"...a miséria amorosa é indissolúvel; é aguentar ou largar: administrar é impossível (o amor não é dialético ou reformista)."
Roland Barthes - Fragmentos de um discurso amoroso
Roland Barthes - Fragmentos de um discurso amoroso
Cerca de dois anos atrás, sabe-se lá Deus por qual motivo, recebi um e-mail de uma página considerada ‘feminazi’, me conclamando ao ‘Lesbianismo Político’. Segundo suas promulgadoras, muito mais do uma questão de orientação sexual, isso seria uma espécie de processo de compreensão das diversas formas pelas quais as mulheres (no e-mail chamadas de irmãs) foram prejudicadas pelo sistema ‘hetero-patriarcal’, que iria aos poucos conscientizando suas adeptas da necessidade e do dever de buscar a libertação deste sistema opressivo, para a maioria através de uma reorientação dos afetos e da sexualidade, já que a sexualidade, nessa concepção, é uma construção social. De modo que, segundo essa linha, as mulheres podem e devem amar mulheres como resultado de seu feminismo.
A frase mote
do texto: “A opressão das mulheres é a única opressão onde os oprimidos são
forçados a viverem intimamente com o opressor”, sem dúvida impactante, parece
desconsiderar o fato de que mulheres heterossexuais, a menos que estejam em
cárcere privado, geralmente se mantém numa relação íntima com um homem por
livre vontade. Relacionamentos abusivos, DRs desgastantes, abandonos, términos,
dramas e demais insalubridades amorosas, não são exclusividades desta ou
daquela orientação sexual.
Dando uma
pesquisada para escrever este texto, descobri outro site (se alguém quiser o
link, peça) que parece estar defendendo o ‘Lesbianismo Político’ das críticas
das chamadas ‘lésbicas autênticas’ que, acertadamente, questionam o fato de que
ninguém escolhe sua orientação sexual. Como opção, sugerem que as mulheres que
não se sentem atraídas por mulheres sejam encorajadas a tornarem-se
celibatárias, canalizando seu desejo sexual para uma construção social, algo
muito superior e mais sofisticado. “Ser lésbica é uma construção social de
intimidade, comunidade e cultura. Normalmente, inicialmente, é preciso uma expressão
sexual, mas nem sempre isso dura por tanto tempo, para muitas lésbicas.” Dizem
isso com base na premissa de que idosos não fazem sexo.
(Em que mundo essa gente vive? ...rs..)
Lembro que
respondi ao e-mail com uma única frase: Não
considero a sexualidade uma questão política! Nunca me responderam. Aos que
reduzem a discussão dizendo que ‘tudo é política’, só digo, bem freudianamente,
que se tudo é política, nada é política.
Lembro também de dar boas risadas, me imaginando
nua na cama com algum cara, de óculos, com uma caderneta na mão, fazendo uma
lista das posições politicamente aceitáveis, para ambos assinarem, antes da
coisa começar. Ah, sim, porque no e-mail também tinha uma lista de posições
sexuais consideradas opressoras - Até a inofensiva (e para alguns, improdutiva)
posição missionária parece ter alto teor de repressão da expressividade
feminina, talvez se o sujeito for muito pesado, né? Sei lá...
De todas
essas discussões sobre comportamento sexual dos últimos tempos, seja nos
círculos privados, seja nos religiosos, nos culturais ou na mídia, o que mais
me incomoda (tem se tornado real asco) é essa necessidade absurda de controlar o
que o outro faz em suas escolhas íntimas. O tal do ‘você tem que fazer’ isso ou
aquilo é o que de mais opressor herdamos de nosso suposto passado
obscurantista. Como alguém pode sugerir que em prol de uma ‘liberdade sexual’,
uma mulher que gosta de homens, deva se ‘conscientizar’ e abrir mão de sua
natureza para destruir um sistema tido como opressor e realizar uma construção
social mais adequada. (Alguém lembrou do 1984? Eu lembrei...) Qual é a
diferença entre essa sugestão e uma reorientação sexual para gays? Em se
tratando de sexo, NINGUÉM TEM QUE FAZER NADA que não queira, que não deseje,
que não esteja em consonância com suas escolhas, vontades, necessidades, concepções
e princípios. Exigir que o outro seja numa área de tamanha singularidade e
intimidade, como é a nossa sexualidade, algo que ele não é e não quer ser, é uma das atitude mais opressivas e repressivas
da expressão individual que se tem notícia.
Obviamente
acho válida qualquer discussão que coloque em cheque abusos de toda ordem.
Estupro é crime e tem sido uma forma covarde e aterrorizante de destruir a vida
de mulheres, de crianças (e também de homens) desde que o mundo é mundo. Obviamente
também, o assédio sexual em ambientes de trabalho existe desde que a mulherada
foi para a roça e nem é prerrogativa do mundo artístico, já vi isso muito em
mundo corporativo, vejo no mundo acadêmico, no mundo religioso e até em escola
infantil. Mas na real? Vejo de todos os lados. Qual é a diferença entre o(a)
chefe que usa de seu poder para intimidar, prometendo benefícios ou ameaçando
prejuízos, em troca de favores sexuais,
e a(o) subordinada(o) que oferece
tais favores (muitas vezes de forma ostensiva e agressiva) com o objetivo de
garantir benefícios ou afastar prejuízos? Quanta gente sem talento não está na
telinha ou em cargos importantes (e bem remunerados) porque dormiu com esse ou
aquele líder/ produtor/ diretor? Veja, aqui não defendo ninguém! Em minha
opinião, o oportunismo é generalizado e sempre desprezível! Talvez eu já tenha
perdido oportunidades profissionais por não ter topado sentar no colo de alguém,
mas nunca saberei disso ao certo, porque pelo código de conduta pelo qual eu
escolhi viver, essa possibilidade nem seria considerada! Escolhas, meus caros, nós
somos as escolhas que fazemos.
Gostei muito
do texto das mulheres francesas! Acho a Catherine Deneuve um espanto em todos
os aspectos e acho o texto bom, lúcido e realista. Acho também que só mulheres heterossexuais
compreenderão aquele texto. Mulheres que gostam de homens e não pretendem
namorar caras que de tão emasculados pelos manuais do politicamente correto,
acabam mais parecidos com nossas melhores amigas que com nossos objetos de
desejo. Sei que nossas melhores amigas são pessoais queridas, mas no mundo ‘hetero’
a gente não sonha levá-las para a cama. Acho também triste que tenhamos chegado
ao ponto de ter que escrever e ler textos desse tipo. Nunca estivemos tão mal
preparados para as relações amorosas! Galera critica tanto a era vitoriana, mas
naquele tempo, pelo menos, você sabia o que esperar e como agir. Todos iam para
o baile, se o sujeito estivesse interessado tomava a iniciativa de chamá-la
para dançar, se você gostasse, aceitava outras danças e assim a coisa fluía.
Hoje em dia, a complicação é tamanha, que você sequer sabe onde e quando será o
baile, se o sujeito terá coragem para te chamar para dançar, ou se você terá
que chamá-lo (o que é sempre um desalento), ou se ele entendeu que você gosta
dele porque dançou de novo, na verdade ninguém sabe mais nem se dançar
significa alguma coisa...rs...Perdemos demais quando paramos de cortejar e de aceitar
ser cortejadas! Perdemos nossas referências, muitas possibilidades e nossa
capacidade de autovalorização. Sem perder tempo falando de amor, essa palavra nunca
antes tão incômoda, a verdade é que hoje a nossa etiqueta sexual se resume a ‘nudes’
no celular, pornografia e manuais técnicos de um sexo asséptico que jamais
terão a beleza das 1001 noites ou o erotismo de um Kamasutra ou de um Cântico dos Cânticos. O sexo virou algo
completamente estrangeiro, externo a nós mesmos e a qualquer vínculo com o
outro. Ironicamente, e por causa disso, a era da ‘liberdade sexual’ vai se
tornando a época mais assexual da humanidade.
Dica de ‘loba
solitária, velha de guerra’:
Um orgasmo não vale o seu
respeito próprio! Nunca valeu e nunca valerá.
Uma das
coisas que mais me aborrece nos argumentos do feminismo pós-moderno é a hipocrisia.
Acho no mínimo irônico, mulheres se ofenderem com cantadas ruidosas, approach agressivo e insistência (e sim,
às vezes inconveniência) deselegante, quando consideram muito adequado e
liberado stalkear caras pela
internet, insistir com eles até a exaustão, aparecer peladas na porta de um
sujeito que nem está interessado e depois sair chamando o mesmo de gay, caso
ele tenha conseguido presença de espírito suficiente para dizer não. Acho no
mínimo irônico, conclamarem a irmandade feminina contra o patriarcado e depois
dar em cima de homem casado, destruir família alheia, beijar namorado de amiga,
pegar noivo da irmã, tudo em nome da ‘liberdade sexual’ e do ‘direito de ser
feliz’. Acho no mínimo irônico, apelar para lei ‘Maria da Penha’ e querer o
escalpo dos caras violentos, mas seguir voltando para o ‘cafajestão-filho-da-puta’,
que mete a mão na cara sempre que pode e que tem o dom de fazer qualquer uma se
sentir um lixo, só porque o cara é supostamente bom de cama e a autoestima da
mulherada é baixa (Vá se tratar, nega!). Acho no mínimo irônico, criticar o comportamento
(nada honorável) dos ‘galinhas’ que usam toda a energia possível na conquista e
que depois não se dão ao trabalho sequer de dar um telefonema reconhecendo sua
existência e se despedindo, mas ter nos seus contatos uma listinha de ‘manwhore[1]’
para aqueles momentos inquietantes do período fértil, pior ainda as que usam
caras que declaradamente estão apaixonados por elas, estas verdadeiras megeras.
Poderia ficar aqui trazendo à tona mil outras coisas que acho, no mínimo,
irônicas, mas acho que já me fiz compreendida. O fato é que nossa vida sexual
está mais banalizada que uma coçada de nariz e a pouca mística que sobrou dela,
estamos gastando com discussões políticas vazias e movimentos ‘pseudo-feministas’.
Voltando ao
título, recomendo as mulheres italianas por vários motivos, aqui vão alguns:
Para começar elas seguem donas dos homens mais bonitos e mais paqueradores da
Terra e seguem sem concorrência à altura...Quando digo donas, quero dizer ‘
donas’ mesmo. São donas da casa e da vida do marido e da família, sem
melindres, omissões, concessões ou covardias. Minha nonna manda na família inteira
até hoje, mesmo com 86 anos e do alto de seu 1,40 m. Mulher italiana não leva
desaforo para casa e também não aceita ‘chifres’. Se o sujeito ‘pula a cerca’
vai ficar sozinho e com a conta bancária depenada (se ela além de italiana, for
esperta.....) para aprender a cumprir votos e manter a braguilha fechada fora
de casa. Se não gosta da abordagem de um sujeito na rua, mete logo um tapa na
cara e sai andando, se gosta, assume e não se faz de rogada (com italiana não
tem biquinho...). Italianas também tendem a ser lindas, criativas, engraçadas,
talentosas, apaixonadas,, geralmente, sabem cozinhar e eu ia dizer que não costumam levar sexo para as urnas, mas lembrei da Cicciolina deputada...kkkkk...
Lembro do
meu nonno me dizendo, para horror da minha mãe, lá pelos meus 7 ou 8 anos, que meninos podiam
ser folgados e que se eu não gostasse de alguma coisa devia meter logo um soco
ou um chute ‘naquele lugar’. O conselho me foi bastante útil aos 11 anos,
quando na perua escolar, um idiota da sétima série começou a desenvolver o
desagradável hábito de bolinar meninas. Eu era pequena, uma das primeiras da
fila do recreio e jamais tinha sido sequer chamada na diretoria, mas quando a
ocasião surgiu, simplesmente fechei o punho e lhe quebrei o nariz. Obviamente,
se estivéssemos num outro lugar e sozinhos, eu podia ter levado a pior, ele era
muito mais alto, era mais velho e mais forte, mas o fato é que nunca mais ele
sequer ousou voltar a falar comigo na escola.
Em ‘Psicologia
Criminal’ existe uma linha de pesquisa chamada ‘Vitimologia’, nela se estuda
entre outras coisas, o motivo pelo qual algumas pessoas são escolhidas para
serem atacadas, enquanto outras, com o mesmo perfil, não são. Uma das respostas
encontradas diz respeito a um tipo de ‘comportamento de vítima’ bastante
específico e que tem a ver com uma percepção de si fragilizada, um jeito de
andar e agir inseguro e receoso e uma expressão de confusão ou de estar
perdido. Deste modo, me parece que muito mais importante do que destacar o
quanto podemos ser agredidas (e de fato podemos), é o perceber o quanto somos
capazes de nos defender. O verdadeiro ‘Girl Power’ tem muito mais a ver
com desenvolver nossos potenciais e acreditar em nossas capacidades do que com
diminuir ou criminalizar comportamentos masculinos.
E, caso
vocês não saibam, homens e mulheres podem de fato se descobrir, se apaixonar e
se amar em ambientes de trabalho. Em alguns casos, exatamente por estar em um
ambiente de trabalho. Uma vez um homem mais velho, casado há muito, me disse
que o que faz duas pessoas se encantarem, e se manterem encantados um com o
outro, são os projetos que criam e desenvolvem juntos. No fundo o que todos
procuramos é o parceiro ideal de jornada! Tudo ficou tão raso e tão
imediatista, tudo ficou tão desesperançado, que nos fazem acreditar que amor é
questão de performance e de mercado, mas nada disso é verdade. Amor tem a ver
com a possibilidade de criar vida (no sentido denotativo e no metafórico). E
essa capacidade não aparece em qualquer relacionamento ou com qualquer pessoa.
Tem gente, aliás, que só chega para destruir tudo o que é vivo dentro da
gente.
Sophia Loren, uma italiana estelar, relata em sua autobiografia ‘Ontem,
hoje e amanhã’ que conheceu o amor de sua vida, Carlo Ponti, aos 17 anos, quando este tinha 39 anos e ainda era
casado, logo não disponível. Carlo era muito mais baixo que ela e não muito
bonito, mas era um homem talentosíssimo, inteligente, interessante, protetor e
carismático. Trabalharam juntos por muito tempo, ele se tornou seu mentor e melhor
amigo e depois de muitos anos de uma carreira brilhante, muitos sucessos
compartilhados e numa realidade de vida mais propícia, ambos admitiram o óbvio
e se casaram.
“Não
importa para onde olhe - os olhos dos meus filhos, as fotos espalhadas pela
casa, as mil coisas acumuladas no curso de nossa vida - posso vê-lo diante de
mim, sorridente e seguro. Mesmo agora que não está mais aqui, ele mora nos meus
pensamentos e inspira meus projetos. Minha história - pessoal, profissional e,
sobretudo, familiar - gira em torno do meu encontro com Carlo. Desde aquele
momento, foi sempre um longo, longuíssimo começo que vivemos juntos, sem nos
separarmos jamais.” (p.53)
Encerro com
a reflexão filosófica de Camille Paglia, essa mulher que não é propriamente
italiana, embora seu sobrenome entregue alguma ascendência, numa citação mais
longa e um pouquinho mais complexa, mas que revela uma percepção brilhante e
inspiradora sobre nossas diferenças sexuais:
“O homem é sexualmente
compartimentado. Genitalmente, está condenado a um perpétuo modelo de
linearidade, foco, mira e pontaria. Tem de aprender a mirar, a urina e a
ejaculação acabam num emporcalhamento infantil de si mesmo ou do ambiente. O
erotismo da mulher é difundido por todo o corpo. Seu desejo de carícias
preliminares continua sendo uma área de má comunicação entre os sexos. A
concentração genital do homem é uma redução, mas também uma intensificação. Ele
é vítima de indomáveis altos e baixos. A sexualidade masculina é inerentemente
maníaco-depressiva. O estrogênio tranquiliza, o androgênio excita. Os homens
vivem em constante estado de ansiedade sexual, pisando nas brasas de seus hormônios.
No sexo, como na vida, são impelidos para mais adiante - adiante do ego,
adiante corpo. Essa regra se aplica até no ventre. Todo feto torna-se fêmea se
não estiver mergulhado em hormônio masculino, produzido por um sinal dos
testículos. Antes do nascimento, portanto, o macho já está adiante da fêmea. Mas
estar adiante é estar exilado do centro da vida. Os homens sabem que são
exilados sexuais. Vagam pela terra em busca de satisfação. Não há nada nesse
movimento angustiado que a mulher possa invejar.
A metáfora genital do
homem é concentração e projeção. A natureza dá-lhe concentração para ajuda-lo a
vencer seu medo. O homem aborda a mulher em explosões de espasmódica
concentração. Isso lhe dá a ilusão de controle temporário dos mistérios arquetípicos
que o produziram. Dá-lhe a coragem de voltar. O sexo é metafísico para o homem
de um modo que não é para a mulher. As mulheres não têm problemas a resolver
pelo sexo. No físico e no psicológico, são serenamente auto-suficientes. Talvez
prefiram realizar, mas não precisam. Não são empurradas para mais adiante por
seus corpos refratários. Mas os homens estão em desequilíbrio. Têm de buscar,
perseguir, cortejar ou tomar. Pombos no gramado, infelizmente...(...) Nenhuma
mulher tem de provar-se mulher do modo cruel como o homem tem de provar-se
homem. Ele tem de atuar, senão o espetáculo não continua. A convenção social é
irrelevante. Um fracasso é um fracasso. De qualquer modo, e ironicamente, o
êxito sexual sempre acaba em frouxidão. Toda projeção masculina é transitória,
e tem de ser renovada ansiosamente, eternamente. Os homens entram em triunfo, mas
saem em decrepitude.” (Personas Sexuais - p.29 e 30)
Em outro
momento, Camille recomenda que sejamos mais maternais e mais misericordiosas com
nossos homens, acho que dependendo do homem, ela tem muita razão. Meu psicoterapeuta, homem de 76 anos, uns 30 só de clínica, casado e já avô, diz que as
mulheres são mais evoluídas em tudo. Talvez nem todas sejam, mas as que são,
pelo bem da humanidade, precisam urgentemente começar a agir como tal.
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