A pele que habito

A pele que habito

sábado, 13 de novembro de 2010

Budismo e Eclesiastes

Em primeiro lugar é bom esclarecer que não deixei de ser cristã, pelo contrário, ando mais cristã do que nunca, mas do cristianismo puro e simples, sem placas, denominações, políticas ou interesses escusos. Sou cristã do ensinamento de Jesus Cristo que se resume a: Amar (e buscar) a Deus acima de todas as coisas e amar o próximo como a mim mesma (esse mandamento parece simples mas envolve um sem fim de complexidades).

Não sou uma pessoa religiosa, não no sentido vivido e pregado pelos religiosos, não estou muito preocupada com o que virá depois da morte, nem com as regras de conduta estabelecidas em cada credo ou mesmo com as formas de culto ostentadas por cada um. Por outro lado desde bem pequena tenho dentro de mim essa anseio pelo transcendente, essa vontade de atravessar o rio e descobrir o que existe do outro lado, de falar com Deus e ouvir Seus mistérios, de estar com Ele, senti-Lo, amá-Lo e servi-Lo. Sei que quando fechar os olhos aqui, vai ser nos braços dEle que vou abri-los de novo, lá estarei livre das limitações desse corpo, dessa vida, da mortalidade e então vou realizar esse desejo que me inspira todos os dias nessa vida.

Sendo assim, nessa busca infinita pelo sagrado, fui estudar outras religiões para entender o que existe nelas que tem coerência com o que sinto, com o que aprendi com as idéias de Jesus e tudo que possa contribuir para um maior entendimento do que eu sou e de qual o meu papel neste mundo.

Como vivo sonhando com a Índia e com a China, dei um pulo nas religiões orientais. Do Hinduísmo fica a impressão de um sem número de boas histórias, a relação mais complicada do mundo entre homens e deuses (mais de um milhão), muita cor, muitos ritos coloridos e perfumados, muito injustiça divina naquela história das castas e a descoberta de que para os Hindus a reencarnação é uma espécie de inferno – o que é muito coerente com meu sentimento de não desejar reencarnar nunca...rs..

Já no budismo, coisas boas surgiram, e quero compartilhar.

Sidharta nunca quis ser Deus de coisa alguma, ele foi um príncipe super protegido, criado num mar de favores, luxo e prazer (tipo a Paris Hilton, que quando criança achava que todo mundo morava em mansões) e quando adulto, ao deparar-se com a miséria do mundo, em vez de virar “socialite-drogada-prostituída”, decidiu voltar-se para o sagrado e buscar nele respostas para seus dilemas. Tornou-se um asceta absoluto, com todas as regras, jejuns e sacrifícios possíveis no sentido de livrar-se do que poderia atrapalhá-lo de encontrar o divino.

Após muita reflexão e dedicação, deu-se conta de que o caminho para Deus, não é o extremo, mas o equilíbrio, o caminho do meio, o caminho da moderação. Somos humanos, logo não precisamos abrir mão da humanidade para estarmos próximos do sagrado, por outro lado, não podemos nos desumanizar, abrindo mão da razão, do entendimento, da lógica e da responsabilidade.

Como leitora assídua do Eclesiastes,( meu livro favorito na Bíblia depois do evangelho de João), não posso deixar de pensar nas semelhanças entre a filosofia budista e a eclesiástica.

Buda nos coloca algumas questões básicas: A existência do sofrimento (todas as coisas são impermanentes e desejamos que sejam eternas, por isso sofremos), e o Eclesiastes diz que Deus colocou a eternidade no coração do homem, logo sofremos por termos que viver com a instabilidade do mundo mortal. Para os budistas o sofrimento é causado pelo desejo. Desejo este, muitas vezes, expressado como um engano agarrado a um certo sentimento de existência, a individualidade, ou mesmo voltado para coisas ou fenômenos que consideramos causadores da felicidade e da infelicidade (imaginem o sofrimento da humanidade numa geração dominada pelos desejos de consumo exacerbado como vivemos hoje em dia). o sofrimento acaba quando termina o desejo. Isso é conseguido através da eliminação da ilusão (em sânscrito Maya), assim alcançamos um estado de libertação e de iluminação, esse estado é conquistado através da busca pelo Caminho do Meio, ou seja, do caminho do equilíbrio e da moderação.

Interessante que também em todo livro de Eclesiastes a mensagem é muito parecida, ele diz ao jovem para ir adiante, viver sua vida e gozar dos prazeres dessa terra, sem esquecer por outro lado que de tudo prestaremos conta, e para o pregador essa prestação de contas é muito mais no estilo “aqui se faz, aqui se paga” do que na eternidade, porque sofremos já aqui pelas conseqüências de nossas escolhas. Da mesma forma, Eclesiastes fala do vazio existencial e da busca frenética e inútil pela realização dos nossos desejos e nos aconselha a estabelecer um padrão mais alto para nossa existência, um sentido mais nobre, um significado real.

Ou seja, pessoal, ainda tenho muito o que estudar sobre o assunto, mas de tudo o que já pude compreender em meus 34 anos de cristianismo e leituras diversas todo o oriente milenar (seja ele judaico, cristão ou budista), com sua múltipla experiência em assuntos do sagrado e da vida em si, nos inspira a que tenhamos uma vida equilibrada e feliz. E, sendo assim, sigo acreditando que essa vida equilibrada e feliz se baseia em: fé em Deus, amor pelos semelhantes, busca pelo conhecimento e simplicidade.

Um símbolo disso tudo muito difundido pelos budistas é a Flor de Lótus, uma espécie de Vitória Régia oriental, cujas sementes germinam na lama e precisam atravessar toda a água para florescer na superície. Este processo de desenvolvimento e superação ilustra nossa jornada rumo ao divino, ao desenvolvimento espiritual que nos faz pessoas melhores, mais evoluídas, mais próximas da perfeição. Isso no cristianismo é chamado de processo de santificação e começa no momento em que você decide começar a buscar verdadeiramente a Deus em sua vida. Adorei a flor de lótus, decidi tatuá-la, escolhi a cor azul pois simboliza o desenvolvimento espiritual através da busca do conhecimento, este que sempre foi meu meio favorito de encontrar com Deus!

3 comentários:

  1. É um post antigo seu, certo? mas eu achei ele pelo google. Eu estou pesquisando esta mesma similaridade que você percebeu entre o Eclesiastes e o Budismo. Quando o sábio diz que tudo é ilusão, não é possível pensarmos no conceito do vazio do Budismo, Shuniata? Não o vazio do nada, mas o vazio da não existência intrínsica dos fenômenos que leva a todos a pensar que as coisas são realmente mais "existentes" do que realmente são e a darmos mais valor a elas do que deveriamos e assim caimos na ilusão. Tudo é ilusão!!. A conclusão que eu venho chegando é que a verdade é uma só. Existe uma verdade. Mas não podemos a conceber com as nossas mentes de "bestas feras". Só alguns mestres conseguem vislumbrar fragmentos desta verdade e nos mostram que esta verdade esta por aí. E para mim esta verdade tem um nome. Deus. É assim que eu resolvi chama-la. Bem já viajei um pouco na maionese. Só queria dar este alô para você. Um abraço e vamos novamente em busca de mais fragmentos da verdade!

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    1. Eu adorei a sua viajada na maionese...rsrs..Adorei o alô também! Tbém acho que existe uma verdade e acho Deus um bom nome pra ela. Escreva qdo quiser e boa sorte nas suas buscas.

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  2. Talvez o conteúdo de Eclesiastes seja realmente budista. A antiguidade era também bastante intercambista: monges budistas chineses viveram pela Grécia e o Japão costumava se relacionar com o império onde hoje é o atual Líbano, tudo isso segundo estudos da filologia e historiografia.

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