A pele que habito

A pele que habito

domingo, 22 de novembro de 2009

Holding

Um grande consenso entre todos os terapeutas de crianças, sejam eles psicanalistas, cognitivistas, humanistas ou de qualquer outra linha de pensamento, é a importância de uma BASE SEGURA no princípio da vida.

Essa base seria oferecida pelo que Winnicott chamou de “mãe suficientemente boa”, o que viria a ser pais ou adultos realmente preocupados em cuidar, acolher e permitir o real desenvolvimento das crianças pelas quais se responsabilizaram. O mais bonito desse conceito é o fato de não recomendar pais perfeitos e super-protetores, mas pais SUFICIENTEMENTE bons, pais que amam, cuidam, estão presentes e que falham de vez em quando, para que a criança possa adquirir aos poucos iniciativa e independência.

Minha mãe conta que na primeira vez em que fui para a escola (lá pelos 3 anos), não chorei, abanei a mãozinha e segui em frente arrastando uma lancheira maior que eu, enquanto ela ao me ver seguindo em frente ficou chorando atrás...rs...Coisas de Danielli, provavelmente eu devia estar apavorada, mas nunca daria o braço a torcer!!

Essa BASE SEGURA seria um ambiente confiável, estável, verdadeiro, onde existem amor e interesse genuínos, dedicação e momentos bons. Dessa experiência positiva adquirimos a confiança necessária para seguir em nosso desenvolvimento nos arriscando em novas experiências, novos lugares, novos aprendizados. Através desse primeiro período saudável formamos uma estrutura egóica forte o suficiente para suportar as intempéries que certamente virão na vida sem nos destruir.

O que dizer então daqueles que nunca tiveram uma BASE SEGURA? Situação essa cada vez mais a regra e cada vez menos a exceção em nossos dias. Sem falar nos extremos (transtornos de conduta, sociopatas, drogadictos, borderlines e tantos outros quadros...), e nos atendo ao que se vê na esfera da normalidade, (entendendo aqui normalidade como adaptação ao meio social) encontramos adultos sofridos, cansados, envelhecidos precocemente, desiludidos, desgastados de tanto buscar na vida aquilo que foi negado na infância e sem a qual não conseguimos seguir em frente: uma base segura.

Na real, nem é tão impossível assim se conquistar isso, bastaria investir em relações saudáveis com pessoas e coisas que nos fazem bem...Naturalmente, essa falha inicial sempre nos machucará um pouco, mas essas “experiências emocionais corretivas” com bons relacionamentos – e aqui não dá para não lembrar do Dr. House e do papel que o Wilson, a Cuddy e o hospital tem na vida dele...rs...- podem aos poucos ir nos preenchendo e suprindo essa necessidade de Holding (na psicanálise é sinônimo de acolhimento, o que o terapeuta deve poder nos dar durante o tratamento) que sempre temos e teremos. Então por que não conseguimos?

Porque nossa matriz de relação amorosa é defeituosa!

Se nossa base inicial foi abusiva, descuidada, agressiva e pouco amorosa é isso que vamos buscar como objeto de amor, é um ciclo neurótico clássico, mais ou menos como um vício, uma obsessão, um verdadeiro radar de destruição! Isso vai acontecer seguidamente até que se compreenda isso e se comece, por iniciativa própria a alterar esse padrão.

Quantas vezes na vida você estragou algo que era bom para você? Quantas vezes se auto-boicotou sem nem aos menos entender o porquê?

Hábitos destrutivos, não cuidar de si próprio, insistir em relações doentias que te fazem sentir uma bosta, tudo isso com uma máscara de cinismo tosca e rachada (sim, porque todo mundo percebe que é falsa) e um sorriso de teimosia tola nos lábios.

Matriz defeituosa!

A boa notícia é que temos escolha SIM.

O início é absolutamente assustador, principalmente porque ter uma base segura nos é desconhecido e no mundo das neuroses é melhor passar a vida inteira num calabouço conhecido, do que sair pela porta e arriscar algo diferente...

Ironicamente ao fugir das mudanças perpetuamos aquilo de que mais temos medo. Se desejamos ardentemente ser amados, nos condenamos ao ostracismo e a uma vida sem relações reais e sem amor, por medo de arriscar, por carregar eternamente a culpa das coisas que destruímos devido aos modelos ruins que nos regiam, não nos perdoamos, não tentamos outra vez, apenas não nos permitimos! Se desejamos ardentemente desenvolver nossos potenciais mais importantes, nos recolhemos na mediocridade e passamos a vida invejando o que outros conseguiram porque não tiveram medo de arriscar, e aí damos a desculpa de que não temos talentos (nos olhando talvez com os olhos baços daqueles que nos negaram uma base segura).

Esse texto não é sobre culpar aqueles que nos negaram o que precisávamos, até porque isso é inútil, é correr atrás do vento com o coração cheio de amargura! Esse texto é sobre assumir a responsabilidade real sobre a nossa vida, aproveitar os sinais que Deus nos dá todos os dias, tomar a iniciativa, fazer escolhas, boas escolhas para as nossas vidas...LUTAR PELAS COISAS QUE QUEREMOS E QUE SABEMOS QUE SERÃO BOAS PARA NÓS...É sobre parar de ser covarde e perder os melhores anos das nossas vidas em idiotices infantis, dando desculpas esfarrapadas para não ter uma vida, chafurdando nesse mal transgeracional que temos o poder (na graça de Deus) de romper!

Meu desejo para mim e para você é uma quebra total com tudo de ruim que já aconteceu no passado, uma decisão profunda e intensa de mudar a direção das coisas, de tomar posse daquilo que Deus nos oferece com todo o amor dEle – UMA VIDA COM SENTIDO cheia do HOLDING que Ele pode oferecer melhor do que qualquer outra pessoa e então, SEM COVARDIAS! As coisas nunca serão fáceis nesse mundo caído, mas podemos viver sem essa nuvem cinza de incompletude e de fracasso que paira nas nossas cabeças todos os dias.

Existe possibilidade de escolha!

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