"Não é verdade que a maioria das pessoas simplesmente se deixam levar, impelidas pelos ventos?" C.S. Lewis
A pele que habito
quarta-feira, 11 de dezembro de 2019
Um homem e uma mulher (Marcos e Danielli)
Pelo querido Juarez Freitas
(http://palavraaplicada.blogspot.com/?m=1)
Um homem que andou por muito tempo sozinho…
Cuidava de seus afazeres, poucos recursos, vida simples e bem regrada…
Pode ser que ele tenha até desistido de sonhar com um futuro…
Pleno em sua quietude, feliz pela sua jornada…
Mas havia algo que o incomodava!
Uma mulher que trilhou e modificou diversas vezes sua trajetória…
Que sofreu e caminhou só, alguns até pensavam, desamparada…
Que lutou com muita força, pra não sucumbir na caminhada…
Que viu muitas vezes a mão de Deus acalentar a sua jornada...
Ela assim pensava: meu doutorado terminar, minha vida será educar!
Um Deus que enxerga a caminhada, um Deus que sonda corações…
Um Deus pra quem não existem distâncias, abismos ou separações…
Um Deus que dirige os passos e conduz as motivações…
Esse Deus enxergou o Marcos, preso em sua solidão!
Esse Deus carregou a Dani, fruto de Sua Graciosa salvação!
E, no meio disso tudo, alheia ao desígnio divino…
Uma simples mensagem na rede, por um banal motivo,
deu início ao cumprimento, do desejo de Deus pra esse momento!
Desejo que não pode ser frustrado, em nenhum dos seus intentos,
Pois foi ELE quem juntou esses dois, pra tão nobre juramento!
Aproveitem, meus filhos, essa graciosa bênção!
Que completa as vossas vidas, que lhes traz beleza e alento!
Sejam felizes e abençoem, todos os que lhes cumprimentam,
Glorifiquem ao Grande Deus, que lhes unirá em casamento!
terça-feira, 15 de janeiro de 2019
Meu divórcio não me define...
Nem como pessoa, nem como profissional...
Já faz muito tempo que penso em escrever sobre
isso, mas acabei adiando, primeiro porque queria poder ver as coisas com um
distanciamento saudável e porque não queria cair em nenhuma armadilha vitimista
ou sentimentalista. Como já faz mais de dez anos desde que tudo isso
aconteceu na minha vida e como meus pacientes crentes ainda são incomodados
pelo preconceito que me persegue desde então, acho que está na hora de me
posicionar a respeito.
Faço isso pelos meus pacientes!
Não sei se vocês sabem,
mas o divórcio é considerado a terceira coisa mais estressante que pode
acontecer na vida de uma pessoa. Essa verdadeira catástrofe pessoal só perde
para a perda de um filho (1ª coisa mais estressante que pode acontecer na vida
de uma pessoa) ou a morte de um cônjuge verdadeiramente amado (sim existem
muitos cônjuges que não são amados por aí...rs...). Quando você se divorcia,
acorda de manhã e tenta olhar para o seu futuro e ele não existe mais. Tudo o
que você sonhou e planejou para sua vida, todos os anos que investiu nisso,
toda energia que colocou em transformar esses planos em realidade, foram
despedaçados como um castelo de areia pela onda no mar. No meu caso,
simplesmente perdi meu casamento, minha casa, meu bem sucedido consultório, a cidade
que eu amava morar, toda a família do meu ex-marido que eu amava como se fosse
minha e cada um dos sonhos e expectativas que eu tinha a respeito dessa união.
Aos 28 anos eu me tornei um completo fracasso, para mim mesma e para o mundo.
Decepcionei meus pais, sem querer os tornei vítimas de difamação pública,
porque como meu pai é pastor nossa vida foi jogada na roda para críticas e
julgamentos sem fim, as pessoas viravam as costas para eles em eventos e diziam
crueldades para minha mãe, me acusavam de adúltera (o que eu não fui, caso
alguém ainda pense isso e, mesmo que tivesse sido, isso não me impediria de
restaurar minha vida e não me tornaria uma profissional desqualificada. Davi,
homem segundo o coração de Deus, foi adúltero e assassino; Madalena foi
prostituta), interesseira (sendo que abri mão de todos os direitos que eu
pudesse ter de pensão ou qualquer coisa assim, já que eu fui prejudicada
profissionalmente), imoral e todos os outros ‘is’ que as pessoas costumam
colocar em cima de uma mulher que decide não se manter mais casada pelos
motivos que só cabem a ela, ao ex-marido e a Deus saberem. (Pensando só na
minha parte de responsabilidade nesse fracasso todo, só posso dizer que eu era
muito imatura para casar, não estava pronta nem para escolher um marido, nem
para manter um relacionamento dessa magnitude. Sei que isso não é desculpa para
nada, minha mãe, por exemplo, se casou aos 17 anos e conseguiu ter sucesso, mas
as pessoas são diferentes e eu nunca deveria ter casado cedo. Foi uma burrice
enorme e eu paguei e pago cada centavo dessa má escolha até hoje.)
Nesse período, perdi
quase todos os meus amigos, porque a maioria era de igreja e não souberam como
lidar com aquilo que consideraram uma ‘grande queda’. Infelizmente, antes do
divórcio eu era muito popular no meio eclesiástico, dava palestras e aulas em
escola dominical, virei uma espécie de referência por conta da Psicologia,
então quando a ‘merda’ toda ficou pública, despenquei de um pedestal e as
pessoas que me amavam, amavam essa Danielli, não a outra que me tornei e que
nem eu mesma reconhecia: frágil, sem respostas, magoada e ‘magoante’, caída e
imperfeita. Algumas pessoas me ligaram, outras nem isso e o único pastor que me
visitou, que eu considerava um amigo de infância, só veio para me dizer que eu
nunca mais poderia me casar de novo. Algo que, por mais que eu fosse
inteligente e informada o suficiente para saber que não tinha nenhum fundamento
religioso e que só revelava o que o que eu já sabia, ou seja, que a igreja não
está preparada para tratar assuntos de divórcio, exceto pelo viés sexual e
punitivo, ainda assim me magoou profundamente, acentuou a culpa que eu já sentia
e me fez ficar fechada para outros relacionamentos por uns 5 anos. Nesse período
adoeci muito, inclusive emocionalmente, busquei apoio nos lugares errados, me
senti rolando num tapete de espinhos, fiquei triste todos os dias e me enfiei de
cabeça no trabalho porque foi a única forma que consegui para seguir com a
minha vida.
Demorei anos para estabelecer
novos planos e metas pessoais, para DESEJAR de novo alguma coisa, fiz novos
amigos (embora eu tenha me tornado muito mais introspectiva e desconfiada do
que já era, em todos os tipos de relacionamento), encontrei novos talentos e
novos interesses em mim mesma, tive que me recriar e me redescobrir em todas as
áreas, praticamente NASCER DE NOVO, inclusive espiritualmente, porque quando vc
descobre que não basta fazer tudo certo e seguir todas as regras para que sua
vida dê certo (algo amplamente ensinado na igreja, mesmo que não exista nenhum
eco bíblico que apoie essa ideia - Vamos falar sobre Jó?), você fica infinitamente
confuso e precisa ter muita persistência (ou teimosia) para discutir noites e
noites com Deus sobre isso e conseguir manter sua fé!
O fato é que passei por
tudo isso SOZINHA. Se não fosse pelo apoio dos meus pais, da minha família e
das poucas pessoas que não são hipócritas ou infantis na fé, eu estaria
complemente ISOLADA. A única resposta que recebi da igreja foi FOFOCA, DIFAMAÇÃO
e uma espécie de ódio contido que hoje, depois de ler muito ‘A Letra Escarlate’
e me identificar com a Hester Pryne,
compreendo como uma dificuldade neurótica de lidar com o próprio pecado e com a
própria imperfeição. Existe um prazer mórbido em eleger um bode expiatório e
colocar sobre ele toda a culpa. Para muitos não é suficiente que a pessoa tenha
que lidar com as consequências de seus erros, elas precisam ser pisoteadas,
humilhadas, destruídas para que o ‘equilíbrio’ seja restabelecido.
Parece absurdo e até
ridículo (eu, pelo menos, dou muita risada), mas mais de dez anos depois do meu
divórcio e, por mais que tenha buscado ter uma vida discreta e pequena, ainda
sou assunto de conversas em igrejas. O fato de eu ter namorado por quase 2 anos
um cara muito mais novo também não ajudou muito na reconstrução da minha ‘persona
moral’, eu admito...rs...
A despeito de tudo disso,
honestamente, a única coisa que me incomoda nessa ‘fofocaiada’ toda é quando
ela prejudica meu trabalho como psicoterapeuta. Para piorar, minha especialidade
é psicoterapia de crianças e adolescentes, o que me torna, na ‘cabeça louca’ de
alguns, uma espécie de corruptora de menores ou algo parecido, ainda que na
minha vida pessoal REAL não exista absolutamente NADA que corrobore essa ideia.
Ironicamente - apesar
das críticas infundadas a respeito da minha conduta moral e ética, feita na
maioria, por psicólogos ‘cristãos’ (que esqueceram qualquer conduta ética aceitável,
alguns sequer me conhecem, mas sabem tudo sobre como sou perniciosa...), muitos
dos quais cobram para ler a Bíblia e orar com seus pacientes, função essa de
pastor, que não tem nada a ver com Psicologia e que não deve ser cobrada (e
desse tipo de psicólogo a igreja está cheia), ou pais de adolescentes que ao perceberem
que os filhos estão crescendo e não são o retrato deles mesmos, acabam
atribuindo a ‘Dani perigosa’, que criaram para não precisarem enxergar seus
próprios erros, cada escolha que os filhos fazem e que não condiz com o que
eles próprios escolheriam para os filhos, como se tais meninos não tivessem
cérebro e o direito de serem eles mesmos, pessoas que obviamente não fazem
ideia do que é uma psicoterapia e acham que fico dando aulas sobre ‘como ser
rebelde’ a cada sessão - sigo recebendo pacientes das igrejas que me conhecem
desde pequena, talvez exatamente porque ao não ser eu própria tão perfeita,
talvez possa oferecer uma ESCUTA (e é disso que se trata uma psicoterapia) menos
hipócrita e menos moralista. “Não
julgueis...” E o papel do psicólogo NUNCA é o de juiz. #ficaadica
Aqui talvez se torne
necessário algum esclarecimento sobre o que de fato faz um psicólogo clínico. A
primeira coisa é que por mais que um psicólogo seja cristão na sua vida
pessoal, na prática clínica isso não existe! Por questão ética eu tenho que
estar preparada para atender qualquer tipo de paciente: cristão, budista, ateu,
hetero, gay, trans, homem, mulher, criança, adolescente, adulto, velho,
deficiente e etc... Isso quer dizer poder dialogar dentro do universo de cada
pessoa, tentar falar a língua dela, compreender o que é válido no universo do
paciente e trabalhar esses conteúdos dentro dessa coerência, obviamente levando
em conta e relacionando isso ao que seria correto no âmbito social em que o
paciente está inserido (tipo o apóstolo Paulo que com os gregos falava como
grego, como os romanos, como romano e etc)... e oferecer APOIO EMOCIONAL para
as dores dessa existência, que variam de acordo com a realidade de vida de cada
pessoa e oferecer também técnicas e ferramentas (não medicamentosas) para se
lidar com os diversos Transtornos Mentais que existem. Psicólogo não é tábua da
lei, não faz aconselhamento bíblico, psicólogo não apresenta modelos de moral e
bons costumes, psicólogo não ‘faz cabeça’ de paciente, psicólogo não é pai e
mãe, psicólogo não fica transformando o paciente numa cópia de si mesmo, não
toma decisões pelo paciente ou o obriga a seguir suas opiniões. Se o seu
psicólogo faz qualquer uma dessas coisas, ele é um picareta! Procure outro. E se eu quiser evangelizar viro
missionária, se eu quiser pastorear viro pastora ou freira. Deu para
compreender? Se meu paciente quiser falar de Bíblia, falo com ele de Bíblia, se
quiser falar de PT, falo com ele de PT, se quiser falar da Agatha Christie,
idem...
Dito isso, destaco que as pessoas que criticam meu trabalho
não questionam minha formação e nem poderiam, porque é excelente e sou muito
estudiosa; não questionam minha competência, porque sequer foram meus pacientes
para saber como eu trabalho; ou minha inteligência, por motivos óbvios. Essas pessoas
questionam minha vida pessoal e moral, ainda por cima sem base, porque sequer
me conhecem intimamente ou são honestas o suficiente para conversarem comigo
sobre suas dúvidas, questionam também as decisões pessoais de meus pacientes,
porque talvez não correspondam ao seus próprios desejos, como se meus pacientes
fossem pessoas acéfalas e incapazes de viver e de escolher a própria vida. Já
me culparam por término de namoro, por escolha ‘profissional’ inadequada, até
porque a pessoa decidiu fechar a porta do quarto na hora de dormir...E a trave
no olho segue impedindo o crítico de enxergar o quanto ele mesmo precisa de
terapia! Não é fácil ser psicoterapeuta. Nunca foi e nunca será, mas ESSA
BATALHA É MINHA E EU NUNCA ABANDONO UMA ARENA SEM LUTAR!
Não, MEU DIVÓRCIO NÃO ME DEFINE COMO PESSOA E MUITO MENOS
COMO PSICOTERAPEUTA!
Mulheres divorciadas também não são PUTAS só por serem
divorciadas, embora eu compreenda
( mas não saia recomendando isso por aí) porque muitas de nós
acabem optando por sexo casual e nunca mais se envolvam emocionalmente na vida.
O preço de um casamento fracassado é tão GRANDE para algumas, especialmente na
igreja, especialmente se (mesmo que involuntariamente) você for uma pessoa
pública, que torna quase inviável se arriscar num novo relacionamento.
Em tempo, É SIM PIOR PARA MULHERES. Tenho amigos psicólogos e
psiquiatras cristãos HOMENS divorciados e que não sofrem a menor dificuldade ou
julgamento moral em seu trabalho. Meu pai acha que é porque já se casaram novamente
e isso meio que restauraria certa aura de credibilidade, uma vez que a
sociedade parece impor o casamento como meio de contenção moral (como se não
existisse adultério), talvez seja, talvez seja também porque a sociedade ainda
tenha muito mais facilidade para perdoar um homem que se divorcia do que uma
mulher que se divorcia, ainda mais na igreja. Só observar a forma como as lideranças,
de forma geral, costumam instar muito mais a mulher traída a perdoar o marido
adúltero do que o contrário.
Fica a minha pergunta
pessoal: Sou obrigada a me casar para ser respeitada moralmente e como
profissional? E se eu nunca encontrar uma pessoa que realmente me inspire a
isso? Além de terminar meus dias sozinha e de não ter filhos (algo que já nem
almejo mais), ainda tenho que lidar com o julgamento das pessoas e o repúdio
social? Será que mereço toda essa carga de injúria, simplesmente porque meu
casamento não deu certo? Simplesmente ME RECUSO A SER VÍTIMA da imaturidade e
da maldade de alguns. Vou sim continuar atendendo e fazendo meu melhor pelos ‘crentes’
que me procurarem e, modéstia às favas, eu sou uma BAITA PSICOTERAPEUTA,
daquelas que sobraram poucas nesse país cuja formação acadêmica virou uma
catástrofe. Quem se importar mais com minha competência do que com meu estado
civil só terá a ganhar!
Muitos me criticam por
ir pouco à igreja.
E se eu disser que
tenho ido pouco para não perder a fé?
E se eu disser que não
aguento mais chegar à igreja e ouvir da boca do professor (a) da Escola
Dominical que a filha do presbítero tal ‘machucou’ a igreja toda porque
engravidou antes de casar, por exemplo?
O fato é, e aqui serei
bem sincera, que não tenho, nesse momento, estrutura emocional e espiritual (ou
saco mesmo) para tolerar a imensa gama de neurose que identifico dentro da
igreja o tempo todo, talvez um dia eu volte a ter, sei que posso ajudar e muito
nisso, embora seja uma batalha constante e insalubre. Ainda acho que apesar de
tudo, a igreja ainda é o melhor lugar desse mundo para se estar, tenho pedido a
Deus constantemente que me mostre um lugar para congregar, mas ainda não achei
esse lugar e tendo em vista minhas opiniões teológicas, um tanto polêmicas,
acho que só um milagre para me fazer ser acolhida outra vez em algum lugar.
ISSO NÃO SIGNIFICA QUE
EU SEJA UMA PESSOA IMORAL, QUE PREGUE A IMORALIDADE EM MEU CONSULTÓRIO, QUE NÃO
TENHA A MÍNIMA NOÇÃO DE RESPEITO E HIERARQUIA, QUE ORIENTE MEUS PACIENTES
ADOLESCENTES A SAÍREM POR AÍ ARRISCANDO A VIDA DELES E ABANDONANDO TODA
EDUCAÇÃO QUE RECEBERAM EM CASA, OU QUE ORIENTE PESSOAS CASADAS A LARGAREM SEUS
CASAMENTOS, OU QUE INSTRUA TODO MUNDO A FAZER SEXO DE FORMA IRRESPONSÁVEL E
ETC, ETC, ETC...Qualquer acusação nesse sentido é pura intriga da oposição,
inveja da concorrência e, talvez, um desejo reprimido de ser como eu, para
alguns fracassada, para outros apenas lúcida e viva!
Na verdade, inclusive,
sou até bastante conservadora...
Para ser um bom
psicoterapeuta, além de inteligência, sensibilidade e empatia, você precisa ter
MUITA, MAS MUITA alegria de viver, apesar de todas as dificuldades, de todas as
incertezas e de todas as frustrações dessa vida.
Se você é um poço de ‘religiosismo’,
vitimismo, criticismo, moralismo, pessimismo, derrotismo e inveja, faça um
favor a si mesmo e guarde sua nuvem negra só para você mesmo! Não coloque isso
na vida de outras pessoas. Você não passa de um homem ou mulher do subsolo (vá
ler Dostoievski)!
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