A pele que habito

A pele que habito

sábado, 10 de julho de 2010

Alegrias e castanholas...

Bom, para uma obsessiva como eu tudo que me interessa acaba virando uma paixão daquelas e depois de quatro aulas de Flamenco, não podia ser diferente com isso. Só fico pensando em sapatos reforçados, saias longas, castanholas e talvez, por mais moderno que esteja meu corte atual, em deixar o cabelo crescer...

Graças à influência da minha amiga bailarina (linda, linda e que nunca mais deve parar com a dança, seja ela qual for) fui aprender a dançar, justo eu que nunca passei da quadrilha de festa junina...rs...Confesso que a cada aula me dou mais conta do quanto perdi tempo por não ter feito isso antes, mas a alegria de saber que tenho tanto a aprender virou a maior das motivações e nem ligo para minha falta de jeito de iniciante, me basta ver minha professora dançando com aquelas mãos que hipnotizam e ter a intuição de que um dia vou conseguir dançar como ela, ou pelo menos, dançar bem.

Flamenco é sem dúvida umas danças mais belas e impactantes que já vi (não que eu seja alguma autoridade no assunto...rs...), mas acho que só se compara mesmo ao balé clássico em elegância e expressão.

Acho delicioso ver tantas mulheres diferentes em aparência, jeito e idade estarem ali para prestar homenagens a uma cultura já que essa dança expressa toda uma história de povos perseguidos e desprezados (especialmente ciganos, judeus e mouros) por trás dela. Fico pensando que todas nós, pelos motivos mais diversos, estamos ali buscando algo e provavelmente para explorar e desenvolver alguns aspectos da nossa própria feminilidade, utilizando para isso o arquétipo dessa mulher flamenca que é muito forte e determinada, sensual sim, mas também muito arredia e que só se rende para um homem de verdade, um homem que a mereça, um homem que não tenha medo dela, sim porque ela é mesmo um pouco assustadora ..rs...Como diriam os psicanalistas, uma mulher um tanto fálica, mulher de atitude, que se coloca e não tem medo de ser quem é!

Sobre todos os aspectos é uma dança que fala de emoções:

“Quem assiste a um baile flamenco, sente que os movimentos dos corpos dos bailarinos comunicam um sentimento forte, fruto de uma revolta e de um grande inconformismo, cheio de altos e baixos emocionais. É mesmo impossível não perceber que nos taconeos ou sapateados a dança flamenca marca o compasso do coração humano, que ora salta de alegria e outras horas, arde de dor e tristeza. Dança de movimento vibrante, o grande êxtase do flamenco é mostrar o vigor e a vitalidade dos movimentos de mãos, braços e sapateados que traduzem paixão, alegria e melancolia transformadas em força e amor pela vida, justificando a resistência a todas as formas de perseguições.”

Sendo assim é pura terapia, eu recomendo! Não somos seres fragmentados, nosso emocional é intrínseco ao nosso físico, nosso físico abriga nosso emocional e é seu meio de expressão direta, sendo assim podemos nos curar tanto de dentro para fora, quanto de fora para dentro. A opção pela melhor forma de tratamento vai depender apenas do problema em questão, da fase da vida, do estilo pessoal, enfim... Outro dia mesmo acabamos uma aula com uma das alunas chorando por causa da música. Em nossos encontros temos de tudo, especialmente muito riso...Esse que é um dos maiores remédios para a alma humana!

Adoro as saias longas que nos deixam femininas e elegantes, gosto dos xales coloridos tão folclóricos, adoro o ecoar dos taque-taques dos sapatos e das castanholas, adoro a dramaticidade das guitarras e a expressão do rosto de todas durante as aulas, adoro o fato de ser uma dança que traz uma sensualidade sem vulgaridade e também de ter tido coragem de fazer isso por mim nessa fase da minha vida em que tenho tanto para descobrir sobre mim mesma...Parece que no fim, não serei nem tão italiana, nem tão libanesa, muito menos brasileira, estou é por escolher a mandona e divertida espanhola, essa mulher intensa, muito emotiva, muito resistente, talvez um pouco exagerada, mas certamente nunca monótona...rs...

Como disse para minha amiga: Flamenco é assunto para muitos anos, mas eu chego lá!