A pele que habito

A pele que habito

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Georgia O'Keeffe

Essa constante dinâmica entre força e fragilidade sem dúvida é uma das coisas mais belas a serem observadas nas mulheres. Naturalmente que isso não é uma prerrogativa feminina, afinal alguns dos homens mais fortes que conheci possuíam fragilidades das mais debilitantes, porém de alguma forma no feminino isso é de tal forma mais fluido e mais belo que se tornou uma verdadeira expressão do que existe de mais peculiar em nosso sexo.

Geórgia O’Keeffe fez desse pêndulo constante o instrumento primordial de seu trabalho, de modo que suas obras são de tal feminilidade que mal se consegue achar um ângulo reto em todas as suas pinturas. Algumas são de cores extravagantes e contornos sensuais, outras de uma pureza e suavidade quase pueris. Suas muitas flores, conchas, rochas e inúmeras outras metáforas do feminino retratam suas emoções com uma honestidade e uma nudez de alma, capazes de captarem no mais fundo de qualquer um de nós, o que de mais mulher existe.

Ela foi uma mulher frágil e doce, apaixonada e vulnerável diante de um velho-menino caprichoso e egoísta que quase a matou. Embora sua grande capacidade de expressão fosse inegável ela não conseguiu que ele a visse, a crueldade dele beirava a ingenuidade e seu relacionamento com Alfred Stieglitz tornou-se uma espécie de ampulheta onde a satisfação de um fazia escoar a energia do outro.

Geórgia nunca gostou de palavras, não sabia como utilizá-las, como expressar o conteúdo que jazia em seu íntimo através delas, preferia as imagens, elas eram sua forma de ser no mundo. Para tanto percorreu um caminho longo de autoconhecimento e de autopercepção que lhe permitissem imprimir no externo aquilo que tão claramente habitava seu interior. Teve que esconder-se para encontrar-se, teve que achar um lugar onde se sentisse segura o bastante para ser ela mesma. Ironicamente, o mesmo homem que a fez se expor foi o que a fez se recolher.

Algumas almas são mais ariscas, mais selvagens e, portanto, mais vulneráveis, sua intensidade pode fazê-las mais belas e interessantes, mas também as fazem mais propensas a armadilhas. O talento de Geórgia floresceu diante do amor de Stieglitz, mas perdê-lo a tornou incapaz por anos. Ao final, só puderam viver juntos através de suas obras, pois para poder respirar Geórgia precisava manter-se a quilômetros do único homem que amou na vida. Poderiam ter feito tão mais se simplesmente olhassem um para o outro de verdade – Olhar no sentido de estender a mão, acolher, cuidar, atender...

Há tempos procuro encontrar a mim mesma, ou melhor dizendo, aceitar quem sou...so vulnerable...so strong... Gostaria de ser de novo mais simples, mais corajosa, de parar de fugir do que eu sinto, do que eu vejo, do que eu quero, de simplesmente abrir os braços e me jogar porque sei que sem isso eu não serei feliz. Por outro lado também sei que não consigo mais fazer isso sozinha!

Todo mundo precisa de um espelho para ver quem é.

Acabo me identificando com a Geórgia nos silêncios diante do indizível, existem coisas que para mim saem quadradas, mais ou menos como se eu não tivesse aprendido um jeito de colocá-las para fora: raiva, amor...Parece que estou sempre desconectada diante dessas sensações, como se simplesmente não achasse nome pra elas dentro de mim e quando acho e digo me sinto completamente nua diante de uma multidão, exposta, aberta, meio ridícula, infantil, é difícil pra mim, muito difícil! Daí se tudo dá errado machuca muito mesmo, mais do que para outras pessoas (ou talvez eu admita mais que as outras) e eu fico sangrando um tempão. Daí fico acuada e feroz que nem tigre ferido, saio mordendo todo mundo ao redor e a situação fica tão intransponível que não encontro um caminho pra voltar e não volto, e por vezes perco as coisas e as pessoas que eu mais amo, por pura inabilidade.

A verdade é que sou uma menina desajeitada (tipo um “hipopótamo numa loja de cristais”, como me definia brincando um dos namorados mais queridos que já tive...rs..)!!!

Enfim, Geórgia O’Keeffe sem dúvida nos faz nadar num turbilhão de sentimentos...rs...