé Araújo, Nadine, Marcela Mota, Ju, Daniela Augusta e as que não vejo faz tempo...Meninas, o que seria da minha vida sem vocês?)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Georgia O'Keeffe

Essa constante dinâmica entre força e fragilidade sem dúvida é uma das coisas mais belas a serem observadas nas mulheres. Naturalmente que isso não é uma prerrogativa feminina, afinal alguns dos homens mais fortes que conheci possuíam fragilidades das mais debilitantes, porém de alguma forma no feminino isso é de tal forma mais fluido e mais belo que se tornou uma verdadeira expressão do que existe de mais peculiar em nosso sexo.

Geórgia O’Keeffe fez desse pêndulo constante o instrumento primordial de seu trabalho, de modo que suas obras são de tal feminilidade que mal se consegue achar um ângulo reto em todas as suas pinturas. Algumas são de cores extravagantes e contornos sensuais, outras de uma pureza e suavidade quase pueris. Suas muitas flores, conchas, rochas e inúmeras outras metáforas do feminino retratam suas emoções com uma honestidade e uma nudez de alma, capazes de captarem no mais fundo de qualquer um de nós, o que de mais mulher existe.

Ela foi uma mulher frágil e doce, apaixonada e vulnerável diante de um velho-menino caprichoso e egoísta que quase a matou. Embora sua grande capacidade de expressão fosse inegável ela não conseguiu que ele a visse, a crueldade dele beirava a ingenuidade e seu relacionamento com Alfred Stieglitz tornou-se uma espécie de ampulheta onde a satisfação de um fazia escoar a energia do outro.

Geórgia nunca gostou de palavras, não sabia como utilizá-las, como expressar o conteúdo que jazia em seu íntimo através delas, preferia as imagens, elas eram sua forma de ser no mundo. Para tanto percorreu um caminho longo de autoconhecimento e de autopercepção que lhe permitissem imprimir no externo aquilo que tão claramente habitava seu interior. Teve que esconder-se para encontrar-se, teve que achar um lugar onde se sentisse segura o bastante para ser ela mesma. Ironicamente, o mesmo homem que a fez se expor foi o que a fez se recolher.

Algumas almas são mais ariscas, mais selvagens e, portanto, mais vulneráveis, sua intensidade pode fazê-las mais belas e interessantes, mas também as fazem mais propensas a armadilhas. O talento de Geórgia floresceu diante do amor de Stieglitz, mas perdê-lo a tornou incapaz por anos. Ao final, só puderam viver juntos através de suas obras, pois para poder respirar Geórgia precisava manter-se a quilômetros do único homem que amou na vida. Poderiam ter feito tão mais se simplesmente olhassem um para o outro de verdade – Olhar no sentido de estender a mão, acolher, cuidar, atender...

Há tempos procuro encontrar a mim mesma, ou melhor dizendo, aceitar quem sou...so vulnerable...so strong... Gostaria de ser de novo mais simples, mais corajosa, de parar de fugir do que eu sinto, do que eu vejo, do que eu quero, de simplesmente abrir os braços e me jogar porque sei que sem isso eu não serei feliz. Por outro lado também sei que não consigo mais fazer isso sozinha!

Todo mundo precisa de um espelho para ver quem é.

Acabo me identificando com a Geórgia nos silêncios diante do indizível, existem coisas que para mim saem quadradas, mais ou menos como se eu não tivesse aprendido um jeito de colocá-las para fora: raiva, amor...Parece que estou sempre desconectada diante dessas sensações, como se simplesmente não achasse nome pra elas dentro de mim e quando acho e digo me sinto completamente nua diante de uma multidão, exposta, aberta, meio ridícula, infantil, é difícil pra mim, muito difícil! Daí se tudo dá errado machuca muito mesmo, mais do que para outras pessoas (ou talvez eu admita mais que as outras) e eu fico sangrando um tempão. Daí fico acuada e feroz que nem tigre ferido, saio mordendo todo mundo ao redor e a situação fica tão intransponível que não encontro um caminho pra voltar e não volto, e por vezes perco as coisas e as pessoas que eu mais amo, por pura inabilidade.

A verdade é que sou uma menina desajeitada (tipo um “hipopótamo numa loja de cristais”, como me definia brincando um dos namorados mais queridos que já tive...rs..)!!!

Enfim, Geórgia O’Keeffe sem dúvida nos faz nadar num turbilhão de sentimentos...rs...