De acordo com a Wikipédia,
a nova autoridade absoluta em conhecimento para a maioria da população, a
definição de diálogo é essa:
Diálogo (em grego antigo: διάλογος diálogos[1]) é a conversação
entre duas ou mais pessoas. Muitos acreditam erroneamente que "di"
significaria "dois", e portanto a palavra se limitaria à conversa
entre duas pessoas. No entanto, a palavra, que vem do grego, é formada pelo
prefixo dia-, que significa "por intermédio de", e por logos, que
significa "palavra". Ou seja, "por meio da palavra",
designando "conversa" ou "conversação".[2] Embora se
desenvolva a partir de pontos de vista diferentes, o verdadeiro diálogo supõe
um clima de boa vontade e compreensão recíproca.[3] Como um
gênero, os diálogos mais antigos remontam no Oriente
Médio e Ásia ao ano de 1433 no Japão, disputas sumérias preservadas
em cópias a partir do final do terceiro milênio a.C.[4]
Definição mais
superficial, só se a gente perguntar para uma criança de 6 anos. Inclusive, se
ela for inteligente, pode se sair com ideias mais úteis.
Essa palavra ‘conversação’
me remete a um filme antigo, dirigido por Francis Ford Copolla antes de eu
nascer, que protagonizado por Gene Hackman, narra a história de uma espécie de
detetive, contratado para espionar as conversas de um casal de amantes, lidando
com um conflito ético em torno das consequências desse seu trabalho e com culpas
passadas. O enredo do filme, feito no auge da Guerra Fria, se insere na lógica
conspiratória que, na atualidade, novamente toma o horizonte do mundo,
indicando que nada mais é o que parece, que as lutas de poder na verdade são
sempre mais ocultas e mais misteriosas do que percebem as pessoas comuns, a
desinformação definindo as relações, as sucessões no poder e pervertendo
verdades fundamentais como a liberdade, a democracia, a justiça e até a
condição humana. Vale a pena assistir ou re-assistir, já que nunca me pareceu
tão atual.
Os jogos de poder que
vemos todos os dias diante dos nossos olhos, recheados de intrigas e mentiras,
de narrativas ilusórias ou mal interpretadas que têm a explícita intenção de
nos distrair, a utilização espúria de uma mídia, na maior parte vendida, e a hipocrisia
daqueles que pregam o diálogo (sempre unilateral, entre seus próprios pares,
com a intenção nunca de gerar discussões verdadeiras, mas de retroalimentar essa
ou aquela trama ideológica), unidos a uma população, na maioria muito ignorante
(por opção, já que a preguiça e o vício em entretenimento vazio impera na vida
de muitos, ou por condição, já que nada tem sido feito em prol de uma redução
séria da desigualdade social e de uma distribuição justa de oportunidades), vêm
construindo uma onda de caos social, político e existencial cuja consequência
óbvia será a morte de todos os maiores e melhores ideais humanos e a instalação
de algum tipo de governo autoritário, que seja de uma orientação mais à
esquerda ou mais à direita, será o marco definitivo do extermínio da liberdade
individual e do conceito que temos de indivíduo e de sujeito.
E ao incauto advirto: Não
há, no Brasil, diferença prática entre radicais de esquerda e de direita.
Aliás, não há diferença prática entre radicais de coisa alguma. O mote primeiro
na vida de um radical é o desprezo e o desrespeito absoluto pela escolha do
outro, quando difere da sua. Quando eu desprezo e desrespeito a escolha do
outro, porque é diferente da minha, quando eu corto relações reais com ele, a
ponto de não mais vê-lo como um outro ser humano, segue-se a um assassinato
simbólico que, em muitos dos casos, acaba virando assassinato real. Haja visto
os milhões de pessoas mortas na História por conta de divergências ideológicas.
Num contexto como este, onde
ninguém é capaz de confiar em ninguém, onde ninguém se mostra confiável, onde cada
palavra é arma de denúncia ou de puro convencimento, como compreender e exercer
a ideia de diálogo? Como ter coragem para dizer o que se pensa e acredita? A
quem levar nossas dúvidas?
Falemos agora do nosso
microcosmo pessoal, trazendo o tema para a experiência prática de cada um, para
nossas vidas pequenas e nosso rol de relações diretas:
Nunca antes tivemos
pessoas menos aptas a ouvir e mais ansiosas por falar. Nunca antes tivemos mais
mestres (sem conteúdo, mas sem crítica quanto a isso) e menos discípulos. Nunca
antes tivemos mais pressa e caminhamos tão pouco. Nunca antes conhecemos tanta
gente e fomos conhecidos por quase ninguém (de verdade).
Quanto amigos você já
perdeu por dizer o que você realmente pensava e sentia?
Quantas pessoas você ‘cancelou’
por dizerem o que realmente pensavam ou diziam?
Quantas conversas vazias
de significado, mas cheias de clichés ideológicos você já teve ou presenciou?
Você ainda sabe opinar
sobre alguma coisa sem ler ‘manuais’ antes?
De quanto de sua
identidade você teve que abrir mão para se inserir no chamado ‘coletivo’? Essa
espécie de entidade soberana que tem definido desde o estilo do seu cabelo até
quem você pode amar, em alguns casos até o gênero (ou falta de gênero) você
deve assumir para não ser excluído.
Aliás, quanto de exclusão
você teve que adotar na sua vida em prol da inclusão?
Quanto dinheiro você
admite que se roube do país em prol de ‘causas sociais’?
Quanto de floresta você
admite que se queime em prol do ‘crescimento econômico’?
Quanto de desumanização
você admite em prol da luta por ‘direitos humanos’?
Quanto de Cultura e de
Arte você admite destruir em prol dos ditos ‘valores A ou B’?
Quanto de conhecimento
acadêmico ou de talento artístico você admite desqualificar em prol da defesa
deste ou daquele Zé Mané do partido escolhido?
Quanto da sua família
você admite perder em prol da defesa da opinião do fulano, ciclano ou beltrano
que não te botou no mundo, não te criou e nem sabe que você existe?
Quanto de si mesmo você
admite matar em prol do seu ‘coletivo’, ‘irmandade’, ‘turma’, ‘arraial’ou seja
lá que nome você prefira dar?
Já fui muito criticada
pela minha fé cristã.
Recebo reprimendas tanto
dos de fora, que não aceitam minha escolha e questionam até minha inteligência
por causa dela, jamais admitindo que muitas vezes a falta de inteligência pode
ser deles, por não conhecerem nada sobre cristianismo, exceto o que suas
cartilhas ideológicas os ensinaram. Recebo reprimendas também de alguns de
dentro que muitas vezes me consideram aberta demais justamente ao diálogo e ao
convívio com pessoas de outras opiniões.
O grande fato, porém, é
que no cristianismo você só tem um Senhor, um Ser Soberano, perfeito e
realmente superior a você em tudo, infalível, de suprema sabedoria e cujo maior
propósito é seguir te aperfeiçoando a ponto de criar em você uma imagem
perfeita dEle mesmo – Amor puro, Verdade plena, Justiça perfeita, Conhecimento
infinito. Alguém cuja mensagem é de perdão e de aceitação absolutas, de
comunhão plena com meu ser individual e que deseja de mim a melhor versão de
Danielli possível, se relacionando com o sujeito que existe em mim, não o
negando. Essa relação de espiritualidade me torna mais apta ao diálogo com
outras pessoas, não menos, exatamente porque diante da perfeição dEle me vejo
tão imperfeita e tão ignorante quanto qualquer um de meus conterrâneos, de modo
que me torno capaz, verdadeiramente, de ouvi-los, de considerar suas
necessidades e anseios, de realmente me envolver com elas.
Obviamente, como tudo
nesse mundo, o cristianismo também tem se tornado bala de canhão, meio para
fins espúrios, tela de alienação, caminho para a perdição, inclusive para a
alma (vide escândalos de pedofilia, flordelis, catedral do Divino, as Cruzadas,
as lutas entre católicos e protestantes e tantas aberrações pela História...).
Isso sempre acontece quando a luta pelo poder, a doutrinação ideológica e a corrupção
humana (muitas vezes camuflados em discursos convincentes) se sobrepõe à
experiência individual (e no caso, espiritual) real. Tenho visto inúmeros
amigos meus cristãos se perdendo ao querer transformar o Reino de Deus num
reino desse mundo, matando e morrendo por valores ditos cristãos e sendo
presas fáceis de qualquer um que erga uma bandeira ‘cristã’, caindo em todo tipo
de falácias que só visam criar celeiros de eleitores, cegados para as práticas
espúrias (e cada vez mais explícitas) dos políticos...Em tempo, já vi ‘esquerdista’
e ‘direitista’ em missa e em culto, pedindo votos e jurando apoio à igrejas (
apoio que geralmente se traduz em pastor/líder de bolso cheio e banco novo no
templo). #ficaadica
Diálogo significa ouvir e
falar, falar e ouvir, ouvir e falar, falar e ouvir.
Ouvir com paciência,
atenção e prudência. Ouvir com um compromisso real de compreender o ponto de
vista do outro e, inclusive, refletir no quanto ele tem razão. Ser capaz de
admitir a fragilidade de seus próprios argumentos, lembrando que nenhuma
opinião é destituída de fragilidades, por isso o diálogo é importante, porque
juntos sempre somos mais fortes e podemos construir ideias mais plenas e
eficazes.
Falar com propriedade
daquilo que realmente se sabe, estudar antes de opinar seriamente, ler tudo o
que se sabe sobre aquele assunto, levar a sério sua própria palavra, respeitar
a si mesmo colocando-se com convicção sobre coisas sobre as quais realmente se
refletiu. Não banalize suas opiniões. Você é o que você pensa!
Diálogo é exercício de respeito
e exige muita PACIÊNCIA!
Nesse mundo de
aceleração, nade contra a corrente, siga devagar, respeite seu ritmo. A pressa
nos faz cometer erros, fazer as coisas malfeitas, ter atitudes precipitadas, fazer
escolhas ruins e defender opiniões pouco estruturadas. A rapidez nos obriga a
comprar causas que não são nossas, a pressão nos coloca em lugares difíceis de
sair. Nunca aceite uma única versão das histórias, dos fatos, das coisas –
aprenda a ler tudo sobre tudo.
Acima de tudo, cure seus
traumas psicológicos, sua carência afetiva e seu complexo de inferioridade
antes de se entregar a relacionamentos, a causas, a seitas, a ideias. Essas
coisas definem mais suas crenças e lutas do que você imagina.
Lute, resista, espere!
Não se perca!
“...tudo pede um pouco mais
de calma...” Lenine
Excelente artigo Danielle. Triste geração que tem "aquela velha/ou nova opinião formada sobre tudo. Abraços.
ResponderExcluirOpinião 'deformada' por doutrinação ideológica barata e muita arrogância...Geração desperdiçada!
ExcluirGeração Coca-Cola deu lugar à geração Maconha Orgânica e seguimos de mal a pior...
ResponderExcluirDanielli, excelente texto. Penso que precisamos continuamente sermos lembrados do valor do diálogo para construção de nossas relações, de nossa sociedade e de nós mesmos.
ResponderExcluirAdmiro pessoas que tem coragem de se posicionar.Nem todos tem facilidade em se expressar , acho que neste momento o diálogo trava. Respeitar a opinião do outro é uma atitude inteligente. Aprendi muito com Tiago 1, 19. Perfeito é o nosso Deus que nos entende sem julgamentos.
ResponderExcluirDesculpe, não me identifiquei no post anterior. Que tal um café qualquer dia desses, Dani ? Abraço, Débora Malveira
ResponderExcluirClaro, linda! Quando quiser.
ExcluirClaro. Vou adorar um café com vc. Quando quiser é só marcar.
ExcluirGostei Dani. Não devemos julgar ninguém. Que Deus tenha misericórdia de todos nós e que possamos praticar verdadeiramente a empatia que Jesus nos ensinou, sim pois creio nEle, respeito a fé de todos e que possamos ser respeitados também.
ResponderExcluirGostei Dani. Não devemos julgar ninguém. Que Deus tenha misericórdia de todos nós e que possamos praticar verdadeiramente a empatia que Jesus nos ensinou, sim pois creio nEle, respeito a fé de todos e que possamos ser respeitados também.
ResponderExcluirUm texto tão bom de ler e refletir estes tempos, embora saibamos que pouco lerão. E mesmo para quem se dedicar alguns minutos nessa leitura, não basta entendê-lo. É necessário combater o embrutecimento do sensível em nós. E quando apresentamos propostas de levar a boa Literatura,podemos afetar o outro, desbloquear a sua insensibilidade. Eu realmente acredito que essa grande crise cognitiva e da desumanização em curso, pode ser combatida com potência da leitura literária. Uma Literatura para adiar o fim do mundo. Mas não só.
ResponderExcluir