A pele que habito

A pele que habito

sábado, 27 de setembro de 2008

Rituais Familiares

Rituais Familiares – Alternativas para as re-uniões das famílias

Um dos maiores problemas que a sociedade atual enfrenta é a desestrutura familiar. Muitos contribuíram durante o tempo para esse momento tão obscuro. A sociedade busca alternativas, mas a nova situação da família impossibilita qualquer responsabilidade dos pais com seus filhos. Principalmente porque eles próprios vivenciam experiências novas e conflitantes, referentes à família e seus interesses profissionais e pessoais.
Em famílias miseráveis, por exemplo, as crianças são consideradas um empecilho, pois significam mais bocas para se alimentarem. Os pais tornam-se pessoas angustiadas, em virtude da impossibilidade de sustentar a família com o fruto do seu trabalho.
Os rituais familiares são altamente simbólicos; não importa se parecem comuns, o seu valor está no que ele significa para a família e para o indivíduo. Para cada grupo familiar, o seu valor é diferente e, em geral, o objetivo é solidificar laços. Os rituais podem ser de celebração, de libertação e transformação; eles promovem estabilidade, trazem identidade familiar, permitem a socialização e são estabilizadores da família; para tanto precisam ser dinâmicos, alegres, não apenas um dever.
A sociedade atual permanece em uma busca incessante do verdadeiro sentido para a existência.
Todos reconhecem as crescentes complexidades da estrutura social em que vivemos hoje em dia. A família atravessa momentos de intensa pressão, pressão essa que pode inclusive destruí-la, ela que sempre foi a estrutura básica para suprir todas as necessidades emocionais, físicas e intelectuais da criança.
As pessoas se distanciaram, o afeto já não faz parte da bagagem essencial para um crescimento saudável. O relógio tornou-se nosso grande algoz, não menos culpado que a TV, que ocupa se não todo, mas pelo menos 99% do espaço reservado para o convívio familiar.
O tempo transformou “o lar”, a criança foi privada do contato íntimo e pleno com a natureza, do contato lúdico com as outras crianças, confinadas em apartamentos e salas de aula abarrotadas de pessoas e de deveres.
Os pais, extremamente pré-ocupados, buscam ansiosos os anúncios de novos aparelhos eletrônicos, que possam compensar (ou distrair) a ausência dos mesmos ao lado dos filhos, e estes, já “iludidos”, acreditam que o tênis de marca, ou o play mais recente, farão deles pessoas mais felizes.
Atribui-se esses fenômenos da falência familiar à várias questões: situação política (inclusive forte influência das ideologias de esquerda, que consideraram a família e a educação familiar como estilo de vida burguês), econômica e social do país, porém, o fato é que os pais passaram a viver um individualismo estrutural. A família, por conta de anseios e vislumbres, está fragmentada, cada um busca seus próprios interesses, e a criança já não tem condições de reivindicar quaisquer direitos ou necessidades. A criança de hoje vive na incerteza, na instabilidade e, portanto, no medo. São pequenos indivíduos desapontados, com tendências depressivas, que podem crescer pessoas com dificuldades de se envolverem afetivamente e de terem intimidade verdadeira no futuro, também de enxergarem a si mesmos e desenvolverem seus potenciais em todos os sentidos.
“ Ele foi uma espada no meu coração – tal o desapontamento que me trouxe co seu nascimento – não tínhamos planejado ter uma criança, sua concepção foi um acidente. Ele desmoronou todos os nossos sonhos. Eu tinha a minha carreira profissional. Meu marido vivia muito orgulhoso das minhas conquistas. Éramos um casal muito feliz antes de Dibs, mas que bebê estranho era ele quando nasceu! Tão grande e tão feio, tão grande e sem forma, como um pedaço de qualquer coisa. “
( Dibs em busca de si mesmo – Virgínia M. Axline, 9ª edição )

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Sobre ser tragédia...

" Só começamos a viver quando concebemos a vida como tragédia..." W. B. Yeats

Nada na vida é tão difícil quanto admitir que viver é sentir dor!

Já nascemos no meio dela, lembrei agora por acaso daquele filme água-com-açúcar, o "Cidade dos Anjos", pequeno plágio confesso do "Asas do Desejo"...Tem aquela cena em que o Nicolas Cage decide cair, daí se joga do prédio e acorda ensagüentado, dolorido, em uma palavra VIVO...como um bebê nascido adulto e vestido, ele se levanta e segue atordoado procurando o amor, motivo que o levou a ser mortal. Bonita imagem para a história de cada um de nós, nascemos e vivemos em dor, na busca por um amor que dê sentido à isso tudo. Uns encontram em Deus, outros no trabalho, outros na família e outros encontram em outros, alguns não encontram nunca porque só buscam em si mesmos, e só existe um eu, se existir um outro que nos realize (de tornar real).

Cada situação, sentimento, ação, escolha, sensação que experimentamos nesse mundo-de-meu-Deus se traduz em alguma espécie de dor, de sofrimento, a vida é mesmo trágica e por isso mesmo bela. Todo segundo que vivemos pode ser o último e então tudo é definitivo!

Sou sempre acusada de levar tudo a sério demais, acho que levo mesmo, acho também que estou certa nisso, a vida é séria! A vida é única!

dois poemas...

" Quando enfim veio a calmaria
Senti falta do fogo,
Do olho do furacão.
Agora ele veio, vasculha meu íntimo
Destrincha minhas vergonhas
E avassala meu ventre." DMP


" O poder das horas
Dos segundos que passam
Sem ruído.
A intangibilidade dos anos escorregadios
Tal qual prosa
Contando dias e esmagando vidas;
A falsa languidez das estações
Com seus frios, quentes, cores e odores
As tempestades de emoções,
Avassaladoras, devoradoras, atenuadoras.
O absoluto de todos os atos, bons ou maus...
As contruções e destruições!
Tudo o que enternece, endurece...
Os contatos de todos os graus.
Eis a saga de um homem inteiro!" DMP

Sylvia Plath

" Quanto ao livre-arbítrio, resta ao ser humano uma fresta tão estreita dele para se movimentar, esmagado que é desde o nascimento pelo ambiente, hereditariedade, época, local e convenção social...."

" Tamanha é a resiliência do ser humano que ele consegue se fascinar com a feiúra que o rodeia por todo lado e deseja transformá-la por meio de sua arte em algo a que possa se apegar, assombroso em sua adorável desolação."

" ...Para que serve minha vida e o que vou fazer com ela? Não sei e sinto medo. Não posso ler todos os livros que quero. Não posso desenvolver em mim todas as aptidões que quero. E por que eu quero? Quero viver e sentir as nuances, os tons e as variações das experiências físicas e mentais possíveis de minha experiência. E sou terrivelmente limitada."

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Caráter é destino...

Sabe, ter valores e zelar por eles é muuuuiiittooo difícil mesmo...

Mas as vezes, a única coisa que faz sentido na vida são nossos valores! Eles norteiam nossas escolhas, preservam nossas verdades, nos dão um lugar de paz onde sabemos exatamente quem somos!

Existem sentimentos, existem pensamentos, existem relações e dentre todas elas, existem as coisas que valem a pena ser preservadas... Ando tão triste de viver nessa época vazia, mas fazer o quê, né? Se caráter é destino, nessa geração oca, ter bom caráter é ser alienígena.

Desculpem o mau humor!!! Cansei...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Amores imperfeitos

"...Eu não quero ver você
Passar a noite em claro
Sinto muito se não fui seu mais raro amor
E quando o dia terminar
E quando o sol se inclinar
Eu posso por uma toalha
E te servir o jantar
Sei que amores imperfeitos
São as flores da estação..." SKANK
Fui ver um amigo e sua banda dias desses, ele é um excelente guitarrista e adora tocar, o que faz por hobby e com muito orgulho...Nessa noite em especial, eles tiveram um grande momento, desses pra se guardar na memória e quando olhei em volta procurando a mulher dele, minha super amiga, percebi que ela não estava, me dei conta que nas últimas vezes ela nunca estava!
Nascemos nessa época de tamanha complexidade existencial que nem podemos mais brincar de tietar nossos amores...Todos ocupados em ter suas próprias vidas, a tão comentada individualidade, ninguém quer se misturar com o outro, decidimos psicanalizar tudo e o resultado disso é um bando de autômatos perdidos no tempo e no espaço querendo descobrir a si mesmo, esquecendo que aprendemos a ser nós mesmo primeiro com o outro.
Lembro desse filme em especial, com a Susan Sarandon e o Dustin Hoffman, não lembro o nome, só que tinham perdido a filha e tentavam convencer o ex-noivo dela a recomeçar a vida...Daí em certo ponto a Susan diz algo sobre o casamento significar ter alguém que testemunhe a vida da gente, naquele momento de sucesso do meu cunhado ela não testemunhava nada! Claro que devia estar fazendo algo importante, claro que ela mesma é importante...Mas que sentido pode haver numa relação nesse nível se não somos cúmplices e testemunhas um do outro?
Perdemos todo idealismo? Tudo é imortal enquanto dura? Amar é ter uma relação conveniente que me propicie alguma companhia e sexo quando preciso? Será que a gente ainda se apaixona? Será que alguém ainda quer ser a alma-gêmea de alguém? A pós-modernidade matou o amor?
Diz o Skank que amores imperfeitos são as flores da estação...Hoje em dia estar com alguém significa ter que se desculpar por não ser nunca O ALGUÉM daquela pessoa? Sim, porque intentar ser o tal significaria uma incrível imaturidade de ambas as partes...Temos que aceitar que somos o parceiro desse instante apenas, ou algum tipo de quebra-galho?
Não é por acaso que nos sentimos soltos quase que o tempo todo, com vínculos tão frágeis quem pode se sentir seguro? E estando inseguros o tempo inteiro, quem consegue se entregar de forma menos neurótica numa relação? Transformarmos nossas vidas amorosas em obras do Nelson Rodrigues? Dá pra sentir tesão sem sentir medo?
Amores imperfeitos...

domingo, 14 de setembro de 2008

Dormindo na casa dos pais, ou quase...

Dia desses fiz a bobagem de ceder à apelos familiares, como estava em férias decidi sair um pouco do meu agradável recôndito e passar uma noite sob teto paterno.

Difícil dar-se conta que, entra ano, sai ano, algumas coisas permanecem exatamente as mesmas: crise conjugal (depois de 40 anos juntos...meu Deus!), netos que são o protótipo do "reizinho mandão", irmãs ciumentas da minha vida de "pessoa livre e desimpedida" (como se isso fosse sinônimo de falta absoluta de problemas) com menos de 60 quilos, cunhados malucos, falta de espaço psíquico numa casa enorme. SOCORRO!

Depois de uma noite de remembers de porque fiz 8 anos de terapia, combinei com meus velhos de vê-los uma vez por semana em algum restaurante, café ou evento cultural. O que fazer quando seus pais viram seus amigos?

Confesso que me senti muito amedrontada por uma ou duas horas, sem base, com toda a realidade da minha solidão...Depois me senti forte, independente, adulta e fui dormir na casa de uma prima querida!

Crescer é uma torrente contínua, assim como o amor (segundo o Alan Pauls), uma torrente dolorosa eu diria, mas uma das únicas certezas que temos, seguiremos crescendo ou nos machucando ao tentar nadar contra a corrente.

Fiquei com saudades de um bom amor platônico, destes que preenchem todo espaço interno sem precisar deixar de ser segredo e sem cobranças...Nessa nossa geração, nem um bom amor platônico podemos ter, a menos que queiramos ser taxados de malucos...Que saco, não?

sábado, 13 de setembro de 2008

Proust

“Em certa idade, quer pela astúcia quer por amor próprio, as coisas que mais desejamos são as que fingimos não desejar.”

( Marcel Proust )

Pelo visto a autopreservação é um clássico da guerrilha amorosa! Aliás, sou ótima nisso, inventei esse jogo...rs...

Em tempos de fast food, valorizar-se virou a única estratégia possível para quem ainda acredita em amor verdadeiro, ou para quem deseja apenas atormentar pobres almas indefesas. Na real, toda mocinha (e acredite se quiser, mocinho também) perspicaz sabe que se o coração já foi, a mente precisa segurar o corpo um pouquinho, sob pena de virar o Big Mc da semana...E, se a idéia é só a de conquistar o tal Big Mc que pensa que é caviar, basta doses homeopáticas de rejeição para aquecer até o mais congelado prato principal .

Daí, o que se observa é aquele jogo do esnoba-esnoba, e tem gente que perde a mão e esnoba tanto que o objeto de desejo acaba mesmo é estragando.

Neuroses à parte, fico lembrando dos momentos em que a gente só quer encontrar um lar dentro de um abraço, um eco no peito de outra pessoa, um pouquinho de compreensão absoluta, de aceitação plena, um lugar de paz...Será que em algum lugar o amor continua sendo o melhor afrodisíaco?

Agora, seja pra conquistar, seja apenas pra se proteger dos heartbrokers de plantão, a verdade é que desdenhar o que se deseja virou até ditado popular. ..Amor, rejeição, paixão, dor, prazer, ciúme...Cenas comuns em nossas pequenas tragédias particulares!

Encerro essa curtíssima e meio desiludida reflexão com o pedacinho de uma música popular
"...quero a sorte de um amor tranqüilo, com gosto de fruta mordida..."